Gangues perseguem e espancam gays em parque no Rio

Gangues de 25 ou 30 adolescentes homofóbicos perseguem e espancam gays em parque (e nas principais ruas!) de bairro da zona sul carioca

Li na internet (e deu em todo lugar a essa altura também) a seguinte nota:

“Ontem, um grupo de moradores do Flamengo cansado da omissão da polícia na região decidiu fazer Justiça com as próprias mãos e espancou um adolescente de 17 anos, negro, que foi preso a um poste com uma trava de bicicleta, espancado, esfaqueado na orelha e deixado nu…” 

Segundo as fontes, tal crime aconteceu sexta à noite.

Já no domingo à noite, por volta das 23h, uma OUTRA gangue de “justiceiros” do Flamengo voltou a agir. Dessa vez, com o objetivo de fazer uma verdadeira “limpeza” no bairro, perseguindo gays.

Um grande amigo meu, jornalista, estava lá no momento, correndo no Aterro do Flamengo, sem camisa, de bermuda, garrafa de água na mão e testemunhou tudo o que aconteceu.

Ele, gay, foi perseguido. Eram cerca de 25 garotos entre 16 e 21 anos, com pedaços de pau, afirmavam estar fazendo  um arrastão homofóbico. Gritavam que iam “limpar o Aterro e o bairro dos gays, drogados e ladrões”

Meu amigo relatou que estavam correndo atrás de TODO MUNDO que corresse deles. Eu me pergunto quem não correria às 23h, meia-noite, de um grupo de 20, 25 moleques de classe média armados com porretes? 

Eu correria e ele, claro, correu. Como num filme surreal, foi perseguido, junto com diversos passantes.

Não importou se era branco, negro, gay, hetero, nada. Eles nem perguntavam. Se você corria deles, eles corriam atrás. Um dos membros do grupo deles gritou pros outros, em relação ao meu amigo: “Pára, que não é, não. Pára!”, mas os garotos que estavam bem atrás dele continuavam a correr e responderam “se não tá  devendo, tá correndo por que?”

Esse é o momento onde o crime de ódio afeta toda a sociedade, o delirio homofóbico é tanto, que regiões cariocas inteiras são consideradas LGBTS e pelo visto extremamente inseguras.

Ao me relatar, meu amigo disse que não foi só na Praia e no Aterro do Flamengo a perseguição, ela se estendeu por ruas internas do bairro também, como Cruz Lima e RUA SENADOR VERGUEIRO, uma das principais vias do bairro.

E o pior: a polícia só veio porque foi chamada pelo posto de gasolina da Avenida Rui Barbosa (ligaram pro 190 e disseram que um bando estava espancando gente na rua e no Aterro de graça, do nada.)

Gritavam contra gays o tempo todo, e meu amigo ouviu a seguinte frase: “Vai fuder na sua casa, viado, não queremos viado aqui no Aterro do Flamengo ou na rua, não volte mais aqui!”

Tem muito mais violência e agressão na história dele, vou resumir aqui (a versão completa escrita por ele, cheia de detalhes, postei ontem na minha página do Facebook).

Lá pelas tantas, meu amigo entrou num carro de polícia para ser testemunha e cercaram uns 10 dos garotos na altura das ruas Paissandu e Barão do Flamengo, esquina com a Praia.

Eles desacataram a policia absurdamente, disseram que a lei é deles pra fazer justiça com as próprias mãos, já que o Aterro e o Flamengo estão “imundos” de gente indesejada e a polícia não atua.

Um dos meninos, de uns 18 anos, teve a audácia de perguntar o que meu amigo estava fazendo na rua à meia-noite, o que “o chefe dele diria dele estar na rua essa hora”.

Na confusão, os policiais perderam a oportunidade de levá-los à delegacia. Afinal assumiram na frente deles que estavam “fazendo justiça com as próprias mãos”, o que configura crime de acordo com o artigo 288 do Código Penal, formação de quadrilha. 

Mas os garotos não assumiram na frente dos PMs – lógico – que estavam espancando gays; a desculpa de fachada era espancar “drogados e assaltantes”.

Mostrando a preocupação do governo com nossa segurança, não havia NINGUÉM na enorme cabine de polícia no Aterro do Flamengo exatamente na frente de onde ocorreu o corre-corre, a gritaria por socorro e a perseguição (os dois carros da PM que vieram de fora do parque, lembre-se, foram chamados pelo posto de gasolina através do 190). Por pelo menos duas horas, havia pessoas apavoradas, em risco, gritando por socorro no Aterro, fora dele, na Praia do Flamengo, altura da Cruz Lima, e depois na rua Senador Vergueiro. 

Outro garoto disse, vendo uma garrafa de água a essa altura vazia na mão do meu amigo, que ele estava usando para correr:  

“Você, com essa garrafa vazia na mão, vamos achar que é cracudo (usuário de droga) e te encher de porrada.” Ou seja: eles disseram na frente da polícia que espancavam primeiro e perguntavam depois. E esta só mandou-os dispersar. 

E o processo do PPS contra o Congresso Nacional para que se legisle contra homofobia? É bobagem, né?

Em plena zona sul carioca, uma nova modalidade de arrastão, o arrastão da violencia homofóbica, “importado” de São Paulo. Em breve nem na rua mais poderemos andar.

É época de deixarmos todas as diferenças de lado, pois a cada dia o perigo aumenta; mais mortes, mais suicídios, e agora agressões coletivas.  Na sexta amarraram um garoto num poste, no domingo essa caçada aos homossexuais e na segunda feira ataca à profissionais do sexo em Copacabana. Onde esses justiceiros irão parar?  Qual o critério deles?

A Rússia é aqui.

Eliseu de Oliveira Neto é membro do diretório do PPS-RJ, psicanalista, psicólogo e gestor de carreira

Redação

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