As lógicas dentro dos sistemas econômicos, por Delfim Netto

Da Folha

Lógica
 
Antonio Delfim Netto
 
O grande economista e estadista Luigi Einaudi (1874-1961), ao analisar a confusão austríaca dos anos 30, indagou: “Quem assumirá a responsabilidade de conservar, renovar e fazer crescer o capital nacional, se os impostos, os altos salários e a previdência social não deixarem nenhuma margem de lucro para as empresas?”
 
“É preciso ser lógico”, respondeu. “Ou se tenta como na Rússia, com sucesso ou não –isso não importa–, construir outro sistema social, fundado em motivos diversos dos de nossa sociedade, ou é preciso resignar-se e aceitar o elemento motor da empresa privada, que é a expectativa de lucro proporcional ao investimento realizado.”
 
Na verdade, os dois sistemas respondem à mesma estrutura interna de crescimento: a transformação do excedente produtivo em investimento, feito ou pelo setor privado ou pelo burocrático que detém o poder político. Em princípio, se os problemas de informação puderem ser superados e se for possível estabelecer incentivos que compatibilizem os valores dos indivíduos com os objetivos estabelecidos pela burocracia, o sistema deve funcionar razoavelmente. O problema é com os “ses”!

 
De fato, se aqueles problemas não existissem, como supõem alguns altruístas amadores, talvez a economia centralizada pudesse ser mais eficiente do que o mercado. Restaria, entretanto, resolver o problema da liberdade, isto é, como impedir que a dominação do homem pelo homem no mercado, seja substituída pela sua dominação ainda mais dramática pelo burocrata, que é o que ocorreu na prática.
 
Com todos os seus defeitos, o mercado assegura algumas escolhas para os indivíduos. Quando o Estado é empregador universal, não há alternativa para os inconformados!
 
Até agora a centralização revelou-se incapaz de atender simultaneamente às exigências de uma produção razoavelmente eficiente e o exercício mínimo da liberdade. Esta é, obviamente, uma questão empírica que não pode ser resolvida no nível teórico. O homem vem tentando fazê-lo, praticamente, ao longo da sua história. É por isso que não é proibido sonhar como os jovens generosos de hoje: nada garante que o que não foi possível até aqui, não possa sê-lo no futuro.
 
Não é preciso, pois, aferrar-se ao imobilismo ou pretender que toda mudança é uma ameaça. Não é preciso aceitar os defeitos do capitalismo como se fossem dogmas religiosos. Não é preciso supor que não possamos melhorar a situação dos mais carentes. Mas não é saudável ceder à tentação simplista que ignora as restrições físicas, ou ao democratismo reacionário que pensa poder calcular, pelo voto da maioria, o valor da raiz quadrada de dois!
 
Como disse Einaudi: “Bisogna essere logici”.
Redação

6 Comentários

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  1. Um discurso vendido para a

    Um discurso vendido para a economia do século XIX. Nesse momento da história, onde a imprevisibilidade é a única expectativa que direciona o crescimento da Recessão, ou a recessão do Crescimento – conforme poderia dizer Mirian. 

    Acho que o livre mercado é inevitável, mas interesses de grandes especuladores agem no sentido de subverter a lógica, buscando destruir todas as liberdades que não forem compradas.

    Alguns poderiam dizer que não há o que se falar em sistema moral nesse jogo. Outros diriam que num sistema de mercado material e imaterial, tudo pode ser tratado como mercadoria e a consequência disso é a natural interferência no próprio sistema visando o máximo aproveitamento. Aplicando todos os seus fundos vindos de benesses estatais na subversão de todas as garantias.

    Ora, mas isso é deveras contraditório. Pois se há algo mais noticiado em tons de alarde, é essa tal necessidade de garantias. No entanto, regulação e garantias andam juntas. E o próprio termo ” Garantias ” assume diversas nuances.

