Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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PUC Rio volta a reinar sobre a política econômica, por André Araújo

Por André Araújo

A PUC RIO VOLTA A REINAR – A escola de pensamento econômico que chegou ao apogeu de poder e prestígio com o Plano Real volta a reinar sobre a política econômica através da nova Diretoria do Banco Central, com o Presidente e três diretores vinculados à Escola de Economia da PUC Rio, uma escola de pensamento econômico ultra ortodoxo e herdeira da visão conservadora que nasce com Eugênio Gudin, fundador dos cursos de economia no Brasil, que via o Brasil como economia subsidiária dos grandes centros e deveria se conformar com isso, Gudin era anti-industrial e ligado ao comércio importador do Rio, seu antípoda só poderia ser um paulista, Roberto Simonsen, empresário e a favor de uma economia baseada na indústria e não na importação, o Rio vivia de intermediação e São Paulo vivia da indústria, está no DNA das duas cidades.

A PUC Rio herdou a agenda de dependência externa que veio de Gudin e só conhece um tipo de economia, alicerçada nos países centrais, tanto como fornecedores de capitais como de produtos, ideias, turismo, eventos, vive-se do que vem do exterior e não do que se produz.

Nenhum dos países dos BRICS tem essa visão, todos acreditam na importãncia de uma sólida indústria nacional e não pretendem depender exclusivamente do mercado financeiro internacional, os grandes emergentes China, Índia e Rússia tem completa conexão com a economia global, mas nunca deixaram de controlar sua economia com um projeto nacionalista, um comando firmemente dentro do País e não baseado na finança internacional, como é o que a PUC Rio propõe para o Brasil, uma economia de país de terceiro nível e não de um País potência.

Com o Plano Real, a PUC Rio atingiu seu apogeu, toda a “equipe do Real”  era da PUC Rio, que a partir daí passou a dominar o Banco Central , excluindo do processo os economistas da produção que anteriormente formavam pelo menos parte das equipes econômicas.

O problema conceitual e operacional dos economistas da PUC Rio é que eles são formados e treinados com alta especialização em macroeconomica, e não tem interesse em microeconomia, aquilo que são os sistemas da economia agropecuária, da economia industrial, da logística, da infraestrutura, do  comércio. Toda a concentração dos economistas da PUC Rio é na moeda, câmbio e juros, eles não tem interesse nos aspectos que consideram menos nobres da economia, eles buscam fanaticamente construir modelos em que devem estar em ordem a estabilidade monetária, o câmbio e os juros, fatores como emprego e renda da população ou considerações sociais estão fora de seus campos de interesse.

Nem sempre foi assim no Brasil, economistas como Roberto Campos, Delfim Netto, Otávio Bulhões, Mario Henrique Simonsen e Ernane Galveas tinham visão muito mais ampla do conjunto da economia e de suas bifurcações sociais e políticas, todos eram culturalmente mais bem equipados, não cultivavam tanto os modelos matemáticos e tinham muito mais faro com as correlações da economia com o Poder.

Ter exclusivamente economistas de finanças dirigindo um País complexo e repleto de reverberações e conflitos sociais é uma temeridade, eles simplesmente não são equipados para dirigir toda a economia, são equipados para dirigir um banco de investimentos,  universos muito diferentes.

O maior capital desses economistas são suas conexões com o exterior, com o FMI, Banco Mundial, universidades americanas, muitos deles já moraram e pretendem morar no exterior, aliás o sonho de muitos deles é chefiar uma divisão no FMI ou uma vice presidência do Banco Mundial como final de carreira com a família inteira devidamente instalada nos gramados de Washington, Boston ou Palo Alto.

Permito registrar que minha critica é de natureza puramente ideológica e refere-se a uma escola de pensamento econômico e não à escola física da Economia da PUC Rio, uma faculdade altamente qualificada pela excelência de seus professores, pelas belas instalações e pela categoria dos alunos, enquanto escola que confere diplomas, a crítica aqui se trata exclusivamente da Escola no sentido intelectual do termo. Eu descrevi em contexto com muito maior inserção histórica  em  livro escrito logo após a implantação do Plano Real denominado “A ESCOLA DO RIO”, editora Alfa Omega, livro que versa sobre o pensamento da Escola de Economia da PUC Rio.

Outro componente importante é a uniformidade ideológica dos estudantes da PUC Rio, formam uma  irmandade muito mais forte do que os estudantes egressos da USP, seu contraponto ideológico em São Paulo é a UNICAMP, a escola nacional desenvolvimentista.

