“O problema não é a interligação, é a qualidade desta”, diz especialista sobre o apagão nacional

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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Na TVGGN, Clarice Ferraz, diretora do Instituto Ilumina, chama atenção para manipulação de narrativas na mídia sobre o apagão

Lâmpada ilumina um quarto completamente escuro
Foto: Marcelo Casall Jr/Agência Brasil

O apagão que afetou todos estados brasileiros na manhã desta terça-feira (15), com exceção de Roraima, já pode ser explicado com mais clareza por especialistas no assunto, que alertam, inclusive, para a falsificação ou manipulação de narrativas sobre as causas do blackout.  

Em entrevista ao programa TVGGN 20 Horas [assista abaixo], a pesquisadora do Grupo de Economia de Energia do Instituto de Economia da UFRJ e diretora do Instituto Ilumina, Clarice Ferraz, esclareceu como um pico de energia produzida no Nordeste sobrecarregou o sistema e gerou a falha no Sistema Interligado Nacional, levando ao apagão.

Clarice se mostrou estarrecida com alguns analistas da televisão brasileira, que associaram o apagão ao fato de diversas regiões do País estarem interligadas no abastecimento de energia. Alguns, segundo elas, chegaram a cogitar que o ideal seria que os estados tivessem sua atonomia, como o caso de Roraima, que está excluído do SIN.

“O problema não é que somos interligados, o problema é a qualidade dessa interligação. Essa interligação foi o que permitiu salvar o Sudeste durante a grave crise hidrológica que a gente teve há pouco tempo. A memória não pode ser tão curta”, desabafou.

Clarice frisou que Roraima luta para fazer parte do sistema interligado justamente porque sua exclusão transforma a energia local num produto com tarifa muito acima da média nacional, além dos problemas recorrentes de abastecimento.

O que aconteceu?

A especialista em energia Clarice Ferraz explicou em detalhes, e numa linguagem didática, como ocorreu a queda na interligação Norte-Sudeste que interrompeu 16 mil megawatts de carga, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), gerando o apagão.

“Como o Nordeste está com excesso de [energia] eólica, esse excesso de geração não consegue ir direto pro Sudeste, não tem espaço nas linhas, então ele tem subido [na linha] para o Norte e vem de lá para cá [Sudeste]. Quando isso se interrompe, parte dessa energia que saía do Nordeste para atender o Sudeste, mas que tinha que fazer esse caminho meio estranho, ela fica sem ter espaço para entrar”, comentou.

Quando a sobrecarga de energia aconteceu, o sistema se autodesligou para evitar que essa energia extra entrasse pelas linhas destruindo equipamentos pelo caminho, o que levaria a um problema ainda mais grave e duradouro.

Clarice ainda pontuou que no ONS há um gráfico por região que comprova o pico de geração na região Nordeste, o que fez o próprio sistema se cortar para evitar a queima de transformadores.

O Ministério de Minas e Energia restabeleceu a ligação depois de horas, e afirmou que a Polícia Federal vai investigar se houve dolo no processo que gerou a sobrecarga que resultou no apagão.

Privatização da Eletrobras e apagão

Segundo Clarice, “privatização [da Eletrobras em 2022] contribuiu para isso. O problema é justamente a fragilização, a falta de investimento e a falta de manutenção [nas interligações], até as várias demissões pelo caminho.” 

“Esse sistema hidrelétrico, da interligação desse país de dimensões continentais, é a grande força do sistema elétrico brasileiro, ela é invejada pelo mundo todo”, acrescenta. Enquanto outros países na Europa estão reestatizando as companhias de geração de distribuição de energia, tratando o tema como questão de interesse e segurança nacional, o País vendeu a Eletrobras e parte do establishment considera inviável recuperar a empresa para a União. Clarice discordou que seja inviável.

Assista a entrevista completa na TV GGN:

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