Jucá tem razão: Isso aqui é suruba. Mas você não foi convidado, por Leonardo Sakamoto

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Jucá tem razão: Isso aqui é suruba. Mas você não foi convidado

por Leonardo Sakamoto

Quem teve estômago para assistir à sabatina de Alexandre de Moraes, indicado a ocupar a vaga de Teori Zavascki como ministro do Supremo Tribunal Federal, saiu com mais uma prova de que uma parte considerável da classe política despirocou e desistiu de manter as aparências.

Mesmo com seu polêmico currículo – que inclui desde uma gestão violenta da segurança pública em São Paulo, passando pela inabilidade em gerenciar uma crise nacional do sistema penitenciário até chegar a denúncias de plágio acadêmico – destacado desde que seu nome foi confirmado por Michel Temer, em nenhum momento ele passou real sufoco. A oposição sumiu, literalmente. Para terem ideia do que foi a sabatina, as cervejas que temos com amigos, no final de semana, contam com mais momentos de treta do que a ovação, desta terça (21), em Brasília.

O que é compreensível porque os senadores que são réus e outros tantos em investigação querem mais é que uma das soluções do governo Temer a fim de frear o impacto da operação Lava Jato à classe política assuma rapidamente no STF.

O país passa por um processo de derretimento de suas instituições – o que é, em minha opinião, a pior consequência do uso do Estado, à luz do dia, para proteger envolvidos em corrupção. O respeito da população com nossas instituições, que já era baixo, vai reduzindo cada vez mais, processo que não pode ser freado da noite para o dia.

Isso demandaria nova pactuação política e social, aliada a muito suor em articulações para a construção de consensos. Mas a reação em cadeia parece ser inevitável e nos levará inexoravelmente para algum lugar escuro que não imagino qual seja.

Por enquanto, o que o povo vê na TV é que os espertos representam a si mesmos e aos interesses de seus grupos, corporativo, econômico, político. O bem do país? Foda-se.

Instituições são responsáveis por ajudar a manter cada um no seu quadrado, seja através da força ou do diálogo, ao mostrar as vantagens em seguir as regras ou deixar bem claro o que acontece com quem as subverte. E quem estabeleceu a regras? Bem, se você está perguntando isso é porque não faz parte do seleto grupo que as fez. Apenas as aceita, por bem ou por mal.

Igreja, família, escola, trabalho, mídia, governo, cada instituição tem sua participação no processo de lembrar a cada um como se portar como engrenagem no processo. O problema é que quando, à luz do dia, pastores não demonstram arrependimento ao serem denunciados por usar igrejas a fim de lavar dinheiro; grandes empresários pedem que investigações contra a corrupção tenham um ponto final urgente para não atrapalharem a economia; atores sociais que atuaram em defesa do impeachment defendem calma diante da corrupção no novo governo; figurões do governo contratam parentes, manipulam vantagens para a construção de seus apartamentos ou deixam claro que, para eles, as leis são diferentes; e membros do Executivo, Legislativo e do Judiciário agem claramente para salvar sua pele e a de seus aliados, o cidadão comum passa a se perguntar: por que só eu tenho que seguir as regras?

Nisso, concordo plenamente com o senador Romero Jucá que, falando à Agência Estado, nesta segunda (20), explicou: ”Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada”.

A declaração foi uma crítica à proposta do Supremo Tribunal Federal de restringir o foro privilegiado de políticos apenas a fatos acontecidos no mandato em exercício, não abrangendo o que veio antes. Ele defendeu que a restrição do foro valha para todo mundo (como Judiciário e Ministério Público) ou para ninguém. Depois da repercussão negativa, disse que a declaração estava fora de contexto e, na verdade, ele estava citando uma música do finado grupo Mamonas Assassinas.

Talvez o trecho a que ele se referia, na música Vira-Vira, era ”Neste raio de suruba, já me passaram a mão na bunda / E ainda não comi ninguém!”.

Essa história de quem comeu quem, aliás, lembra a gravação da conversa que Jucá teve com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, que foi divulgada pela Folha de S.Paulo, em maio de 2016. Ele afirmou que havia ”caído a ficha” de líderes do PSDB sobre o potencial de danos da Lava Jato: ”Todo mundo na bandeja para ser comido”. Sérgio Machado, que era do PSDB antes de se filiar ao PMDB, afirmou então que ”o primeiro a ser comido vai ser o Aécio”.

Mas Jucá está correto. A sabatina de Alexandre de Moraes mostrou isso. ”Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada.”

Quem está faltando nessa suruba é o povaréu. Por enquanto, os que resolvem reclamar do come-come em Brasília e de suas consequências para a população (como reformas que tiram dos pobres para manter aos ricos) levam paulada da polícia.

Se os mais pobres se cansarem de ser xepa e, jogando para o ar o respeito às regras e às leis criados para ”não falarem de crise, mas trabalhem” e resolverem parar de sentir apenas dor para curtir um pouco do prazer que o povo do andar de cima sente desde Pedro Álvares Cabral, será uma zorra. Mas será lindo.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Vamos ser práticos?

    Vamos ser práticos? 

