Há exatamente 200 anos, por Motta Araujo

Por Motta Araujo

1º de março de 1815, Napoleão Bonaparte pisa de novo na França continental, em Antibes, fugindo da ilha de Elba, onde estava preso pelos ingleses. Chega quando o Congresso de Viena estava reunido e causa enorme tremor na Europa. Começa o período de 100 dias dessa reviravolta político-militar que termina com a derrota de Napoleão em Waterloo.

O retorno não tinha chance de êxito, o ciclo napoleônico tinha acabado, partidários de Napoleão formaram novo exército, mas a França já estava cansada de guerras, o contexto europeu já era outro e a coalizão da Inglaterra com a Áustria, Rússia e Prússia era muito mais forte do que qualquer novo exército que Napoleão poderia reunir, o fato de que ele conseguiu em tão pouco tempo formar novo exército é notável.

A não adesão de Talleyrand à nova aventura napoleônica era o sinal da inviabilidade do retorno. Talleyrand tinha o melhor faro politico da Europa e sabia para onde o vento soprava, uma espécie de antecessor do PMDB.

Napoleão contava com sua mística de vencedor, mas os ventos da História não sopravam mais para guerras e sim para uma paz duradoura ansiosamente esperada por todos. O Congresso de Viena assegurou um século de paz e progresso, abrindo nova era de prosperidade para todo o continente que era o centro do mundo.

O último suspiro de Napoleão o levou agora para o exílio final em Santa Helena, no meio do Atlântico, de onde era impossível uma fuga. O grande vencedor da saga napoleônica foi a Inglaterra, que saiu como maior potencia mundial, posição de que desfrutou até a Grande Guerra de 1914, levando o Império Britânico a dominar 1/4 do planeta.

A França já era governada pelos Bourbons restaurados na pessoa de Luis XVIII, tendo como Ministro do Exterior o Príncipe de Talleyrand, o mesmo que após sua assinatura na sentença de morte pela guilhotina de Luis XVI, irmão de Luis XVIII, Talleyrand era um camaleão político, fez da França derrotada uma potência vitoriosa no Congresso que reorganizou o mundo pelas mãos do Imperador da Rússia, do Rei da Prússia, do Rei da Inglaterra e do Rei Bourbon sucessor de Napoleão.

Em Viena, onde o fantasma de Napoleão estava presente, ocorreu o esquecimento fingido de que Talleyrand era o chancelar de Napoleão quando os outros três eram seus inimigos, isso é que é “realpoliik”, palavra ainda não inventada na época. O Congresso continuou mesmo quando Napoleão tentava ressuscitar o mito.

Hoje é uma data importante para a História, parece que faz tanto tempo, mas foram apenas duzentos anos e vemos como estamos perto dessa era quando em Fointaibleau se vê a pasta executiva de Napoleão e sua escova de dentes, objetos que parecem fabricados em nossa época de tão modernos pelo design.

Napoleão está presente em nossas vidas pelo sistema métrico, pelo código civil e principalmente pela criação do Estado brasileiro, nascido da fuga do Rei de Portugal para o Brasil, fugindo exatamente de Napoleão, o Imperador francês é parte de nossa História.

Redação

10 Comentários

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  1. Timing é importantíssimo e
    Timing é importantíssimo e conhecermos os caminhos já percorridos, mais ainda. Há um anseio geracional de “viver o presente, o que importa o passado?”. Nas corporações, estas diferenças geracionais ensejam estudos e ações concretas em Gestão de Mudanças e Gestao do Conhecimento que minimizem os choques e perdas que este conflito ocasiona.Viver o presente é importantíssimo, mas a sabedoria advém da pedra que rola no fundo do rio, do aparar e limar o seixo e não do pedregulho lançado.

    Ao ler teu texto Andre a primeira coisa em que pensei foi no quanto o desconhecimento favorece o julgamento apressado, a precipitação, o erro por imprecisa avaliação. E o custo disto. Sabemos da importância dos dados, das análises, das “curvas de tendência”, mas ainda mais valorosa é a visão ampliada que somente a sabedoria e a experiência permitem.

    Estamos vivendo um expressivo déficit de lideranças. Quem tem nos trazido os caminhos possíveis senão 03 ou 04 cabeças? Somos um país continental. Onde estão nossos “pensadores de futuro” ? Quem vai tocar este barco daqui a 04 anos? O que queremos para os próximos 50?

  2. “Talleyrand tinha o melhor

    “Talleyrand tinha o melhor faro politico da Europa e sabia para onde o vento soprava, uma espécie de antecessor do PMDB.”

      KKKKKKKKKK!!! AA, você é um barato – mas confesso que já havia me espantado com o faro de Talleyrand.

      200 anos… tão perto e tão longe, não? Eis aí uma Revolução com “erre” maiúsculo, junto com sua irmã Industrial mudou o planeta para sempre.

