MPF denuncia TVs do Ceará por violar direitos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Da Agência Brasil

MPF vai à Justiça contra emissoras de TV do Ceará acusadas de violar direitos

TV Jangadeiro e TV Diário

Por Helena Martins

O Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE) ajuizou ação civil pública contra duas emissoras de televisão do estado, acusadas de exibir cenas impróprias e violar direitos. Fruto de mais de um ano de investigação, as ações voltam-se contra os chamados programas policiais veiculados pela TV Jangadeiro e pela TV Diário, que também teve conteúdos humorísticos apontados como irregulares pelo MPF. Em caso de descumprimento das sanções, o MPF pede que sejam canceladas as concessões de serviço de radiodifusão das emissoras.

Pela exibição de corpos esquartejados, ferimentos em destaque, imagens de adolescentes em situação de vulnerabilidade, entrevistas com pessoas detidas e sem julgamento, cenas de exploração sexual, agressão à honra, dentre outras, o MPF pede a condenação da TV Diário ao pagamento de indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 1 milhão, e da TV Jangadeiro ao pagamento de R$ 500 mil. Valores que devem ser revertidos ao Fundo Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente. As ações devem agora ser objeto de análise da Justiça Federal. As empresas podem recorrer.

O MPF considera que o “dano à coletividade” deve ser suspenso de imediato. Por isso, as ações pedem a concessão de tutela antecipatória para que os efeitos do julgamento sejam adiantados. O órgão argumentou que foram diagnosticadas: “a) ofensa à honra e à imagem de pessoas detidas – em situações de suspeita ou de flagrante, das vítimas e familiares (programas policiais); b) veiculação de programa de televisão em horário totalmente inadequado; c) exposição dos telespectadores, em sua maioria jovens e adolescentes, ao impróprio material exibido; d) ausência de classificação dos programas, pela União, em face da adequação de conteúdo nos horários exibidos” – nos termos da ação direcionada à TV Jangadeiro.

Ao avaliar o conteúdo dos programas Os Malas e a LeiNas Guarras da PatrulhaShow do Tony NunesJoão Inácio Show e Ênio Carlos Show, veiculados pela TV Diário, o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Alexandre Meireles Marques, responsável pela iniciativa judicial, afirma que “tais programas hoje são um incomparável show diurno de ilegalidades de banalização da violência”. No texto, ele critica o fato desses programas policiais, como ocorre em diversos estados do país, serem exibidos entre as 12h e as 14h, tornando-os acessíveis a crianças e adolescentes de forma indiscriminada.

Os textos explicam que a permissão se dá porque a classificação indicativa na radiodifusão brasileira não é aplicada aos conteúdos jornalísticos ou noticiosos, bem como esportivos, eleitorais e anúncios publicitários. O MPF reforça, ainda, que o Ministério da Justiça, responsável pela classificação, deve fiscalizar o cumprimento do exposto na Portaria MJ 1.220/2007, que organiza o sistema de classificação, e reavaliar a situação.

Em entrevista à Agência Brasil, o procurador disse que a Justiça deve “sopesar” a dignidade da pessoa humana e a liberdade de imprensa, porque “a imprensa tem que respeitar os demais direitos que estão na Constituição”, como o direito à privacidade e à dignidade. Ele também explicou que esta não é a primeira vez que uma ação judicial é movida contra as emissoras, por causa desses programas. Outras ações já foram ajuizadas e, posteriormente, arquivadas. Lembrou que uma recomendação para que agentes das polícias Civil e Militar não permitam a filmagem e a entrevista com pessoas presas ou detidas, sem autorização, também não foi cumprida.

Além disso, Alexandre Meireles Marques relata que foram recebidas “várias representações de pessoas da comunidade cearense reclamando dos programas policiais e também de programas humorísticos produzidos pelas TVs Diário, Jangadeiro e Cidade”. Esta não foi citada nas ações por ter assinado Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), após audiência pública com o MPF e pressão da sociedade civil, que condenou a exibição de cenas de estupro de uma criança em um programa policial, no início do ano.

À época, uma nota assinada por mais de 70 entidades da sociedade civil pedia não só a retirada daquele conteúdo de circulação, bem como a responsabilização da TV Cidade e a “atuação dos ministérios públicos Estadual e Federal, de modo a garantir que os programas policiais veiculados no estado do Ceará respeitem a legislação protetiva de crianças e adolescentes”.

Com a assinatura do termo, a TV Cidade se comprometeu a adequar a programação, sem ferir a dignidade do ser humano; não expondo pessoas em razão de cor, raça, deficiência, orientação sexual ou política; não veiculando imagens fechadas de cadáveres ou corpos mutilados; adotando cuidado especial com a veiculação de atos judiciais que envolvam crianças e adolescentes, bem como não identificá-los; não veiculando, salvo se possuir autorização expressa, imagens de pessoas envolvidas em atos ilícitos, dentre outros pontos.