    Se transpusermos esta visão para a imprensa, o movimento é o mesmo: regulação zero, e “garantias” máximas – para publicarem “qualquer coisa”.

    Resta aguardarmos quais serão os próximos significados quando surgirem os derivativos do tesouro.

  2. Eis arcaico “ou ou”.

    Ou  socialismo Ou capitalismo! Ora, tal proposição  só pode nos levar a uma conclusão verdadeiramente falsa  quando um deles é falso. Como os dois são  falsos, e ainda, um não anulando o outro, só podemos concluir que  a única  verdade possivel é que o que foi dito por V.Sa é falso. 

    Se vier com o papo furado de queda de muro de berlim para justificar a vitória de um engula a china ou marinaleda etc. 

    Lado outro, cabe a pergunta: O  que “é” a verdade?  Diga ai, caro economista de escol. Aproveite e nos ajude a descobrir também o que “é”, e quem “é o deus do universo. Sem dogmas, é claro.  Todos nós ficaremos cosmologicamente felizes com a descoberta da eterna paz mundial.

    Evidentemente, a proposição “ou / ou” é rasa  e reducionista. Logo,   resultará , como resultou, em  mais um sofisma econômico, mesmo com o engodo,   coeteris paribus.

    Não obstante, registra-se que o   tempo para comer bolo à vontade ja passou, mas o pensamento que se diz econômico, sobretudo, quando alinhado à abstração matemática( raiz quadrada que qualquer coisa)  ai está. E para quem pensa assim, a igualdade, de fato, só existe na matemática.

    Cá pra nós, essas falácias econômicas servem  para ganhar prêmio nobel, não é mesmo? É claro, ganha-se  o prêmio quando se  diz o que alguns querem ouvir, de acordo com as circunstancias e com toda aquele arranjo probabilistico sofisticado. 

    No fim, se não tem ouro pinta o papel e manda bala.

    Se a curva não chega ali no break even point é porque o consumidor , de si mesmo, isto é,  o otário, não tem informação suficiente diante da assimetria. Por isso mesmo é um perfeito idiota vulnerável para uns. Para outros não. Ele é o rei e dita as regras e não permite a formação de monopólios( naturais) .  

    Enfim, é muito papo furado neste engodo econômico que vem dominando o mundo do Estado moderno prestes a falir de vez. 

    Por essas e por outras já chega.  Basta de pensamentos econômicos enviesados e falaciosos, travestidos de erudição.

    Com premissas maiores não demonstradas é evidente que o  problema não para nos  “ses”. Principalmente, nos “ses” escolhidos pelo famigerado economista do “bolo” fermentado.

    É querer reduzir demais a possibilidade de condutas humanas aos dois “ses”, escolhidos por ele mesmo. 

    Dominação do homem pelo homem existe desde sempre, mesmo antes de weber, e  vai continuar existindo.

    E  para isso  é claro,  conta com a ajuda das correntes filosóficas, aliadas ao pensamento fajuto econômico- como este acima –  e ainda aliado ao  direito positivador de burocracias, inclusive, esta última amplamente aplicada pelos detentores da natural  propriedade privada, mas que sentem nojo quando aplicada á propriedade pública. 

    Cabe aqui ainda destacar o uso do vernáculo, com termos aglutinadores,  formando-se orações ou proposições abertas aqui e ali, agregando-se pitadas ideológicas igualmente aqui e ali etc. Tudo isso só poderia mesmo resultar nos já  conhecidos sofismas econômicos. Selecionei  alguns  termos  aglutinadores de significados citados pelo autor. No fundo, representam formas de organização humana escolhidas a dedo para conservar o interesses de poucos. Vejamos.

    Mercado

    Empresas

    Lucro

    Burocrata ( burocracia)

    Razoavelmente eficiente

    Mínimo de liberdade

    Defeitos do capitalismo  versus dogmas religiosos

    Democratismo reacionário ( essa expressão foi formidável)  .Voto da maioria  versus raiz quadrada de dois.

