As frentes de atuação de Cunha para salvar seu mandato

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Após perceber que a “alternativa” à cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sugerida pelo deputado aliado João Carlos Bacelar (PR-BA) em plena reunião do Conselho de Ética, era o remate dos passos cuidadosamente arquitetados pelo peemedebista para se salvar do processo, o presidente da sessão José Carlos Araújo (PR-BA) cancelou a votação adiada para esta quarta-feira (08), evitando o desfecho do plano de Cunha.
 
A medida foi uma urgência frente aos movimentos dos aliados de Eduardo Cunha, aproveitando brechas do regimento interno da Câmara e todas as opções reais de manobra para impedir o afastamento definitivo do ex-presidente da Casa.
 
Foi na noite desta terça que Araújo montou as peças do quebra-cabeça. O deputado é alvo recorrente de pressões de Cunha e seus aliados por presidir o Conselho que vota a cassação do deputado e publicamente ser favorável a sua saída. 
 
A sequência de manobras ficou exposta para o parlamentar quando o aliado de Temer e de Cunha, deputado Giacobo (PR-PR), propôs um “acordo” prevendo que as sessões de votações desta quarta começassem às 9h e terminassem, o mais tardar, às 14h com a justificativa de que o Conselho de Ética pudesse “trabalhar”.
 
Logo que foi suspensa a reunião do Conselho nesta terça, o presidente José Carlos Araújo transferiu para às 14h30 a continuação dos votos do colegiado. De acordo com reportagem do Estadão, a intenção de Giacobo seria contar com votos suficientes na sessão para a derrubada do parecer que defende a cassação de Cunha.

 
Entretanto, conforme o GGN revelou na reportagem “Sequência de manobras para salvar Cunha da cassação“, o objetivo era ainda maior. A estratégia de começar a reunião após o fim de outras da Câmara visava alcançar outra estratégia paralela dos aliados de Cunha: de que fosse aprovado a tempo, na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ), um parecer de outro aliado do peemedebista que também o beneficiaria.
 
Trata-se de um recurso do deputado Arthur Lira (PP-AL) à uma “consulta” ao presidente interino da Câmara dos Deputados, o também aliado do peemedebista Waldir Maranhão, sobre o rito de cassação de parlamentares na Casa.
 
Entre as sugestões, Lira defendeu a possibilidade de ser submetido ao Plenário da Câmara um projeto de resolução que decidiria entre a suspensão, por no máximo 6 meses, ou a perda do mandato, e não mais um relatório do Conselho de Ética que cassaria o parlamentar. 
 
Também nessa proposta, a decisão de iniciar ou não um processo dependeria dos votos direto de todo o Plenário da Câmara, e não mais do Conselho de Ética, como ocorre atualmente. Assim, se o Plenário rejeita o “projeto de resolução” contra o parlamentar, automaticamente ele é absolvido de processo.
 
A ideia é que seria mais fácil angariar apoio suficiente à Cunha de todo o Plenário da Câmara do que da maioria dos integrantes do Conselho. Além disso, caso fosse aprovado o processo contra o deputado, a pena poderia ser mais branda – apenas um afastamento por alguns meses, do que a cassação.
 
É a mesma linha defendida ontem (07), por Bacelar, no Conselho de Ética – que paralisou a votação por deputados que queriam pensar nessa proposta. Durante seu voto que extrapolou os 10 minutos de fala, em “alternativa” à cassação e tom de conciliação de que poderia atender opostos posicionamentos e angariar apoio suficiente, João Carlos Bacelar (PR-BA) propôs a suspensão do mandato de Cunha por apenas três meses.
 
A sugestão pode definir os posicionamentos daqueles que temem um contra-ataque de Eduardo Cunha, colocando em risco mandatos de outros deputados, ou dos que defendem o peemedebista no escuro – mas não querem passar a imagem de “impunidade” ou risco pressões públicas e midiáticas.
 
Mas a reunião da CCJC, que também tenta a proposta em outra frente simultânea da Câmara, sofre resistências de deputados. Já contrários à mudança no rito de cassação de parlamentares, promoveram uma obstrução à pauta, impedindo que o Colegiado votasse nesta terça.
 
Estavam no bloco de obstrução os partidos PT, PCdoB, PSDB, DEM e PR. Mas o presidente da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania, deputado Covatti Filho (PP-RS), encontrou uma saída: anunciou um suposto “acordo” para retirar das votações a proposta de Arthur Lira, que ou salvaria Cunha ou levaria uma punição mais branda ao peemedebista. Covatti não havia apresentado mais detalhes desse acordo.
 
Mas a sessão terminou sem votar o parecer de Lira, após deputados denunciarem a troca de integrantes da Comissão para favorecer a aprovação da proposta. Jorginho Melo (PR-SC), por exemplo, que é contra o parecer, reclamou por ter sido retirado da reunião pela liderança de seu partido.
 
Além de Melo, outros dois deputados do PR que já se manifestaram contra a cassação de Cunha também tornaram-se integrantes da CCJ: Laerte Bessa (DF) e Wellington Roberto (PB).
 
“Nunca vi, diante de um fato concreto uma situação como essa. Há algo lá e nós sabemos o que é e cheira mal”, questionou o deputado Esperidião Amin (PP-SC). “Essa consulta está cheirando mal. Nós vamos começar a contar [todas as mudanças realizadas]. Não aceitamos esse jogo com a Comissão de Constituição e Justiça. Se começarmos a prática no Conselho de Ética aqui, vamos denunciar. Lá tivemos 14 modificações”, denunciou Júlio Delgado (PSB-MG). 
 
Em defesa, Arthur Lira disse que a mudança de integrantes já ocorreu em outros momentos. “Quem não quer discutir, não quer por algum motivo. Mas [quero] ressaltar que a mudança de membros da comissão não é fato inédito, isso aconteceu na votação da maioridade penal”, disse, completando que o seu parecer não se refere à “deputado A ou B”.
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Olho vivo

    Enquanto estamos todos de olho no governo interino, o ardiloso Cunha vai tentando se safar de sua devida cassação. Ainda bem que o GGN esta de olho vivo nas transações de Ali Baba e seus picaretas.

     

    1. O “3Is” Interino, Ilegítimo e

      O “3Is” Interino, Ilegítimo e Inelegível, é a mesma coisa que Eduardo Cunha, é tudo uma coisa só . . . . .

  2. SÓ NOS RESTA O STF

    SÓ NOS RESTA O STF, se é que ainda existe.  A meu ver, se o STF, TEORI, não tomar a frente e mandar imediatamente PRENDER CUNHA,  Ele vai continuar “OPERANDO” e gastando seus MILHÕES roubados com sua “QUERIDA” família.  O POVO DE SE F…,  “FERRE” ! 

  3. Isso pq foi afastado pelo STF

    Isso pq foi afastado pelo STF para não interferir no processo. Cunha tá tão preocupado com as decisões do STF qto eu o STF está preocupado com a indignação de GM acerca dos vazamentos. Cunha Não só pouco se lixa pra decisão da Corte como ainda se dá ao luxo de esnobar. Pra salvar seu mandato , colocou o próprio Conde Crápula para necociar c/ o líder do PRB o sumiço da tal de tia Eron.  Ainda bem que Cunha respeita a Corte, né?

    1. Não tenho dúvida

      Não tenho a menor dúvida que para Eduardo Cunha, SÓ A PRISÃO DELE RESOLVE.

      Enquanto esse cara não for preso, vai continuar manobrando “na cara do STF” e de todos os brasileiros.

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