O TAC estabelece ainda que a emissora fica sujeita a multa de R$ 70 mil por programa, em caso de descumprimento do acordo. No caso das ações ajuizadas agora, regras semelhantes para o conteúdo das emissoras, que usam concessão pública, são propostas.

Agência Brasil procurou a TV Jangadeiro e a TV Diário, mas as duas emissoras não estão se pronunciando sobre o assunto.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Ministério Público Federal

    deveria se unir aos Estaduais e FAZER UMA LIMPA nestes LIXOS terroristas que emporcalham as emissoras de tv, de radios e cujos apresentadores, com frequencia grande, são PREMIADOS conseguindo se ELEGER vereadores, deputados, à custa destas porcarias eletrônicas que ferem a idéia de Comunicação Social conforme a Constituição de 88.

    Basta!

  2. MPF denuncia TVs do Ceará por violar direitos

    o mpf-ce está coberto de razão.

    esses programas policiais são um show de horrores. seus apresentadores se travestem de justiceiros da sociedade em guerra contra o crime, só que dos pés-de-chinelos, daqueles da periferia e dos subúrbios. crime de colarinho branco, nem pensar.

    nunca apresentaram uma proposta siquer sobre segurança pública. vivem das manchetes das tragédias humanas e com issso se elegem para o legislativo municipal e estadual para continuarem na mesma farsa. uma farsa tão criminosa quanta aquela mostrada no vídeo. portanto, parabéns mpf-ce pela ação, o que demonstra o quanto o país se ressente de uma moderna legislação da mídia.

  3. Me desculpem, mas esses

    Me desculpem, mas esses berrões desses programas que viraram epidemia na mídia tupinica, são, literlamente, incentivadores da barbárie. Agem como bandidos pagos para tripudiar na desgraça alheia. Vivem disso, tem seus salários por causa disso e sem isso, estariam desempregados. Se eles não possuem capacidade para fazer algo bom, ganhar salário de forma descente, sem ter que incentivar a violência, o esgoto é o “condomínio” perfeito para os ratos. Desculpem, mas é constrangedor ver esse tipo de apresentador nas tvs, ainda. Acho, que os que protestam pela falta de segurança, deviam protestar fortemente contra esses programas e seus “idealizadores”, pois, ali, está a forma explicita de incentivar a violência pela violência. Gente, e eles berram se achando os bambans, pasmem, de cultura.

  4. programas só têm um objetivo…

    trazer para dentro de nossas casas a falsa impressão de colapso social…………………

    reparem que as tragédias humanas, relativamente normais para os campos onde se apresentam, e em qualquer lugar do planeta, têm sempre um arremate político que leva à intenção principal, culpar o governo federal

     

    esses caras não são bobos, antes muito bem pagos e treinados como armas de guerra psicológica, como é a liberdade de expressão e de imprensa sem limites

  5. Essa aberração “jornalistica”
    Essa aberração “jornalistica” virou epidemia no pais. Em nome do lucro fácil os meios de comunicação, de forma sensacionalista, exploram os aspectos mais trágicos da sociedade, desrespeitando absurdamente a cidadania. Quando os outros estados vão acordar e seguir o exemplo do MPF do Ceará? Por que não usam a febre do “ativismo” judiciário para cumprirem seus papéis constitucionais?

  6. Enfim uma atitude contra esse

    Enfim uma atitude contra esse lixo que invade a televisão brasileira.

    Esse vampiros têm que ser punidos pela exploração que fazem de pessoas carentes, ridicularizam, fazem chacota, humilham e se dizem defensores da sociedade. Canalhas.

    Esse tipo de programa é o  grande responsável pela banalização da violência no nosso país, picaretas que fazem da violência voto, tendo na televisão seu palanque permanente, diário e sangrento. Algum tipo de impedimento tem que ser feito contra esses exploradores da barbárie.

    Parabéns ao Ministério Público do Ceará. Que não fique só nisso, que se dê seguimento a esse processo contra as atrocidades cometidas por esse lixo que chamam de jornalismo.

    Concessão pública de rádio e televisão deve ter como objetivo a informação factual, a educação, a cultura, o esporte e o entretenimento de qualidade, com ética, valores morais e respeito a dignidade humana.

     

    Campanha.

     

    #não vote em apresentadores de programas policialescos. oportunistas.

     

     

  7. Esses programas são feitos

    Esses programas são feitos para bandidos, seus familiares, amigos e parceiros. Como as TVs precisam atingir publicos alvos específicos, e nesse caso representa um formidável naco para as vendas dos patrocinadores, a tendencia é aumentar o número desses programas, acompanhando o aumento da bandidagem por eles patrocinada.

  8. Trampolim
    Muitos apresentadores hoje são vereadores e deputados estaduais e federais. Eles precisam do caos para se mostrarem como “defensores da sociedade”. Eles se alimentam do sofrimento alheio sob a desculpa de buscarem a informação e justiça

  9. Veio tarde, mas veio

    Finalmente!!! Parecia que ninguém via esses abusos, que ocorrem a toda hora. Esperamos que o processo seja levado a cabo e que as tais redes sejam punidas exemplarmente.

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