Após participar da 3ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União Europeia (UE) em Bruxelas, semana passada, na volta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma escala em Cabo Verde para um encontro com o presidente do país, José Maria Neves.
A passagem de Lula pelo país de Cesária Évora parece coincidir com certa Sodade, em referência à música da cantora caboverdiana. Nas palavras do presidente do Brasil em Cabo Verde, na verdade, está a retomada da política africanista do governo iniciada em 2003 e suspensa nos últimos seis anos.
Lula declarou que irá recuperar as relações com países africanos e ajudá-los no que for preciso para o desenvolvimento econômico e social.
Desde suas outras duas gestões, Lula enxerga a importância da África nas relações exteriores do Brasil em busca de uma nova ordem mundial multilateral.
Em maio, Lula pediu uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas e no G20, que reúne as 19 maiores economias do mundo e a União Europeia, cobrando mais poder de decisão a países em desenvolvimento e a participação de países da África no grupo.
“Quero recuperar essa relação com o continente africano porque nós, brasileiros, somos formados pelo povo africano. O Brasil voltou ao mundo e voltou para contribuir para o desenvolvimento dos países amigos”, disse Lula ao presidente de Cabo Verde na capital do país, Praia.
Política africanista
O continente africano se adequou ao projeto de inserção internacional levado adiante pelos governos Lula, entre 2003 e 2010. A Cooperação Sul-Sul foi adotada nesses anos, o processo de articulação política e de intercâmbio econômico, científico, tecnológico e cultural entre países em desenvolvimento.
Conforme pesquisa apresentada ao 10º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal do Pampa, Aldana Moreno Vega e Rafael Balardim analisaram a política africana dos dois primeiros governos Lula e citam características retomadas na atual gestão do presidente.
Escrevem os pesquisadores que na busca por maior autonomia e inserção internacional o Brasil, Lula utilizou da Cooperação Sul-Sul para fortalecer a integração com o continente africano. O que significou também para o Brasil contribuir para que o continente conseguisse mais espaço nos organismos internacionais.
A iniciativa passa a reivindicar maior atuação nos fóruns multilaterais e cria alianças com parceiros estratégicos que se encontram nas mesmas condições. Com essa medida, a busca é por diversificar relações e fortalecer um bloco emergente e detentor de um PIB mundial.
O presidente de Cabo Verde destacou a importância de o Brasil voltar a ter protagonismo no cenário internacional. “A ordem mundial está num processo de transfiguração. Precisamos de lideranças visionárias, transformadoras e catalizadoras desse momento. O Brasil regressa ao mundo pelas mãos do presidente Lula da Silva”, declarou.
Livre comércio e investimentos
O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) chegou a ter uma linha específica para financiar trabalhos de infraestrutura de empresas brasileiras na África.
Em 2003, logo após a posse, Lula assinou, no âmbito do Mercosul, um acordo comercial com a SACU (União Aduaneira da África Austral) com vistas a estabelecer uma área de livre comércio entre os dois blocos e teve, como passo intermediário, um acordo de preferências tarifárias.
Houve, por exemplo, o Fórum IBAS através do qual África do Sul, Índia e Brasil buscaram juntos unir forças para estar no mercado agrícola dos países desenvolvidos.
Juntos, Brasil e África passaram a atuar conjuntamente no combate às epidemias, à pobreza e no desenvolvimento de tecnologias com o fim de superar os problemas dos países subdesenvolvidos.
Novas embaixadas
O presidente Lula anunciou também em Cabo Verde que o Brasil abrirá embaixadas em países africanos que ainda não tem. Lula afirmou ainda que fará viagens a países africanos ainda este ano e em 2024.
Conforme outros momentos, o Brasil pode contribuir com a África em diferentes áreas e Lula apontou possibilidades em transferência de tecnologia, educação, industrialização e agricultura, em especial no contexto presente de encarecimento dos alimentos, em função da guerra entre Ucrânia e Rússia.
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