Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Autocríticas-propositivas no timing adequado, por Francisco Celso Calmon

Como preparar as forças de esquerda e as classes dos trabalhadores para sustentar a democracia e estar empoderada para vencer no timing da ruptura?

Autocríticas-propositivas no timing adequado

por Francisco Celso Calmon

Importantes lideranças do Partido do Trabalhadores têm vindo a público, através de lives, palestras e artigos, com um discurso autocrítico-propositivo da mais alta importância histórica.

Longe de ser discurso dramático e ou de flagelo, são narrativas de reconhecimentos dos erros do passado, com base na história, com fundamentação e propostas de eixos e tarefas. E, como militantes, não se limitam a essas narrativas, estão indo nas bases de filiados e simpatizantes de esquerda para debater, para contribuir na formação e orientação de um novo ciclo da práxis revolucionária.

Uma das propostas é a construção de Frente de Esquerda. Não se trata de centro-esquerda e sim dos partidos anticapitalistas, socialistas e pela democracia de raiz.

Nesse sentido exponho algumas posições necessárias nessa construção unificadora.

1 – Revogação de todas as medidas que retiraram direitos da sociedade civil.

2 – Reconhecer a necessidade da revolução social, ou seja: de transformações estruturais radicais.

3 – Desconectar o conceito de processo revolucionário com o uso a priori da violência revolucionaria. Embora em tempos nazifascistas é mister os grupos de autodefesa.

4 – Espraiar o conceito de democracia de raiz e a sua construção de baixo para cima.

5 – Enquanto a lógica da democracia é de crescente igualdade e participação de todos, a lógica do capitalismo é de crescente concentração de riqueza e renda em detrimento da maioria. Portanto, ampla conscientização de que democracia e capitalismo podem coexistir por um tempo, mas não por todo tempo. Haverá o estágio da ruptura pró democracia e socialismo ou golpe das forças conservadores e reacionárias.

6 – Apontar o bolsonarismo como o principal inimigo na conjuntura. E o imperialismo e seus aliados internos como inimigos estratégicos.

7 – Nós como defensores do humanismo e eles como apologistas da barbárie, do malthusianismo e darwinismo social.

Como preparar as forças de esquerda e as classes dos trabalhadores para sustentar a democracia e estar empoderada para vencer no timing da ruptura?

Conhecendo a história e gerando a consciência de rejeição à escravatura e aos períodos autoritários e ditatoriais, portanto, a educação e a memória são fermentos nas massas para a indignação, organização e politização.

O Partido dos Trabalhadores não precisa refazer seus estatutos e resoluções congressuais, pois no papel a prioridade é da luta social e o objetivo é o socialismo democrático.

Ocorre que a estrutura pendula para a luta institucional. Sua estrutura organizacional é voltada para a luta institucional, especialmente para as eleições. Os parlamentares têm assentos nas instâncias, por serem parlamentares. Em contrapartida os dirigentes dos movimentos sociais e sindicais não gozam do mesmo status.

A estrutura organizacional para ser equilibrada, não digo nem para pendular pela luta social, precisaria ser modificada.

Teria que considerar a atual estrutura como uma torre e construir outra paralela. A atual voltada para o institucional e eleitoral, a segunda para o social. De um lado o diretório municipal, de outro o comitê municipal de luta social; acima dos dois um comando único paritário. E assim percorrer as instâncias, estadual e nacional, ou seja, haveria diretórios e comitês estaduais, formando comando paritário estadual, e idem no plano nacional. Abaixo dos diretórios e comitês municipais os núcleos e as células por local de moradia, de trabalho e de estudo, respectivamente.

A referência ao PT é por ser o maior partido de esquerda, mas as sugestões servem para análise dos demais partidos.

O PT como um todo e não só, e sim toda a esquerda socialista, retomar a concepção e prática de agitação e propaganda. Agitação da tática, propaganda da estratégia.

A agitação e a propaganda, reunidas por meio desse acrônimo, agitprop, é permanente. Na agitação a denúncia e a ação mobilizadora em cima da conjuntura.  Abaixo o bolsonarismo, fora Bolsonaro, queremos vacina para todos, taxação para a riqueza dos mais ricos e dos lucros e dividendos das empresas, são palavras de ordem para estimular a ação quanto ao desemprego, quanto à retirada dos direitos, contra o negacionismo.

A atividade de Propaganda está voltada precipuamente para a exposição metódica das ideias pelo socialismo, para dissecar sobre o sistema e esclarecer a causa das desumanidades do capitalismo, para explicar a estratégia de acúmulo de forças para a ruptura com  o sistema, para debater como construir uma democracia de raiz, capaz de sustentar um governo popular, enfim, a propaganda visa a formação da consciência de classe, a agitação é instrumento de comunicação para mobilizar as massas para agir no curto prazo, para uma greve, uma ocupação de uma rádio etc.

Um outro acrônimo e mais amplo é o FOP – Formação, Organização e Protagonização das classes trabalhadoras, como um trabalho perene, em qualquer estágio da organização social de qualquer sistema, seja capitalista, socialista, democracia ou ditadura.

É doloroso carregar na consciência erros históricos, mas é grandioso reconhecer ainda em tempos de mudanças e de novos rumos. Parabéns a esses guerreiros das causas democráticas e socialistas.

Francisco Celso Calmon, ex-coordenador nacional da Rede Brasil Memória, Verdade e Justiça – RBMVJ, membro da coordenação do canal resistência carbonária.

Francisco Celso Calmon

Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.

1 Comentário

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  1. Erik Olin Wright, no livro “Como ser anticapitalista no século XXI?”, mostra que não é preciso o capitalismo acabar para que estejamos no socialismo. Não somos capitalistas por este ser a única forma existente, mas sim por ser a que predomina. Existem estruturas anticapitalistas por dentro das instituições. A ação deve ser no sentido de fortalecer e ampliar estas estruturas, até o ponto em que sejam mais relevantes que o capitalismo remanescente.
    Acredito que apregoar o extermínio do capitalismo mais afasta a sociedade do que a engaja em processos contra a corrente.
    O livro também analisa como a divisão social é muito mais do que as velhas categorias de classes sociais. No meu modo de pensar, o grande problema é que o trabalhador também ascendeu ao capitalismo. Pode-se pensar em outros engajamentos do trabalhador, mas pedir que odeie o capitalismo só o torna inimigo.

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