O estouro da Ômicron no Brasil e no mundo, com Nicolelis e Dalcolmo

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Margareth Dalcolmo e Miguel Nicolelis detalham o impacto da disseminação da variante Ômicron à TV GGN 20 horas

Jornal GGN – O caos gerado pela pandemia de covid-19 no Brasil e no mundo foi tema da TV GGN 20 horas desta sexta-feira (07), onde os jornalistas Luis Nassif e Marcelo Auler conversaram com os médicos Margareth Dalcolmo e Miguel Nicolelis.

Margareth Dalcolmo é médica pneumologista e pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ela foi criadora e coordenadora do ambulatório de pesquisa do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da Fiocruz.

Desde o início da pandemia, Margareth esteve na linha de frente no combate ao vírus, inclusive participando de debates e dando palestras para alertar a população a respeito do risco da doença. Em 2021, lançou o livro “Um tempo para não esquecer – A visão da ciência no enfrentamento da pandemia do coronavírus e o futuro da saúde”.

Miguel Nicolelis é médico, neurocientista e também teve importante atuação na pandemia. Ele foi considerado pela revista Scientific American como um dos 20 cientistas mais influentes do mundo e, pela Revista Época, um dos 100 brasileiros no ano de 2009.

Ao apresentar os dados de covid-19 nos Estados Unidos, Nassif afirma que “o que está acontecendo aqui, mas nem se compara com o covid até agora”: nos EUA, a média móvel chegou a 604.433 novos casos e 1.381 óbitos.

Em termos globais, a média de casos globais aumentou 63,3% em sete dias, e 168,2% em 14 dias. Dos 20 países com maior crescimento per capita, 15 são europeus.

Para Margareth Dalcolmo, cenário atual é crônica anunciada

Ao analisar o atual cenário da pandemia de covid-19, Margareth Dalcolmo afirma que atualmente se vive um pouco de “crônica anunciada”, uma vez que os vírus de transmissão respiratória sofrem mutação.

“A história esperada, o modelo (digamos assim) esperado era de que uma virose de transmissão respiratória aguda, a tendência delas é de desaparecer, como foram as duas coronoviroses anteriores”, pontua a pneumologista.

Contudo, a pneumologista afirma que nada foi tão pandêmico como o SARS-Cov-2. “Então, é esperado que ele não vá desaparecer das nossas vidas, que ele vá guardar uma certa endemicidade, ele passará a fazer parte do painel de diagnósticos diferencial de vírus respiratórios agudos”.

Segundo Margareth Dalcolmo, o aparecimento de uma nova cepa (a Ômicron, no caso) com uma taxa de transmissibilidade elevada traz alguma surpresa.

“A questão é que, assim, isso tem uma causa. Isso não ocorre ao acaso. Houve um relaxamento das medidas, houve uma flagrante desigualdade vacinal, por exemplo”, ressalta a pesquisadora da Fiocruz. “Então, era natural e se esperaria. Isso nasceu na África Austral, os primeiros casos foram no Botswana e da África do Sul”.

Contudo, Margareth destaca que a nova cepa é quase um novo patógeno. “Ela tem tantas mutações na sua composição, que ela funciona como se fosse um novo vírus na verdade – se a gente quisesse ser muito ousado, a gente até poderia chamar de um SARS-Cov-3 mais ou menos”.

Segundo Margareth Dalcolmo, a nova variante (Ômicron) possui mais de 50 mutações, sendo mais de 30 apenas na proteína spike – que é a que faz o vírus entrar na célula humana. “O mundo relaxou, a Europa jogou as máscaras para o alto, aqui no Brasil também houve muito relaxamento. Então, era natural”.

“Acho que a cepa Ômicron vai contaminar meio mundo, e acho que não vai concorrer com uma grande letalidade (…)”, diz a pesquisadora da Fiocruz. Porém, “quando você fala em 1% de possibilidade de complicação, você fala em 1% de 1000 é pouca coisa, mas quando você fala em 1% de 10 milhões é muita gente que pode complicar (…)”.

A pesquisadora também lembra que o país não vive apenas uma pandemia. “A epidemia no Sudeste de Influenza A é muito grave (…) Não é verdade ter esses poucos anedóticos casos de co-infecção: eu tenho vários doentes com coinfecção por covid-19 e por influenza. Vários, vários. Você examina a pessoa, você vê”.

Questionada sobre a possibilidade de uma imunidade de rebanho, Margareth Dalcolmo diz que isso não é mais uma preocupação. “A nossa grande preocupação hoje é conseguir vacinar com dose de reforço a maior parte da nossa população (mundial)”

Ômicron tirou poder de decisão dos gestores nos EUA, diz Nicolelis

Miguel Nicolelis, que lidera um grupo de pesquisadores da área de Neurociência na Universidade Duke, afirma acompanhar a situação da covid-19 nos EUA muito de perto e diz que, para ele, são três epidemias concomitantes no Brasil.

Para Nicolelis, o Brasil vive epidemias de influenza, delta e ômicron. “E podemos ter a quarta, que é o dengue, que ninguém está falando – que, a qualquer momento, a sazonalidade do dengue começa agora em janeiro (…)”.

Sobre a pandemia nos EUA, Nicolelis traça o cenário como “surreal”. “O comportamento do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) é um desastre completo: as mudanças de política, e a maneira como elas são comunicadas, a arbitrariedade dos cinco dias, por exemplo, sem fazer a testagem a posteriori, criou uma confusão”.

“A diretora do CDC brigando com o Fauci (Anthony Fauci), não tendo uma posição unificada e, de repente, a gente olha a média móvel – a média móvel é muito importante, mas é importante a gente olhar os dados diários também”, diz o cientista.

“Foi um choque nacional segunda-feira nos EUA, quando cruzou a marca de 1 milhão de casos. Do ponto de vista psicológico, foi um baque porque, para se ter uma curiosidade, a Ômicron tirou das mãos dos políticos americanos a decisão de fazer lockdown ou não”.

Nicolelis destaca que o lockdown nos EUA foi imposto pelo vírus. “As linhas aéreas não tinham gente, os hospitais começaram a ficar sem profissionais, o comércio começou a ter que fechar porque não tinha funcionário (…)”.

“O vírus tirou a decisão de fazer o distanciamento, o isolamento social, da mão dos gestores. E isso criou uma imagem, um susto nacional, que eu raramente vi”, diz.

“Eles (EUA) estão tendo problemas de testagem, estão tendo problemas de convencer a população a se vacinar – parou a curva de vacinação, algo que aconteceu no Brasil também”, afirma Nicolelis.

O pesquisador também destaca a fala da Organização Mundial de Saúde (OMS), que veio à público nesta quinta-feira para afirmar ‘vamos parar com esse papinho de que isso é leve’.

“Se você infectar 1 bilhão de pessoas no planeta, 1% de 1 bilhão é um número gigantesco. E não existe sistema hospitalar no mundo capaz de dar conta dessa magnitude de casos”, diz Nicolelis.

“Se amanhã aparecer uma variante nova, pode esquecer a imunidade de rebanho causada pela Ômicron. Foi o que aconteceu com a Delta, e o que aconteceu com a Ômicron em cima da Delta”, ressalta o cientista.

Veja mais a respeito do atual quadro da pandemia de covid-19 no Brasil e no mundo na íntegra da TV GGN 20 horas. Clique abaixo e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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