Em 3 anos, Brasil registra 17,3 mil casos de violência contra população de rua

Dados divulgados pelo Ministério da Saúde foram observados entre 2015 e 2017. São Paulo tem o maior número de notificações

Foto: John Moeses Bauan (Unsplash)

do Observatório do 3º Setor

Em 3 anos, Brasil registra 17,3 mil casos de violência contra população de rua

Por Mariana Lima

De acordo com dados do Ministério da Saúde, de 2015 a 2017, o Brasil registrou 17.386 casos de violência contra pessoas em situação de rua. O número leva em conta apenas os casos que foram motivados pelo fato de a vítima estar em situação de rua.

O perfil da maioria das vítimas era composto por jovens entre 15 e 24 anos (38%) e pretos ou pardos (54%). Apesar de serem minoria nas ruas, as mulheres acabam sendo as principais vítimas, com 50,8% dos registros.

Os números foram calculados com base nos registros do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ferramenta utilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com o objetivo de notificar a condição de pacientes vítimas de variados tipos de violência.

A cidade de São Paulo registrou o maior número de notificações de violência motivada pela situação de rua da vítima em todos os anos analisados.

No total, a cidade apresentou 176 notificações em 2015, 317 em 2016 e 295 em 2017. Essa incidência serve para ilustrar as recentes ocorrências de violência contra essa população.

Entre novembro de 2019 e janeiro de 2020, 7 pessoas em situação de rua foram mortas na Grande São Paulo.

Em novembro, quatro pessoas em situação de rua morreram após sofrerem uma overdose causada por uma bebida misturada com cocaína. O grupo estava em uma praça no município de Barueri, e ingeriu o produto sem saber que a bebida estava contaminada.

Em janeiro, o catador Roberto Vieira da Silva morreu após atearem fogo em seu corpo enquanto dormia em frente a um supermercado na Mooca, bairro da Zona Leste da Capital. Outra pessoa em situação de rua teria confessado o crime.

Oito dias depois, um homem em situação de rua foi assassinado. O corpo foi encontrado pela manhã, em uma avenida na Zona Sul de São Paulo.

Testemunhas informaram à polícia que ouviram tiros durante a madrugada. A vítima, conhecida como Palhacinho, de acordo com os moradores, tinha o costume de dormir em um banco de carro abandonado que ficava entre duas caçambas de lixo.

A população que vive perto do local do crime informou que a vítima coletava material reciclável. Em relação a este caso, nenhum suspeito foi identificado até o momento.

Em 2015, a capital paulista tinha 15.903 pessoas em situação de rua, de acordo com um censo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e pela Prefeitura de São Paulo.

Nos últimos anos, estimativas apontaram para um aumento expressivo desta população. A previsão é que um novo censo oficial seja divulgado ainda em 2020.

Enquanto isso, o preconceito e a discriminação contra a população em situação de rua seguem aumentando pela capital paulista.

Em outubro de 2019, um abaixo assinado feito por moradores do bairro da Mooca pedia o fechamento do Centro Temporário de Acolhimento (CTA) Mooca I, devido a boatos de crimes atribuídos indevidamente a pessoas em situação de rua atendidas pelo albergue.

O atrito entre a população do bairro com o serviço começou após uma moradora ter a casa invadida, as roupas de todos os moradores da casa roubadas, e ser estuprada por um homem, que, supostamente, seria frequentador do albergue.

A polícia acabou identificando o suspeito, que havia sido encontrado morto a tiros dias depois do crime, em Diadema. Ele não apresentava histórico de situação de rua, e não frequentava o albergue na Mooca.

Ainda assim, a população continuou compartilhando informações inverídicas e acusações contra o serviço. Apesar disso, o CTA continua em funcionamento.

Redação

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