  3. A batalha de Waterloo foi

    A batalha de Waterloo foi decidida por pouco. O exército francês inclusive começou vencendo, porém, a cavalaria francesa atacou em um terreno inadequado, Napoleão fora mal aconselhado, seus observadores não viram que era um terreno infenso aos cavalos, e isto determinou a vitória inglesa. 

    1. Doney ,realmente sua

      Doney ,realmente sua observação é correta ,além do fato que aos “45 do segundo tempo” chegou o General  Prussiano ,

      Blucher ,que decidiu o combate para os ingleses.

    2. Um dos motivos

        É real que o terreno foi um óbice para a progressão da cavalaria francesa, pois o terreno belga de planicie, combinado ao bombardeamento prévio da artilharia francesa e das contrabaterias aliadas, tornou o terreno pior ainda para cargas de cavalaria, e da possivel tática favorita napóleonica, a do apoio movel da “artilharia leve a cavalo”, que foi impossibilitada de se movimentar, para suas posições definidas previamente. ( progressão movel da cavalaria em choque, rompendo as linhas, combinado ao apoio de artilharia, visando o enfraquecimento constante das “uniões” das linhas defensivas, seus “pontos de contato” ).

         Atualmente ( desde os anos 50), o estudo relativo a esta campanha napoleonica, considerada por alguns o ” fim da guerra de movimento “, somente recuperada, em parte, nas campanhas de Flandres ( 1917/18 ), com auge na Blitzkrieg alemã, e das soviéticas de 1944/45, é compreendido não apenas como a “Batalha de Waterloo”, mas como as Batalhas Encadeadas de Ligny e Waterloo, pois o deslocamento tático de Blücher, ( recuo a oeste, com gancho ao sul) após sua derrota para Napoleão em Ligny, para posterior apoio a Wellington em Waterloo, decidiu a Campanha belga.

  4. Devemos muito, a ele

    Se não fossem as guerras napoleônicas, que lançaram uma cortina de fumaça nas cortes portuguesas dificilmente teríamos conseguido a independência. Foi graças a napoleão invadir Portugal, que Dom João VI veio para cá e elevou o Brasil à categoria de Reino Unido à Portugal e Algarve. Também as independências de outros países latinos são deste período. Napoleão distraiu as metrópoles enquanto as colônias tratavam de suas independências.

    Também a queda da Bastilha, tudo o mais da Revolução Francesa, pôs um ponto final nas atrocidades medievalísticas, a “santa” inquisição foi para a guilhotina, e pararam com os espetáculos de gente queimada em fogueiras pelo clero. Aqui no Brasil também, a inquisição terminou após a nossa independência.

    Sem Napoleão, provavelmente teríamos tido o mesmo destino de Angola e Moçambique, colônias portuguesas na África, que só tiveram a independência em 1975.

  5. Leiam

      http://www.talleyrand.org/politique/concept_europe_part1.htm

     E vejam que a “União Européia” em um conceito politico, nasceu em Viena, há mais de 200 anos, a Polonia tambem.

      E Motta, discordo de vc. quanto a Talleyrand ser um “camaleão”, ele foi um visionário que se adaptava as condições politicas, de acordo com suas idéias, nunca traiu ninguem, ou a suas convicções – foi um dos genios politicos da História.

    1. Meu caro Junior, sou

      Meu caro Junior, sou admirador incondicional de Talleyrand, tanto que dei o nome dele a meu filho mais velho. Tenho 9 biografias dele, a melhor é de Tarlé, historiaor russo. Mas vale o que o Imperador Napoleão disse ao ver Talleyrand entrando na Sala do trono apoiado em Fouché, como todos sabem Talleyrand era coxo e andava mancando

      “”Eis que entra o vicio apoiado no crime””, Talleurand era um poço de vicios e Fouché era visto como um criminoso nato,

      ambos auxiliares fundamentais do regime napoleonico, apesar de Napoleão detestar a ambos.

  6. Sou frequentador assíduo 

    Sou frequentador assíduo  deste conceituado blog do Jornalista Luis Nassif ,onde quase sempre aprendo algo com as intervenções de vários comentaristas.Algo estranho ,porém ,está acontecendo;Tanto os comentários meus como de outra pesoa de minha família várias vezes não são publicados ,e outras quando são,às vezes são publicadas no outro dia.Hoje mesmo comentei neste artigo sobre Napoleão,em resposta a um dos internautas,e atá agora não foi publicado.

     

    Em todo caso ,mesmo não tendo sido ainda publicado meu comentário vou fazer outro ,que aliás não é nem comentário ,é mais uma consulta ,aproveitando que nesta página estão dois dos mais conceituados comentaristas deste blog,no meu entender.

    Quando Napoleão invadiu Portugal ,e a Familia Real portuguesa se transferiu para o Brasil ,em retaliação invadimos a Guiana Francesa .Porque tivemos que devolver a mesma para a França ,depois da derrota de Napoleão?

    É devida essa “injustiça ” à Talleyrand ?.Perdemos aí mais 90.000 quilometros quadrados .

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