Dia após dia

Durante o encontro dos líderes do G20, ocorrido semana passada, enquanto o presidente americano se isolava tentando impor diretrizes novas e inaceitáveis, a alemã e o chinês arrebataram-lhe a batuta, passando eles a conduzir o grupo, prerrogativa inédita, sempre atribuída, anteriormente, aos americanos. O ocorrido pode ter propiciado a falsa impressão de que a transição de poder para oriente se dará de maneira igualmente tranquila, não será.

A proposta das novas lideranças consistiu, fundamentalmente, em enfatizar diretivas já anteriormente taçadas, como o acordo climático e a globalização do comércio, foi o presidente americano quem se desviou da rota, propondo caminho alternativo.

 

Não será sempre assim, haverá o dia em que os chineses, tendo conseguido a supremacia econômica no planeta, quererão definir as diretrizes globais, quebrando regras e impondo novos conceitos, incompreendidos e inaceitáveis, especialmente por aqueles que sempre impuseram todas as normas.

Nesse momento, não há uma clara definição de qual seja a força econômica dominante, sendo, fundamentalmente o hábito o que nos compele a considerar que os EUA continuem a exercer esse papel. De fato, tem-se uma economia chinesa muito mais efetiva e produtiva que a americana, fato atestado pelo GDP-PPP chinês, de 23.194.411 , avaliado em moeda internacional, ou produtos, e o americano, de 19.417.144 (est. 2017). Somando-se os valores de Hong Kong e Macau aos da China, obtém-se um valor superior em mais de 20% ao da economia americana, ainda que em comparação bastante subestimada.

Em contrapartida, medida em dólares, a economia americana, de 18.569.100, em milhões de dólares ainda é bem superior à chinesa, de 11.218.281. A variação é devida à diferença de escala em cada local, sendo o preço dos produtos aumentado nos EUA e reduzido na China. Note que um simples ajuste na paridade, a relação de valor entre os dinheiros, corrigiria essa desvirtuação, a diferença entre os preços dos mesmos produtos.

Super congelamento

O fenômeno acima tem certa semelhança com as condições de super congelamento, quando a transição de estado ocorre de maneira abrupta. Vejamos:

Em circunstâncias normais, a superfície da água, exposta a temperatura abaixo de zero, vai congelando pouco a pouco, aumentando continuamente a camada de gelo. Em condições especiais, no entanto, como ocorre com garrafas de cerveja excessivamente geladas, é possível reduzir a temperatura do líquido, mantido sob cuidado, até valores inferiores ao ponto de congelamento sem que a cristalização ocorra. No entanto, caso uma perturbação instabilize o sistema, todo o líquido pode se congelar instantaneamente.

A situação econômica mundial, hoje, é análoga a essa. A economia americana se encontra em um ponto abaixo daquele que propiciaria a transição de estado. Amparada pelo poder vigente, no entanto, essa economia permanece artificialmente inflada. Toda a magia do poder, todo o seu ilusionismo é necessário, atualmente, nesse empenho, temendo-se que a qualquer instante a detonação de uma pequenina bolha acabe disparando a cadeia de dominós crescentes que implodirá a, agora, fantasiosa economia americana, inflada e mantida apenas pela paridade artificial do dólar. O rei está nu.

O que significa isso, afinal?

Toda essa fantasia decorre do fato de que o valor em yuanes atribuído a um sanduíche na China, não corresponde ao valor atribuído em dólares ao mesmo sanduíche nos EUA. Ou seja, o poder se encarrega de super valorizar o dólar e todos os produtos americanos, em contraposição aos produtos chineses. Um ajuste do dólar que permitisse a medida equânime de preços em um e outro país revelaria a superioridade da economia chinesa. O estouro de uma bolha se encarregará dessa revelação, a economia americana sofrerá uma transição de estado abrupta que resultará na desvalorização do dólar.

Quando isso ocorrer, os chineses ditarão novas regras que parecerão completamente absurdas aos olhos daqueles que sempre estiveram acostumados a ditar todas as regras. Mesmo nós, cordeirinhos obedientes, consideraremos absurdas e disparatadas as regras advindas de mentes diversas daquelas que nos têm mantido sob jugo. Os que têm mantido o açoite nas mãos considerarão as novas regras inaceitáveis. A tentação de cavar uma grande guerra para impedir o que parecerá uma transição absurda será grande. As atribulações decorrentes do desmoronamento do dólar, dos EUA e do ocidente constituirão combustível adicional, atiçando os ânimos das populações.

Os arredores da reunião do G20 terão sido um pic nic comparado ao que nos espera.

E assim, tudo continua na mais plena normalidade, enquanto aguardamos o furacão.

 

Redação

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