Ataque neonazista no ES: corpo de pesquisadora da UFMG é velado neste domingo

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Morte da pesquisadora foi confirmada ontem (26). Ela estava entre os 13 feridos no atentado. Outras três pessoas morreram

Flavia Amoss Merçon Leonardo. | Foto: Reprodução

O corpo da professora Flavia Amboss Merçon Leonardo, morta no ataque neonazista a escolas em Aracruz, no Espírito Santo, na última sexta-feira (25), começou a ser velado na manhã deste domingo (27). 

A morte de Flávia foi confirmada na tarde de ontem (26) pela Secretaria da Saúde do Espírito Santo (Sesa). Ela estava entre os 13 feridos no atentado. Outras três pessoas morreram. 

O corpo de Flávia está sendo velado no cemitério Jardim da Paz, no município da Serra, na Grande Vitória, onde morava com o marido e o enteado. O sepultamento está previsto para às 15h.

Flávia dava aula de sociologia na escola estadual Primo Bittiera, um dos locais atacados. Ela também era ativista do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e foi uma das criadoras do coletivo de Mulheres Atingidas por Barragens. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra lamentou o ocorrido nas redes sociais.

Em abril, a pesquisadora ainda defendeu sua tese de doutorado em antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre o desastre ambiental de Mariana. O Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta-UFMG), do qual fazia parte, publicou uma nota de pesar: 

Vimos manifestar nosso imenso pesar com o falecimento precoce da nossa querida pesquisadora do GESTA e egressa do PPGAN-UFMG, Flávia Amboss Merçon Leonardo, vítima do atentado neonazista em Aracruz, no Espírito Santo. Flávia conviveu conosco nos últimos 5 anos, período em que pudemos desfrutar de sua companhia franca, alegre, sagaz, atenciosa e dedicada. Acompanhamos de perto a produção de sua tese de doutorado em Antropologia, intitulada “Imprensados no tempo da crise: a gestão das afetações no desastre da Samarco (Vale e BHP Billiton) e a crise como contexto no território tradicionalmente ocupado na foz sul do rio Doce”. Foram anos de dedicação à pesquisa, da graduação ao doutorado, que, para além de refletir o desejo de saber, constituiu um compromisso político e ético de Flávia para com os pescadores artesanais e a vida dos afetados pela lama de Fundão na vila de Regência Augusta, no litoral do Espírito Santo. Somos gratas por termos compartilhado com Flávia as dificuldades, os sofrimentos, as angústias de viver e de pesquisar os terríveis efeitos do desastre sobre as comunidades de Regência e sobre tantas formas de vida; mas também por compartilharmos com ela pequenas alegrias cotidianas, como o sentimento de realização que advém da luta e da construção laboriosa e corajosa de um conhecimento sensível, compromissado com a defesa dos direitos e da vida.

Prestamos nossa solidariedade a todas as vítimas do atentado, a seus amigos e familiares, em especial ao Sr. Alexandre e à Sra. Grayce, pai e mãe de Flávia, e ao João Paulo, seu companheiro. Flávia era uma pessoa cheia de vida e de ideais, comprometida com as comunidades com as quais conviveu. Ela havia recém-cumprido, com brilho, uma etapa importante da sua formação profissional com a defesa da sua tese de doutorado. Estava cheia de planos e tinha a vida pela frente. Sua morte brutal, assim como as das demais vitimas, nos coloca diante das feridas abertas deste país, e nos convoca a todas e todos a refletirmos sobre os efeitos do culto ao ódio e à intolerância, e ao elogio de si por meio das armas” – Equipe GESTA-UFMG

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Outras vítimas

Além de Flavia, também morreram vítimas dos ataques: a estudante Selena Sagrillo, de 12 anos; e as professoras Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48 anos, e Cybelle Passos Bezerra, de 45 anos.

Os corpos de Selena e Maria da Penha foram enterrados no início da tarde de sábado. Já a família de Cybelle preferiu que o corpo dela fosse cremado e levado para Pernambuco, onde a família mora.

O atentado 

O ataque a duas escolas deixou quatro mortos e outros 12 feridos em Aracruz, a 85 km ao norte da capital Vitória, na sexta-feira (25).

Segundo as investigações, o atentado foi planejado por dois anos e o criminoso de 16 anos usou uma pistola semiautomática e um revólver que eram do pai, um policial militar. 

O assassino estudou até junho no colégio estadual atacado, segundo o governador do estado, Renato Casagrande (PSB).

Os disparos aconteceram por volta das 9h30 na Escola Estadual Primo Bitti e em uma escola particular que fica na mesma via, em Praia de Coqueiral, a 22 km do centro do município. 

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, o assassino invadiu a escola estadual com uma pistola, onde efetuou vários disparos e matou as professoras. 

Na sequência, o criminoso deixou o local em um carro e seguiu para a escola particular Centro Educacional Praia de Coqueiral. Na unidade, uma aluna foi morta. 

Após o segundo ataque, o assassino fugiu no carro, que também era de seu pai. O criminoso, no entanto, foi encontrado em casa e preso por volta das 15h30 de sexta.

Segundo a Polícia Civil, o adolescente irá responder por ato infracional análogo a três homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificadas.

Nazismo

Durante o atentado, o assassino usava um macacão e um chapéu camuflados, uma braçadeira com uma runa odal (símbolo nazista), uma máscara com sorriso de caveira e um cinto preto em volta da cintura, aparentemente preparado para guardar munições. 

Há indícios que o garoto compartilhava das mesmas ideias do pai. Em uma publicação feita no Instagram, o pai do assassino postou a imagem do livro mais conhecido do líder do Partido Nazista, Adolf Hitler.

Na legenda da foto de “Minha Luta” (em alemão, Mein Kampf), o PM escreveu: “Ler é uma das chaves para expansão da consciência”.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

3 Comentários

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  1. Até agora nenhuma manifestação dos Bolsonaro. Eles só lamentarão quando as PMs começarem a exterminar nazistas ou quando a esquerda criar milícias para fazer isso.

  2. Enquanto nosso Judiciário continuar partidário, dando asas pra tudo quanto é absurdo desde que pela causa da direita ou até extrema direita, a sociedade continuará a se desintegrar.
    Um Supremo só não faz verão; logo, aguardemos mais chacinas, achincalhes de novorricos… o diabo.

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