Um filósofo no Ministério da Educação: diálogo, engajamento e a Pátria Educadora

 

por Luiz Claudio Tonchis 

A nomeação do Filósofo Renato Janine Ribeiro para o Ministério da Educação, no último dia 6 de abril, causou certa euforia na comunidade educacional e reacendeu a esperança de milhares de brasileiros quanto à solução dos problemas educacionais que tanto amargam o país. Não é nenhuma novidade que na atual configuração de mundo, a baixa qualidade da educação é o principal entrave para o crescimento econômico e responsável pelos múltiplos problemas sociais que aterrorizam a nação brasileira.

O Brasil é um país muito desigual em termos sociais, econômicos e também em educação. São as diferenças em educação que reproduzem as outras diferenças. O paradoxo é que ao mesmo tempo em que as questões sociais são entraves para o desenvolvimento da qualidade da educação, a educação, ela mesma, é a solução para resolver grande parte dos problemas sociais.

A boa reputação de Renato Janine Ribeiro, seu histórico acadêmico, e, principalmente por não possuir filiação partidária, fez com que sua indicação tivesse uma boa aceitação, inclusive dos opositores à Presidente Dilma. Foram muitos elogios e poucas críticas.

A expectativa é que o ministro acerte e faça uma boa gestão. Um bom começo seria a partir de um ponto no qual ele mesmo criticou a presidente – a falta de diálogo. Janine foi capa da edição de março da revista Brasileiros, quando concedeu uma entrevista. Na ocasião, ele afirmou que os avanços sociais do governo federal se deram apenas pelo consumo, e criticou a falta de diálogo da presidente.

Em outra entrevista à revista Carta Capital, o filósofo lamentou ainda a interdição do debate por causa da exagerada polarização política. “Existem setores realmente empenhados na destruição do outro”, lastima. “A radicalização inviabiliza qualquer debate sério. De forma pueril, tudo se converteu numa luta do bem contra o mal. E contra o mal não há diálogo possível. É preciso erradicá-lo”, disse Renato Janine Ribeiro.

Pois bem, Janine assinalou em suas entrevistas, e também no discurso de posse, a importância do diálogo. O debate é realmente fundamental para a consolidação das políticas públicas e conquista das metas definidas no Plano Nacional de Educação (PNE), em respeito ao artigo 214 da Constituição Federal – mas não é tudo. É o primeiro passo para o engajamento pleno de todo brasileiro na causa educacional.

Atualmente, é muito comum a manifestação de indignação e revolta contra a baixa qualidade da educação. Refiro-me aos que criticam contundentemente o Estado e as políticas públicas educacionais ou a ineficiência delas. Aqueles que expõem sua indignação, se mostram como pessoas sensíveis, preocupadas, críticas etc. Para esses, porém a má qualidade da educação não é vista como um “problema meu”. A mera indignação revoltosa não passa de um radicalismo que inviabiliza qualquer debate sério. Por isso, o ministro tem que ter em pauta, estratégias para desconstruir essa indignação em voga e envolver todos num só propósito para salvar o Brasil de uma tragédia maior. Janine tem todas as condições para isso. Se ele perder essa batalha, quem perde somos todos nós, brasileiros.

Outros problemas que devem ser enfrentados com urgência pelo ministro são a baixa qualidade da formação e os baixos salários dos professores que atuam na Educação Básica. Embora essa modalidade de ensino seja de responsabilidade dos sistemas municipais e estaduais em colaboração com a União, cabe ao MEC a responsabilidade de criar mecanismos para que esses possam oferecer um salário digno e uma jornada de trabalho mais humanizada aos professores.

Essas ações iniciais são a base para as outras que viabilizam as melhorias da qualidade de aprendizagem nas escolas de Educação Básica, como por exemplo, adequar às escolas as novas realidades contemporâneas e torná-las mais interessante para os estudantes. Mais do que nunca, a sociedade civil demanda um diálogo qualificado com o Ministério da Educação. Renato Janine Ribeiro deve abrir esse canal, e isso, já é um grande passo para a conquista de uma tão sonhada “Pátria Educadora”.

 

Luiz Claudio Tonchis é Educador e Gestor Escolar, trabalha na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, é bacharel e licenciado em Filosofia, com pós-graduação em Ética pela UNESP e em Gestão Escolar pela UNIARARAS. Atualmente é acadêmico em Pós Graduação (MBA) pela Universidade Federal Fluminense. Escreve regularmente para blogs, jornais e revistas, contribuindo com artigos em que discute questões ligadas à Política, Educação e Filosofia.