Os egressos da PUC Rio se consideram superiores, são os economistas “ricos” porque associados a bancos, afinal estudaram para serem banqueiros, enquanto os da USP ou UNICAMP são encontradiços em federações de indústria e de comércio, em institutos de pesquisas econômicas, em empresas industriais.

Nenhuma das demais faculdades construiu uma “turma” fechada como a PUC Rio, onde um vai, leva cinco ou dez colegas que pensam igual a ele e esse é o perigo das equipes econômicas constituídas só por “PUCs Rio” não há um pensamento dissonante nem de tom e nem de grau, para um essencial debate interno nas instituições que dirigem.

Hoje o Brasil atravessa um momento político e social muito diferente de 1994, mais problemático e complicado pelo desemprego que não havia em 1994, havia inflação mas não desemprego na escala de hoje, o quadro social é muito mais complexo, há classe que ascendeu e caiu,  uma inteira nova geração de jovens sem nenhuma oportunidade de emprego, o mundo social e político está visivelmente conturbado e esse grupo não tem roteiro para lidar com esses problemas, sua receita pode ser boa para o mercado financeiro mas para as aspirações de grande parte da sociedade brasileira de hoje, creio que eles não tem a sensibilidade e o radar necessário, pelo menos o discurso de posse de Ilan Goldfajn foi muito mais restrito do que a situação hoje exige, sem mínima preocupação com a recessão, como se esse não fosse um problema e os comentários que se ouvem é que Goldfajn é o mais flexível da equipe, os demais estão à direita dele.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

9 Comentários

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  1. Não é lindo…?!

    A exemplo dos anos 90, época das privatizações, logo logo teremos mais uma rodade de super ricos, de talhe financeiro, no Brasil.

  2. Assino embaixo o artigo do

    Assino embaixo o artigo do AA. Fui aluno de Engenharia Mecânica da PUC-Rio no início dos anos 90 e vivi esse ambiente. Mesmo no meu curso, todos só queriam ir para o mercado financeiro (i.e., bancos de investimento), dando uma banana para qualquer atividade produtiva, vista como coisa menor. Eu mesmo disputei várias vagas em bancos de investimento (cheguei entre os finalistas da seleção do Marka, do Cacciola, mas morri na praia…) e acabei em controladoria de multinacional do petróleo. Depois, desisti dessa vida, fui para a COPPE/UFRJ para fazer mestrado e doutorado e hoje sou docente de universidade federal. Em tempo, sempre fui de esquerda e meu pai era engenheiro em uma grande estatal. Isso mostra como era contagioso o ambiente da PUC na época…

  3. Análise corretíssima, mas

    Análise corretíssima, mas lembre-se das contradições: a USP é a Alma Mater de Zélia Cardoso. Além disso, a UFRJ é desenvolvimentista, o que supostamente vai contra a “natureza econômica” da cidade. Nelson Barbosa é um exemplo disso. 

  4. Repito duas, três, mil vezes:
    Repito duas, três, mil vezes: quem quiser acreditar que os “ases” da PUC-Rio pregam o que pregam por pura e simples ideologia, que acredite – mas HAJA estômago para engolir essa ridícula versão.

    Eles movem uma roda que envolve TRILHÕES de reais ao longo de poucos anos (SELIC e dívida pública), sendo risível atribuir a uma “coincidência” que sejam visceralmente ligados aos mesmos bancos que ganham avalanches de dinheiro a partir dessas decisões.

    É o mesmo que crer que um industrial defenda o fechamento puro e simples do mercado apenas por crer, piamente, que desse modo o consumidor será beneficiado. O fato de ganhar dinheiro por falta de concorrência seria só um “efeito colateral”, nem imaginado.

  5. Tomariam bomba

    Numa escola de economia com um mínimo de seriedade, não dominada pelo mercado financeiro (existe isso?), essa turma seria reprovada de cabo a rabo. Bastaria um fato: sua defesa de uma Selic a 14,25% em um país com recessão brutal e sem inflação de demanda. Seriam internados em um hospício ou processados por crime de lesa-pátria.

  6. O Brasil talvez seja o único

    O Brasil talvez seja o único lugar do mundo em que professor universitário vira banqueiro. Isso lógico depois de uma breve e as vezes não tão breve passagem por instituições (IPEA) e bancos (BB, BNDES e Bacen) públicos.

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