    Explique ai, nobre economista o que é democracia reacionária e o que não seria democracia reacionária. E o que seria democracia sem adjetivos. 

    Utilize-se da psicologia de menger – e de seus seguidores –  para buscar a felicidade social, se preferir.

    Aproveite para pegar a libido de outro austríaco famoso e justificar a “produtividade”.  (Freud)

    Utilize-se igualmente, daquele que cercou um pedaço de terra e disse para os outros que agora seria dele e encontrou os primeiros idiotas para acreditar nisso ( rousseau)

    Enfim,  a lógica parece ser , exatamente,  o que não deve   e nem deveria ter num sistema econômico aberto no caos.  E muito menos ainda ser propagado como verdades lógicas onde não há tal possibilidade. 

    Caso contrário, prove ai a eficácia destes modelos alienígenas ao serem aplicados nas capitanias hereditárias. Aponte  as  “verdades”  existentes em qualquer modelo econômico. Teremos o prazer de identificar  a fraude intelectual que representa o pensamento  econômico em prol da liberdade, igualdade e fraternidade, mentirosas na origem. 

     

    Em suma, o pensamento, quando flerta com a economia,( isto é, os fracassados modelos econômicos)  só pode dar em m….   mesmo.

    Aqui caberia sim o uso do brocardo já em vernáculo:   pensamento econômico, vai tomar… 

    1. Dinamogenia econômica

      Esta é a expressão aglutinadora da moda. Os modernistas já a consagraram rsrsrsrs… O Delfin ainda não captou as últimas tendências da moda …

      Nos assunto, muito papo e pouca ação.

      São oito as direções possíveis e a mente é quântica no seu processamento interno, assim, equações quânticas é o mínimo minimorum para uma sofisticaçãozinha razoavelmente crível meia boca.

      Continuo com a Astrologia, o Tarot e a Geometria é óbvio.

      1. Olá A. Weber

        Dinamogenia econômica…

        Não tinha associado ainda este vocábulo à economia. Vivendo e aprendendo. Aliás, é por ai mesmo, isto é, vivendo, criando, aprendendo e apreendendo ” signos” para formular enunciados e por ai vai.

        De qualquer forma, suponho que o Delfin não deve tá vendido nessa não. Ele é muito esperto e gosta de bolo de aniversário. Logo, sua mente deve ser bem tranquila, relaxada, desestressada o que aprimora a percepção sensorial.

        Por outro lado, concordadamos no seguinte: muito papo e pouca ação,  no melhor sentido da palavra. Muito diagnóstico e pouca implementação.

        Isso também contribui para o aumento da  minha birra com os  “economistas”. 

        Quanto aos estudos da mente humana,  mamamia!  Deixemos para um outro debate. Assunto complexo e aparentemente infindável.

        Cérebro, mente, sensibilidade, enunciados ….

         

        Bom dia e até o próximo debate.

         

         

         

  3. Mesmo discordando

    Mesmo discordando radicalmente de suas ideias, é de se reconhecer que Delfim Netto é o maior economista da direita brasileira.

    Quando se pensa que da nova geração a mídia dá destaque a Rodrigo Constatino e afins dá vontade de chorar.

  4. “Quem assumirá a

    “Quem assumirá a responsabilidade de conservar, renovar e fazer crescer o capital nacional, se os impostos, os altos salários e a previdência social não deixarem nenhuma margem de lucro para as empresas?”

    Isso é enigma para Defim?

    Ele sabe muito bem que a raiz do crescimento do capital nacional não se funda com essa mentirosa equação. Quem assume a responsabiidade de conservar e renovar o capital dessa formula acima são os empresários, segundo uma margem de lucro colocada acima da planilha.

    Crescimento do capital nacional quem decide é o investidor internacional e o ambiente de confiança para garantir o retorno do investimento especulativo com juros.

    É necessário, em primeiro lugar, elevar o nível dos economistas para não espalhar sofismas como se fossem problemas nacionais.

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