Contato:

[email protected]

Redação

14 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Um Filósofo no MEC

    Muito bom. Se Renato Janine Ribeiro se valer de sua credbilidade pode mobilizar a nação para um projeto de Educação do país, aliás, projeto já temos e já faz algum tempo só não saiu do papel. Em educação, existe uma distância enorme entre o proclamado e o realizado.

     

  2. é  nassif  porem  esperamos

    é  nassif  porem  esperamos que ele nao  fique  FILOSOFANDO,  e use todos os meios  para  mudar  a realidade  da educaçao no país   Sabemos que   as pressoes  sofridas  pela  PRESIDENTE,  tambem  consiste em  evitar que  ele  desenvolva  a naçao    tambem  nessa  area  porque  para os  EUA   interessa  nos deixar ignorantes   de cabeça  baixa   para  que  nao  saibamos lutar  pelos   nossos  interesses.  Acabamos de assistir  isso  na  votaçao da  tal  PEC 4330,e  cada dia  o povo  precisa  entender  que nao basta  votar na  Presidente  apenas.  tem que  saber  votar  nos   parlamentares  porque  um  Presidente  nesse  siste  ora  vigente no país  nao  faz  nada  sem apoio do  legislativo. Eu  tinha   apontado  isso antes  das eleiçoes   e vi que  os  parlamentares  de  esquerda  mesmo  nao  se empenharam  na campanha.Procuro entender o que  foi  feito coma  grana  que foi dada  a esse  pessoal para   ser usada  em suas  campanhas. pois  para mim em todo  o  Brasil  foi  pifia, deixou a  desejar.  Assim que foi  liberada a  campanha  o Joao  carlos  Barcelar  da oposiçao   botou seus  carros na  rua   todos  os dias em todos os  bairros., resultado  ele foi o  mais  bem eleito  deputado  em  Salvador.Ja  os  candidatos  do PT, PCdo B  PSOL, nao fizeram o mesmo,  deveriam  ter  arregaçado a manga e  ir para a luta   mais nao o fizeram  e  prejudicaram  o partido. Por outro  lado  sempre digo que o povo  tem que  saber votar.  e se  tivessem escolhido a  dedo  seus  candidatos, sem se deixar  influenciar  por manobras  feitas  por  experientes  e mal  carater  deputados da oposiçao  isso nao teria  acontecido. 

  3. Boa sorte

    Muito bom o artigo. Parabéns pelo autor. Vamos torcer para que o Ministro consiga mobilizar a sociedade e melhorar o salário dos professores.

  4. Patética esperança!
    Eu não sei se rio ou se choro ao ler este artigo.
    Não me entenda mal, o artigo foi muito bem escrito.

    Mas a essa altura do campeonato tem gente que parece pensar que educação melhora com idéias.

    O problema de nossa educação é um só, não são dois problemas, é e sempre foi apenas UM: dinheiro!

    Dito isso, Eduardo Cunha como Ministro da educação COM CERTEZA ABSOLUTA produziria bem mais do que qualquer gênio da educação.

    Mas é legal ter um cara descolado na pasta. É sempre bom ter uma pessoa que concorde com a gente.

    1. Esperança é a última que morre

      A esperança é a última que morre. Você tem toda razão quando diz que educação se faz com dinheiro, mas o autor deste post deve saber, já que parece que ele é da área que o Plano Nacional de Educação sancionado pela Presidente Dilma preve um aumento gradativo e significativo para a Educação. 

      Dinheiro é fundamental, mas sem gerência fica difícil. O dinheiro deve ser bem aplicado.

      Veja: “a presidenta Dilma Rousseff sancionou o Plano Nacional de Educação (PNE). Sabe o que isso significa? Mais R$ 200 bilhões serão destinados a educação nos próximos 10 anos, com o investimento em educação chegando a 10% do PIB (hoje ele é de 6,4%). Serão R$ 20 bilhões a mais por ano, o equivalente a dois terços de tudo que foi gasto em sete anos para realizar a Copa do Mundo.

      A meta deverá ser alcançada em duas etapas: de até 7% do PIB no quinto ano e de até 10% ao fim de 10 anos. O PNE define 20 metas que funcionarão como diretrizes para a educação pública brasileira e deverão ser cumpridas até 2024. O principal objetivo é universalizar o acesso à educação – da creche ao ensino superior -, criando 3,8 milhões de vagas em creches, erradicando o analfabetismo e universalizando o acesso ao ensino médio para adolescentes de 15 a 17 anos”.

