EUA abandonam o uso da classificação de ‘negro’ no censo

Do blog de José Roberto Ferreira Militao, no Portal LN

EUA abandonam o uso da classificação racial de ‘negro’ para descrever os pretos americanos no censo

Há exatos dois anos, em 27/02/2011, publicava aqui um artigo em que denunciava o uso abusivo e de cunho racialista do termo racvial ´negro´ para definir os afro-brasileiros, pretos e pardos. –http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-ovo-da-serpente-da-linguagem-racialista – com um sub-título: ´Se preto é cor: Negro é raça? O que gerou bela polêmica, mais de cem comentários e reflexões de indignados defensores de direitos raciais segregados. Evidente, para o estado entregar direitos raciais ele precisará nos conferir identidades jurídicas raciais, mesmo que seja pelo constrangimento da indução à auto-declaração de um pertencimento racial que não cultuamos.

Então o que dizia é que a designação de pretos e pardos por ´raça negra´ era uma fraude antropológica patrocinada pelo estado, pois alterava pela semântica a voz do grupo objeto, uma vez que os afro-brasileiros resistiram à escravidão e ao racismo sem jamais aderir a uma identidade racial como o da ´raça negra´, aquela que o racismo diz ser a ´raça inferior´. A história consigna milhares de Irmandades e Associações de HOMENS PRETOS,  HOMENS PARDOS e de PRETOS NOVOS. As terras quilombolas ainda são conhecidas em suas milhares de ocupações como ´Terras de Pretos´.  A reverência sempre foi à ´Mãe Preta´, e o respeito à figura simbólica do ´Preto Velho´.

Ha poucos dias, em 14/02/13, na condição de ativista contra o racismo e contra a ´raça´ estatal, em oposição à racialização dos brasileiros patrocinados pelas FOUNDACION´S norte-americanas, foi publicado outro post – http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-patrocinio-da-segregacao-de-direitos-para-odios-raciais – em que ousei deduzir até contra opinião política do autor, que a excelente obra acadêmica de FLORESTAN FERNANDES – especialmente a centrada em ´Raça e Classe´ (1965) nos documentava que os pretos e pardos foram e são vítimas de discriminações em razão de serem portadores da ´cor´ do ex-escravo e não em razão de pertencimento racial, o que, a meu ver, confirma a clássica literatura GILBERTO FREYRE (Casa Grande & Senzala, 1932), de SERGIO BUARQUE (Raízes do Brasil, 1936), ORACY NOGUEIRA (Tanto Preto, Quanto Branco, 1953), DARCI RIBEIRO (1995) e FRANCISCA LUCRÉCIA (2010), em que todos concluíam que, o ´ser nacional´ brasileiro é livre de pertencimento racial, ao contrário do norte-americano, não temos e não cultuamos a prisão perpétua e imutável de pertencimentos raciais.

Por isso, concluiu ORACY em sua tese de doutorado: a nossa discriminação e preconceitos são de ´marca´ (a cor) enquanto nos Estados Unidos é pela ´origem´ (a raça). E o relevante disso é que o estado no Brasil nos últimos dez anos está perseguindo a racialização estatal, visando nos outorgar o pertencimento racial que não temos e que nos diferenciava como vantagem competitiva na formação demográfica em relação aos EUA: a ausência de ódios raciais. Se não temos apegos raciais não há razão para odiar a ´raça´ diferente. Nem há razões para a outorga de direitos em bases raciais visando estimular o pertencimento, conforme diz o relatório do PLC 180/2008 que aprovou a lei de ´Cotas Raciais´.

Agora, subsidiado por estudos acadêmicos e amplo debate político, sob a Presidência de um afro-americano, BARACK OBAMA, vem a notícia extraordinária: Use of ‘Negro’ to describe black Americans dropped in U.S. census surveys – The Associated Press – Published Monday, Feb. 25 2013, 1:25 PM EST –http://www.theglobeandmail.com/news/world/use-of-negro-to-describe-black-am ericans-dropped-in-us-census-surveys/article 9023837/ –  ou seja, significa o estado abandonar a classificação pela ´raça negra´, passando a designá-los pela cor (black) ou pela ancestralidade geográfica (afro-americans).

Ora, se historicamente os brancos são identificados pela cor (white) por qual razão identificar os pretos pela ´raça´. Essa ainda era uma herança do racialismo estatal vigente nos Estados Unidos, herança das leis de segregação racial, e que agora, anuncia-se, será definitivamente abandonada.

Aqui a  íntegra da boa notícia: http://nacaomestica.org/blog4/?p=8720

Do Nação Mestiça

Uso de ‘negro’ para descrever os pretos americanos é abandonado nas pesquisas do censo dos EUA

Depois de mais de um século, o U.S. Census Bureau está abandonando o uso da palavra “negro” para descrever os pretos americanos em pesquisas.

Em vez do termo que entrou em uso durante a época da segregação racial, os formulários do censo vão usar os termos mais modernos “preto” ou “africano-americano”.

A mudança entrará em vigor no próximo ano, quando o Census Bureau distribui sua Pesquisa da Comunidade Americana anual para mais de 3,5 milhões de lares dos EUA, afirmou em uma entrevista Nicholas Jones, chefe da filial de estatísticas raciais da agência.

Ele fez referência a meses de comentários públicos e pesquisa censitária que concluíram que poucos pretos americanos ainda se identificam como negro e  muitos vêem o termo como “ofensivo e ultrapassado”.

“Isto é um reflexo da mudança dos tempos, mudando dos vocabulários e mudança do entendimento do que significa raça neste país”, disse Matthew Snipp, professor de sociologia na Universidade de Stanford, que escreve freqüentemente sobre raça e etnia. “Para os mais jovens africano-americanos, o termo ‘negro’ remonta à época em que africano-americanos eram cidadãos de segunda classe neste país”.

Usado pela primeira vez no censo, em 1900, “negro” se tornou a forma mais comum de se referir a pretos americanos durante a maior parte do início do século XX, durante uma época de desigualdade racial e segregação. “Negro” em si havia tomado o lugar de “de cor”. Começando com o movimento dos direitos civis dos anos 1960, os militantes pretos começaram a rejeitar o rótulo “negro” e passaram a identificarem-se como preto ou africano-americano.

Para o censo de 2010, o governo chegou a considerar abandonar a palavra “negro”, mas por fim decidiu de forma contrária, considerando que um pequeno segmento, em sua maioria pretos idosos que vivem no Sul, ainda se identificavam com o termo. Mas quando os formulários do censo foram enviados e alguns grupos pretos protestaram, Robert Groves, diretor do Census Bureau, à época, desculpou-se e antecipou que o termo seria abandonado em censos futuros.

Quando perguntado para assinalar sua raça, os americanos atualmente têm opção de cinco categorias definidas pelo governo em pesquisas de recenseamento, incluindo um espaço para marcar que é descrito como “preto, africano americano ou negro”. Começando com os levantamentos do próximo ano, esta opção irá simplesmente dizer “preto” ou “africano americano”.

No censo de 2000, cerca de 50.000 pessoas especificamente escreveu a palavra “negro” quando perguntado como gostaria de ser identificado. Em 2010, dados censitários inéditos fornecidos à AP mostram que esse número caiu para cerca de 36.000.

De The Globe and Mail, 25/02/2013.

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Luis Nassif

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