A expansão do BRICS e a revolta do sul global, por Vitor Hugo Fernandes

Alguns países já pediram formalmente para fazer parte do grupo. Outros manifestaram interesse informalmente.

Roberto Stuckert Filho/PR

A expansão dos BRICS e a revolta do sul global

por Vitor Hugo Fernandes

Quando a URSS caiu em 1991, o mundo deixava de ser bipolar para ser unipolar. Nas duas décadas que se seguiram, os EUA foram hegemônicos, ditaram as regras da geopolítica e o mundo nunca viu, como nesse período tantas guerras, nem tanta concentração de renda nas mãos da elite global.

No entanto, esse cenário vai mudando com a ascensão vertiginosa da China, talvez a mais espetacular da História e em menor escala, da Índia, Brasil e África do Sul e o retorno de parte do poder da Rússia, perdido com o fim da URSS.

Os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em inglês), começou em 2006, como um fórum de discussão de alinhamento de interesses desses países em suas políticas externas. Rapidamente, os BRICS viram um dos principais assuntos da geopolítica, com o fortalecimento do bloco, que passa a ter um grande banco próprio de desenvolvimento, dirigido pela ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, fóruns regulares, etc. Além disso, começam a fazer transações sem o dólar, usando as moedas dos países membros, principalmente o yuan chinês.

Em 2022, com o início da guerra entre Ucrânia e Rússia, esta última sofre severas sanções econômicas, como congelamento e confisco de bens e recusos financeiros do governo russo, a expulsão da Rússia do swift, o principal sistema de pagamentos internacional, controlado pelos EUA, entre outras medidas duras.

Essa medida dos EUA, para punir um adversário e colocar medo nos inimigos mundo à fora, gerou efeito inverso.

Vários países importantes que tem no horizonte uma política externa mais independente dos EUA, perceberam que poderiam ser os próximos sancionados por este e provocou, na verdade, uma corrida de praticamente todas as “potências médias” do mundo para os BRICS, para se aproximar principalmente da China e consequentemente, se afastar dos EUA.

Alguns países já pediram formalmente para fazer parte do grupo. Outros manifestaram interesse informalmente. A lista dos países que já pediram formalmente para entrar nos BRICS é enorme. Na América Latina, duas das três maiores economias da região: Argentina e México.

Na África, temos Nigéria (o país mais rico da África), Egito e Argélia. Na Ásia, a lista é enorme: Turquia, Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Behrein, Indonésia (uma das principais economias emergentes do mundo), etc.

O prestígio dos BRICS é tamanho que até Emanuel Macron, presidente da Franca, pediu para participar da próxima reunião dos BRICS em agosto na África do Sul, mostrando que a zona gravitacional do bloco está tão forte, que até importantes potências ocidentais, historicamente aliadas dos EUA, estão demonstrando descontentamento com o alinhamento com os EUA e percebendo as vantagens econômicas de associação com o novo centro de poder global.

Essa corrida aos BRICS e a crescente desdolarização da economia mundial, revela uma espécie de rebelião do Sul global contra os EUA, depois de ser hegemônico no mundo por tanto tempo.

Ainda é cedo para dizer, visto que os BRICS ainda estão se estruturando e têm países com interesses distintos dentro do bloco, mas se unem no interesse de se afastar dos EUA e se aproximar da China, o que sem dúvida, é um dos fatores mais importantes na geopolítica desde a segunda guerra mundial. Parece que estamos mesmo assistindo ao fim do império americano.

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