      1. Sandra, me desculpe mas
        Sandra, me desculpe mas espero que o Ministro não fique preso à estigmas do passado.
        Apesar de concordar com vc, tem algo no seu comentário que me incomodou.

        Universalização, acesso e analfabetismo são temas que não devem ser foco do Ministério. Estes temas já foram foco de OUTROS governos, agora o assunto é outro.

        O assunto é analfabetismo funcional. O sujeito vai a aula, assiste tudo, se.forma E termina o ensino sem saber nada de.poha nenhuma.
        Chegou ao ponto de afetar nossa PRODUTIVIDADE. Compare o Brasil com outros, qualquer outro, que a obviedade aparece.

        Agora chegou a hora dá qualidade E espero que este Ministro troque o disco.

        1. Qualidade

          Athos!!!

          Essa é a nossa realidade: analfabetismo funcional, abandono escolar etc. Somente ” mais ou menos” a metade dos alunos que ingressam no Ensino Fundamental concluem o Ensino Médio e os que concluem, tem uma formação bem precária. 

          A universalização e a erradicação do analfabetismo já é passado mesmo, você tem toda a razão. O nosso grande problema é exatamente a qualidade, esse deveria ser o foco. No entanto, o Plano Nacional de Educação, que é um documento que foi formulado através de uma ampla discussão com a sociedade, deixa de lado dois pontos essenciais: a exigência de qualidade e a participação da sociedade.

          Pelo que conheço do novo Ministro, Renato Janine Ribeiro, que na verdade é da Universidade ele sabe que os alunos  tem chegado na Universidade semianalfabetos. Por isso, a bandeira do diálogo, como Luiz Claudio diz no artigo, deve ter prioridade para a qualidade. Mas dá licença né. Ninguém melhora a qualidade com o salário que é pago aos professores neste país. A profissão foi sucateada, infelizmente. 

          1. E aí voltamos ao meu
            E aí voltamos ao meu comentário inicial onde tenho ojeriza de pessoas que querem pensar uma solução para educação que não se inicie pelo salário.

            Como disse antes…dinheiro …é o início da solução, o resto, desinformação.

            Odeio estes textos otimistas, a situação é péssima E não há qualquer perspectiva de mudança porque…porque não falamos de grana.
            Os valores não estão na mesa? São para que? Cadê o plano de gastos?
            Não precisa de Ministro para isso. Deveria ser projeto de Estado.

    2. “Descolado” mesmo.

      Inclusive das próprias ideias, quando as oportunidades aparecem.

      Estou enganado, ou era ele um crítico do governo que, de repente, e docemente constrangido, avaliou como “grandeza de espírito” o fato da presidentA, mesmo sabedora do seu passado de boquirroto, havê-lo convidado a tão importante e, na prática, inútil cargo?

      10 anos para resolver? É… pode ser.

  5. Concordo com o Athos, sobre o

    Concordo com o Athos, sobre o modo de operar, ou seja, com muito, mas muito dinheiro e muita, mas muita força de vontade. Desejo sinceramente que o Renato faça uma boa gestão, mas ele corre um grande risco, pois não vejo nele o perfil de um grande gestor.

  6. Salário dos Professores

    Não dá para ter melorias qua,,lidade da educação com a miséria que é paga aos professores. Com esse salário a profissão não é atrativa, ninguém quer ser professor, nem os vocacionados. O que são, atualmente, foi por não conseguiram outra área melhor remunerada e reconhecida. Os que estão por um certo tempo não tem condições de pedir exenoração vivem sonhando com o dia da aposentadoria. Sabemos que mesmo assim, temos bons professores. Esses são os heróis da “Patria Deseducadora”. É pior ainda o despretígio social de nossos educadores.

  7. Educação no mundo de hoje 2015

    É só querer fazer, vontade política, depois de 100 prontas fica difícil não replicar no resto das salas de aulas.

    Here’s How We Can Reinvent the Classroom for the Digital Age

    When I was in elementary school, about 50 years ago, teachers used to stand in front of a class of 40 or 50 children and write on a blackboard with chalk. To make sure the material was absorbed, the teacher asked occasional questions and assigned lots of homework. If students discussed their homework or helped each other in tests, it was called cheating, and they were punished.

    Today, the blackboard has become a whiteboard; chalk has become a magic marker; the slates that students used have been replaced by notebooks; and classes have sometimes gotten smaller. Little else has changed. True, some schools are providing their students with laptops, and teachers are increasingly using technology and encouraging collaboration.  But the methods are essentially the same—with the teacher dictating learning.

