Golpe no Chile: durante celebração em Santiago, ministros defendem criação de museu no Brasil

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Ministros Dino e Almeida defendem criação de Museu da Memória e Direitos Humanos no Brasil durante celebração dos 50 anos do golpe no Chile

Estádio Nacional, no Chile, setembro de 1973: para lá foram levados prisioneiros políticos que acabaram torturados e mortos. Foto: Evandro Teixeira/Acervo IMS

Não quero falar por um largo tempo

silêncio, quero aprender ainda, 

quero saber se existo 

Pablo Neruda, Aí Está o Mar? in Últimos Poemas

Cerca de 150 brasileiros e brasileiras, que fugindo da perseguição, tortura e morte se refugiaram no Chile durante o governo Salvador Allende, derrubado por um golpe militar há 50 anos, em 11 de setembro de 1973, estiveram no Museu da Memória e dos Direitos Humanos de Santiago, neste domingo (10), durante abertura de exposição fotográfica alusiva ao golpe, para agradecer a acolhida no país então socialista e democrático solapado por Augusto Pinochet. 

Países vizinhos ao Brasil, e então livres de ditaduras, foram o destino de milhares de perseguidos pela ditadura militar (1964-1985). Todavia, conforme militantes, políticos, professores, artistas, escritores e jornalistas se refugiavam em busca de liberdade e direitos humanos, mas se viram enredados em novos novos golpes militares numa onda que abateu a América Latina e Central. 

O jornalista e professor José Ribamar Bessa Freire, perseguido pela ditadura militar no Brasil pelo trabalho na chamada imprensa alternativa, é um dos que estão no Chile para lembrar do golpe. Ele afirma ter ido ao país para levar flores aos túmulos de Salvador Allende e Victor Jara. “Tivemos amigos e amigas presos e torturados aqui (aponta para trás) no Estádio Nacional”, conta.

No Museu da Memória e Direitos Humanos de Santiago acontece a exposição sobre a ditadura chilena e a morte de Pablo Neruda, do fotógrafo brasileiro Evandro Teixeira. Junto aos 150 ex-perseguidos políticos, estavam os ministros Flávio Dino e Silvio Almeida. O jornalista chileno Tebni Pino, integrante do Observatório de Geopolítica do GGN, conversou com os ministros. 

Representando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ausente por conta de compromissos internacionais relacionados ao G20, o ministro da Justiça Flávio Dino transmitiu a mensagem de que a Presidência do Brasil manifesta gratidão ao povo chileno no que considera “um importante momento de celebração da história da América Latina”.  

Dino fez referência aos brasileiros e brasileiras exilados no Chile, acolhidos de forma cordial e humana pelo governo Allende, e tratou o Museu da Memória e dos Direitos Humanos de Santiago como uma “inspiração para o presente e o futuro democrático do Brasil”.  

Justiça, verdade e não repetição

A fuga desesperada deixou sobreviventes e milhares de outros que morreram em centros de tortura ou seguem desaparecidos. Para o ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida, que esteve neste domingo (10) em Santiago, no Museu da Memória e dos Direitos Humanos, “já passou da hora de termos (o Brasil) um museu desses, mas uma série de circunstâncias nos fez não ter”. 

Para o ministro, nos fez não ter “ainda”. “Acho que é o nosso papel, papel dos ministros dos Direitos Humanos, Justiça e Cultura (presentes no Chile), lutar para que haja um museu desse. Sem memória, não tem Justiça, não tem verdade e, sem Justiça e verdade, a gente repete os mesmos erros”, completou Almeida.

O fotógrafo Evandro Teixeira entende que a exposição mostra os horrores da ditadura no Chile, mas também no Brasil porque tratam-se de situações de uma mesma natureza antidemocrática e violenta. “Passei semanas de muito medo e muita tensão (no Chile), e também preocupado porque jornalistas estavam sendo mortos também”, conta. 

“Hoje é um momento de retorno, de memória, um momento de celebração. Esse museu representa a história do Chile. Hoje eu não vou chorar porque já chorei demais. Hoje é um dia de felicidade por essa conquista e fico feliz de estar hoje aqui, de poder contar a história”, encerra Teixeira. 

Enterro de Pablo Neruda no Cemitério Geral de Santiago, em setembro de 1973, marco da resistência à ditadura Pinochet. Foto: Evandro Teixeira/Acervo IMS

Exposição: 50 anos do golpe 

Em alusão aos 50 anos de golpe de Estado no Chile, o Museu da Memória e dos Direitos Humanos de Santiago abriu uma exposição neste domingo (10) do fotógrafo brasileiro Evandro Teixeira sobre a ditadura chilena e a morte de Pablo Neruda. 

Há fotos da destruição do Palácio La Moneda, onde Salvador Allende resistiu, de arma em punho, aos golpistas até o seu martírio. Também do Estádio Nacional do Chile, para onde foram levados grandes levas de presos políticos para sessões de tortura, sevícias e execuções, caso do compositor Victor Jara.    

Teixeira foi o primeiro fotógrafo do mundo a captar o falecimento de Pablo Neruda, cujo velório e enterro foram o marco inicial de resistência ao regime ditatorial instaurado naquele país pelo general Augusto Pinochet. 

A exposição é uma realização da Embaixada do Brasil no Chile e apresenta cerca de 40 fotos que integram a exposição de Evandro Teixeira, considerado um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

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