    As classes mais baixas não estão nem aí e adotam uma surpreendente postura de não se envolver, e pros batedores de panela o Temer pode passear pelado pela explanada dos Ministérios, que ainda assim o importante mesmo vai ser prender o Lula. 
     

     

  2. Até quando esperar ….
    Este

    Até quando esperar ….

    Este país está acabado. Esta na hora de Deus por todos e cada um por si. 

    Este povo bovino que aqui habita, ainda vai levar muito no lombo antes de reagir, e se reagir.

    Já passei da metade da minha vida, e sinceramente nunca vi um povo tão bundão quanto o povo brasileiro. Nós somos um povo miserável que aceita passivelmente que nos coloquem uma canga e nos açoitem sem piedade. E não damos um pio.

    Só nos manisfestamos quando somos tangidos como gado, e acabamos sendo massa de manobra, tal qual foi a cambada de coxinha-midiota que vestiu a camisa da seleção, se enrolou na bandeira do brasil ou do eua, colocou nariz de palhaço e foi às ruas defender que o rico não pagasse o pato, que a corrupção não é generalizada, que tem prazo de validade e tem partido que pode e partido que não pode.

    Estamos pagando a conta que de uma forma ou outra ajudamos a formar.

    Merecemos o que está acontecendo conosco e com este país, que miseravelmente será o eterno país do futuro frutrado.

     

  3. Realmente o Congresso é uma
    Realmente o Congresso é uma suruba.
    Mas só quem é enrabado é o PT.
    Não sei como aguentam tanta trolha.
    Ainda tem petista dando entrevista para Veja fazendo mea culpa.
    Esse babacas tem mais que serem encravados mesmo.

  4. Me permita acrescer que…

    Já me conformei com a máxima da democracia de que o cada povo tem o governo que escolhe abraçar.

    Além do derretimento das instituições descrito no texto de forma veemente, me permito acrescentar que TODO esse derretimento surgiu com a ruptura máxima provocada pelo impeactchment. Dilma avisou…

    Para legitimar e manter o pacto contra a Lava Jato logo após ter atingido seu alvo inicial, o PT, todos os atores da república tiveram que se corromper, em todos os aspectos.

    Maximo exemplo, o caso Moreira Franco. Se o STF age de forma diversa contra cidadãos apenas por seus partidos, impedindo LULA de ser ministro de cargo já existente, e permitir Moreira Franco ocupar um cargo CRIADO apenas para tal fito, nada mais sobra…

    Concordo com o texto: Não sei onde naufragará esse navio.. Só nao penso no pior porque a maioria verde e amarela só vai às ruas por ódio ao PT e quando manipulados pela mídia. Agora a mídia ajuda o “PLANO MICHEL”

  5. Em abril de 2016 fui à uma

    Em abril de 2016 fui à uma livraria e comprei o livro “Paula” de Isabel Allende que discorre sobre a  doença e morte de sua filha mas contextualizado histórica, polticamente e entrelaçado com as mudanças na vida de Isabel. Há um trecho no livro no qual ela descreve como os chilenos foram pouco a pouco sendo minados e jogados contra o governo de Salvador que culminou em tudo que sabemos. Do quanto nem mesmo ela percebia o quão grave eram todas essas ações. Plantações sendo queimadas, população enfrentando filas homéricas para pagar fortunas por um quilo de carne, quando esta não se conseguia no contrabando e tudo isso sendo vinculado pela mídia da epoca, o rádio, como sendo fruto de um governo comunista. A percepção do quão grave era se dá ao ir para o topo de um prédio e assisitir a invasão de La Moneda. É um livro triste. É um livro de Esperança para quem não teve opção e saiu do seu país e para o qual não mais voltou. Pablo…Gabo… Raduan…. O discurso de Gabriel Garcia Marques ao receber o prêmio Nobel é a nossa sina. Vislumbro tempos muito sombrios, mas de uma desesperança diferente desses anos de Chumbo, porque são poucos os Lugares nesse Mundo onde a esperança é substrato, adubo, semente e faz florescer. Quando o Saka cita a força, o poder, a ideia, das instituições que deveriam ser o norteador, mas não o são mais, remete, ao mesmo tempo, a fragmentação, diluição do tecido social. Tecido que nos unia e não nos une mais. As instituições refletem essa tecitura, gramatura, construida ao longo de muito, muito tempo. Onde os elos de confiança, solidiariedade, cooperação, valores pessoais e coletivos são entrelaçados. E estes romperam. Essa é uma das perspectivs uma que perfazem a Teroria do Planejamento segundo Friedmann. Participamos ativamente e em momentos assistimos passivamente a História se fazer neste blog. Um dia, alguém, terá a visão holística dessa porra toda e fará juz aos seus heróis e aos seus vilões. Talvez não seja pra minha geração, a dos anos 80, os perdidos, que nas redes sociais  coloca um emoji de aplausos e escreve “esse (essa) me representa” ou digita “Inacreditável”. Gostaria de fechar esse comentário “quadradinho”, mas não tenho como. O tal do “amanhã vai ser outro dia!” do Chico não cabe mais pra tanta coisa desconexa e talvez, amanhã, me convençam que “haverão” outros dias![video:https://www.youtube.com/watch?v=xbH2E1XfscA%5D

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador