Imigrantes, milionários e uma mídia cada vez mais insensível

Cobertura da morte de 78 imigrantes foi praticamente ignorada pelos meios de comunicação em detrimento da implosão do submarino do Titanic

Migrantes lotam uma embarcação na travessia do Mar Mediterrâneo
Migrantes lotam uma embarcação na travessia do Mar Mediterrâneo. Foto: Guarda Costeira Italiana/Massimo Sestini

Setenta e oito imigrantes africanos morreram em naufrágio enquanto tentavam chegar à Grécia. Em contrapartida, cinco milionários implodiram numa expedição em busca do Titanic, na costa do Canadá. E a cobertura da imprensa foi bem diferenciada.

Nesta sexta-feira, a Organização Internacional das Nações Unidas para as Migrações (OIM) afirmou que pelo menos 1.807 migrantes morreram ou desapareceram nas rotas do Mediterrâneo apenas em 2023.

Desde 2014, 56.771 migrantes morreram no mundo tentando chegar ao seu destino, dos quais 27.565 pessoas pereceram apenas nas rotas do Mediterrâneo. Contudo, pouco se sabe sobre essas pessoas além de números e da ajuda fornecida por ONGs.

No caso do submergível em busca do Titanic, os meios de comunicação destacaram o nome, sobrenome e o rosto das vítimas, sem contar a atenção da Guarda Costeira dos Estados Unidos e do Canadá na tentativa de resgate, em processo minuciosamente acompanhado pela opinião pública.

Para o jornalista e professor aposentado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Laurindo Lalo Leal Filho, existe um desequilíbrio por parte da mídia na cobertura das duas tragédias – e a proximidade temporal deixa a diferença explícita.

“Dos imigrantes africanos você não tem a individualização, não tem a história daquelas pessoas – porque elas estão fazendo aquilo, qual é a razão que leva ao desespero de enfrentar aquelas condições previsivelmente trágicas”, afirma Leal.

A diferença na cobertura

Embora os elementos pouco usuais tenham chamado a atenção da imprensa para a morte dos milionários, Lalo Leal destaca um tratamento desmedido nas duas situações.

“O caso da nave do Titanic foi uma experiência inusitada. Isso, realmente, do ponto de vista jornalístico, merece um destaque. Não na dimensão como vem sendo feito”, analisa.

Por outro lado, o jornalista lembra que a repetição dos acidentes que matam migrantes no mar na tentativa de chegar à Europa acaba tendo efeito contrário nos meios de comunicação e na opinião pública.

“A morte de imigrantes vem virando rotina, por mais terrível que isso possa parecer. Ela praticamente deixa de ser um assunto novo para o público, infelizmente”, contrapõe.

Para o especialista, existem diversos pontos que precisariam ser aprofundados em relação aos naufrágios envolvendo migrantes. “Qual é o grau de responsabilidade que esses países da Europa têm em relação a esses países africanos? Qual é a herança colonial que ainda perdura e leva a essas tragédias?”, questiona.

Com informações da Agência Brasil

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Isadora Costa

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