    What is becoming possible, however, is a revolution in education. I am not talking about the much-hyped Massive Open Online Courses. To me, these are as imaginative as the first TV shows in which radio stars stood in front of a camera with a microphone in hand. I am talking about a complete transformation of the way teaching is done, with the computer taking the role of the lecturer, the teacher becoming a coach, and students taking responsibility for their own learning.

    The digital tutor of the future will do knowledge transfer better than a human can. If the student likes reading and lectures, it will teach in a traditional way — through eBooks and videos. If not, it will teach through games, puzzles, and holographic simulations. What better way to learn history, culture, and geography than by being there virtually and experiencing it?

    In the future I am talking about, the role of the human teacher is that of guru: to teach values such as integrity, teamwork, respect, caring and commitment; to be a guide and mentor. And students take ownership of their education. This future isn’t as far away as you think. I’ve already seen early signs of it in Silicon Valley.

    Esther Wojcicki, who is a teacher at Palo Alto high school, has been pioneering a new method of learning for the past 30 years. She joined the faculty at Palo Alto in 1984 as a teacher of English and journalism. She had a Master of Arts in journalism from UC Berkeley’s Graduate School of Journalism and had worked previously as a reporter. When she arrived, there were 19 students in the journalism program, publishing a bimonthly eight-page newspaper that they created on a typewriter, pasted up with hot wax, and printed using hot-metal typesetting.

    In 1987, Wojcicki saw a demo of a Macintosh at a small store in Los Altos and got excited about the possibilities for her classroom. She applied for a grant from the state of California to buy seven Macs and was selected. When the computers arrived, though, she had no idea how to even turn them on. Not having anyone to help her, she turned to her students, admitted that she “had no idea what she was doing,” and asked for their help. Wojcicki says that this was the beginning of a collaborative learning model of teaching that she has since been refining.

    Fast forward to 2015, when the country is adopting a pedagogy that focuses on personalization, collaboration, innovation, and creativity. Palo Alto High School has a 25,000-square-foot Media Arts Center, with 600 students who use media to learn critical-thinking skills, communication skills, and tech skills. And by the way, they are also perfecting Common Core State Standards skills. This is a program to teach students to think critically and be prepared for the unknown future; it is not focused on training journalists. The school has six publications: a 28-page full-sized student newspaper, The Campanile; a news magazine, Verde; a sports magazine, Viking; an arts and entertainment magazine, C Magazine; a broadcast television program, InFocus; and a website program,voice.paly.net.

    In a new book, in which, with co-author Lance Izumi, she shares her experiences, Wojcicki says that Google-style moonshots are necessary to transform education. Wojcicki and Izumi advocate changing the culture of the classroom so that the teacher relinquishes some control of the learning to students and the lessons become more relevant to the real world. Here are some of the key lessons from their book, Moonshots in Education: Launching Blended Learning in the Classroom.

    Giving students some control of their learning is the key to engagement. Whilst that sounds simple, in fact it requires a moonshot, because schools of education train teachers to always maintain control, so one of the scariest things for teachers is to give up any control to students. They are worried that they will be evaluated on “loss of control” in their classes, and that the test scores will fall, for which they will be blamed and lose their jobs. They do not want to take a risk.If we want to train a generation of innovators, then we need to give them an opportunity to be innovative in school. If we want to train a group of people to obey orders and not think for themselves, then we should continue with traditional education. The old model was developed more than a 100 years ago to train workers for the factory.Students do well in classrooms when they are treated with trust and respect. Everyone, especially a child, wants to feel important and empowered. All classrooms should treat students with kindness, trust, and respect, giving them an opportunity for innovation and collaboration. The culture of the classroom is the key to getting kids excited about learning.Mastery of learning is also important. Children need an opportunity to redo assignments until they learn the material. Some people take longer than others to learn, but that does not mean that they are inferior or cannot learn. Grades can be an inhibiting factor: students who get a bad grade don’t want to do the assignment again; they get discouraged. But if they just get the corrections, with instructions to revise (the same instructions everyone else gets), they will do the work. They all want to succeed.This methodology can be used in all subject areas. If students were given as little as 10 percent of the time to work on a project of their choosing, they would be more excited about learning the subject matter. Wojcicki says that 50 percent of the time should be dedicated to blended learning.

    The digital tutor I described is probably five or 10 years away, but it is coming. In the meantime, there is nothing to stop us from adapting education to the modern era of creativity and innovation — and taking advantages of technologies that are already here.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador