Hannah Arendt, o perdão e Israel

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Enviado por Paulo F.

Hannah Arendt, o perdão e Israel

O autor fala de Israel, mas a máxima poderia bem ser aplicada ao Brasil.

Do Diário de Notícias de Lisboa

Vingança ou perdão

por Viriato Soromenho Marques

Foram precisos dois milénios para que a categoria cristã de perdão fosse transportada da teologia para a política. O autor da proeza foi uma mulher, a filósofa judia Hannah Arendt. Ela explicou na sua obra magistral, A Condição Humana (1958), que o perdão é um remédio para a “irreversibilidade”. Na ação os seres humanos produzem, mesmo sem o desejarem, resultados que podem ser terríveis para os outros, desencadeando uma dinâmica de ódio, previsível como uma lei natural ou um relógio suíço. A vingança prende vítimas e ofensores, cada um trocando de posições em cada etapa de retaliação, a um ajuste de contas infinitamente sangrento. As eleições em Israel podem ser sempre medidas por este balancear entre a vingança, que prende ao passado, e a remota possibilidade do perdão. A história de Israel e dos palestinianos tem sido a da previsibilidade da vingança. A mãe e seu filho, vítimas colaterais de um drone israelita contra Gaza. Jovens estudantes israelitas despedaçados por um bombista suicida numa paragem de autocarro em Haifa…O perdão em política, regressando a Arendt, significa desfazer as grilhetas do ódio, libertando “tanto aquele que perdoa como aquele que é perdoado” para a possibilidade de criar um futuro. O Likud e Benjamin Netanyahu, mergulhados num discurso de hostilidade racial, representam o prolongar da rotina da vingança, até uma qualquer implosão sem regresso. Do outro lado, a União Sionista, liderada pelo trabalhista Isaac Herzog, e a Lista Conjunta das quatro formações de árabes israelitas, representam a possibilidade de um diálogo novo dentro do próprio Knesset. Separando, como queria Theodor Herzl, a identidade cívica da religiosa, defendendo um Estado de Israel aberto a todas as crenças e origens nacionais, sem pulsão teocrática ou militarista. Talvez, começar por dentro uma rota para a paz.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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    1. Você está errado!!

      O ódio não serve  para “unir o povo”. O ódio foi efetivo no nazismo e está sendo efetivo agora nas manifestações de direita porque ele destroi a capacidade de reflexão e raciocínio e transforma o indivíduo em um zumbi controlado pelas ideias totalitárias e de ódio. União de um povo é uma atitude racional e consciente que não é possível sob o domínio do ódio.

  1. Nas menores e maiores

    Nas menores e maiores associações de gente vê-se de forma contundente que o amor constroi, une e reúne, enquanto o ódio espalha, desconstrói e mata. 

    Em qualqer guerra, que sempre nasce do ódio, vimos os fazedores dela saírem-se vitoriosos? Pode durar por muitos anos, e destruir muito, mas sempre a História irá mostrar os resultados negativos de uma guerra.

    Se o ódio é esse mal, e  amor um bem, mas como maniqueísmos não se sustentam, para que uma sociedade sobreviva, seja ela familiar, empresarial, governamental, mister se faz que persista entre as pessoas sentimentos de discordâncias, porém capazes de fortalecerem algum propósito, que favoreça a maioria. O grande problema é que quando o ódio toma conta das pessoas, o que antes era um propósito, uma meta, passa a ser uma arma de destruição contra o inimigo, quando, enfim, bate a cegueira e o caos, afetando amigos e inimigos. É o que acontece, sempre, na política governamental. 

    Cansamos de ver vídeos mostrando nas manifestações pessoas que delas participam sem o menor senso crítico. Algumas são questionadas com respostas vexatórias, exprimindo um ódio que nem elas mesma entendem. 

    Certamente não veremos, jamais, a nossa imprensa, ao menos um dia, divulgar qualquer ação positiva dos governos petistas. Isso representa o ódio que se impregnou no jornalismo de direita, tal como assistimos ao tempo de Getúlio e Jango, pelo menos. E o que diz a História? 

    Imaginemos que Jango tivesse terminado seu mandato sem aquele golpe. Como nós, brasilieros teríamos lucrado. Ao contrário, tivemos que lutar duramente, vendo nossos irmãos mortos, ou saírem sangrando daqueles anos de chumbo, para recomeçarmos tudo. A maior parte dos que lutaram contra os generais já morreu, ou está idosa ou muito idosa, muitos carregando, ainda, a dor na alma, ao ponto de sequer poderem relembrar seus momentos tristes sem derramar lágrimas nos olhos.

    E pensar que hoje a história se repete, passando à população brasileira sentimentos idênticos de insegurança quanto ao porvir. 

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