Desde a primeira revolução industrial, a mística do livre comércio ajudou a consolidar o poder das economias ocidentais, lideradas pela Inglaterra. A ideologia vinha amparada em relações simples (e falsas) de causalidade:
O capital enriquece os países centrais e os tornam mais caros. Aí, ele transborda para os países periféricos, levando para lá o desenvolvimento.
O primeiro exemplo dessa liberalização e da troca comercial desequilibrada foi o acordo de Methuen, entre a Inglaterra a Portugal.
O Tratado de Methuen
O Tratado de Methuen, também conhecido como Tratado dos Panos e Vinhos, foi um acordo comercial e militar firmado entre a Inglaterra e Portugal em 27 de dezembro de 1703. O acordo foi negociado pelo embaixador inglês John Methuen e pelo marquês de Alegrete, representante do rei de Portugal, D. Pedro II.
O tratado estabelecia que os vinhos portugueses seriam importados para a Inglaterra com uma taxa de importação de apenas 23,33%, enquanto os vinhos franceses, principais concorrentes dos portugueses, seriam tributados em 66,66%. Em troca, os tecidos de lã ingleses seriam importados para Portugal sem taxas.
O tratado foi um grande sucesso para a Inglaterra, pois possibilitou a entrada massiva de seus produtos no mercado português. Isso contribuiu para o desenvolvimento da indústria têxtil inglesa e para o fortalecimento da economia britânica.
Para Portugal, o tratado teve consequências negativas. A entrada de produtos ingleses baratos no mercado português causou a falência de muitas indústrias têxteis portuguesas, que não conseguiam competir com os produtos ingleses. Isso levou a um atraso no desenvolvimento industrial português. Praticamente todo o ouro do Brasil acabou nos cofres da Inglaterra.
O tratado foi revogado em 1836, após a independência do Brasil. Mas o livre comércio continuou sendo o principal instrumento para crescimento dos países centrais e aumento da dependência dos periféricos: a regra de ouro era comprar matéria prima e exportar produtos industrializados.
Os Estados Unidos só conseguiram romper essas amarras quando fixaram tarifas de importação para proteger sua indústria textil.
A nova etapa
Agora, tem-se uma nova etapa. A China emerge como a grande força industrial, construída a golpes de incentivos e financiamentos públicos, de política cambial favorável, com seus produtos ameaçando a industrialização de todo o Ocidente. O livre mercado tornou-se uma ameaça às economias industrializadas do Ocidente e, mais ainda, ao Sul Global.
Ontem, o The Financial Times apontou esse perigo. Mas, preso ainda à velha ideologia, defendeu o primado do livre mercado. É questão de tempo para que o bravo establishment ocidental reveja seus princípios de livre mercado e passe a defender medidas protetivas contra a China.
Ontem, no Forum Econômico Mundial, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, anunciou o crescimento de 5,2% na economia chinesa em 2023.
Segundo o South China Morning Post:
“Num discurso de abertura na reunião de líderes mundiais, (…) Li falou sobre a saúde da economia chinesa e defendeu a globalização.
Dirigindo-se diretamente aos “líderes empresariais” e “velhos amigos” presentes na sala, Li apontou para um retorno do investimento estrangeiro direto de “cerca de 9%” nos últimos cinco anos na China, dizendo que o mercado chinês “não é um risco, mas uma oportunidade”.
“A China continua firmemente comprometida com a abertura e continuaremos a criar condições favoráveis para que o mundo compartilhe a oportunidade da China”, disse Li.
Num ataque velado aos EUA, cujo futuro em grupos internacionais como a Organização Mundial do Comércio estaria ameaçado sob uma presidência republicana, Li disse que o compromisso com o multilateralismo era “um teste decisivo para saber se cumpriram as suas devidas obrigações internacionais”.
“ (…) Perante as crises globais, respostas fragmentadas e separadas apenas deixarão a economia mundial mais frágil”, disse ele, criticando o “capricho” dos países que, segundo ele, trabalharam para “minar a confiança mútua”.
Enquanto isto, na velha Europa
A Tesla enfrenta greves na Suécia e, agora, os problemas com o transporte de carga no mar Vermelho, em função da atuação dos rebeldes houthis. Esse conjunto de eventos, obrigou a empresa a paralisar a produção na Alemanha.
Na Suécia, a greve foi no final de outubro, após a Tesla ter se recusado a fazer uma negociação coletiva. Houve a solidariedade dos trabalhadores da Dinamarca, que boicotaram o transporte de carros da Tesla para a Suécia.
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O problema talvez seja muito mais profundo, Nassif.
O capitalismo de mercado nasceu e cresceu num mundo em que o poder dos fanáticos religiosos cristãos era muito pequeno, geralmente confinado às pequenas comunidades em volta das Igrejas de madeira em que eles pregavam. Mas isso começou a mudar no momento em que alguns deles descobriram a televisão.
Não foi por acaso que a inflexão neoliberal começou a ocorrer justamente na década de 1970, quando o telelevangelismo chegou ao apogeu. Desde então os evangélicos começaram a dominar mais e mais a cena política norte-americana e, depois, a brasileira.
O compromisso desses caras com o mercado é apenas retórico. Eles exploram o monopólio da fé e os ideais monopolistas deles (uma mistura de feudalismo com fascismo) paradoxalmente os transformaram em aliados eventuais dos teóricos da economia neoliberal. E agora, como os partidos liberais praticamente deixaram de existir, o neoliberalismo não consegue mais separar-se dos fanáticos evangélicos. Os aliados eventuais do neoliberalismo continuarão a dominar a cena política, a sugar o Estado e a destruir a racionalidade política e energia democrática que permitiu ao capitalismo de mercado crescer e se tornar uma força dominante.
Além de provocarem o declínio da economia formal, os pastores encontraram uma nova fonte de renda: a economia criminosa, o tráfico de armas, o comércio de escravos, etc… E assim uma nova mutação do neoliberalismo nasceu. Bolsonaro foi um exemplo típico desse novo fenômeno. O capitão foi derrotado, mas o fenômeno que ele representa continuará a ameaçando o país enquanto os próprios pastores não começarem a ser tratados com o rigor da Lei.
A tragédia portuguesa – e brasileira – começou quando, pra não ser aniquilado de vez, reduzido a provínncia de quinta de Castela, D. João decidiu aproveitar um estremecimento no comando da poderosíssima Espanha, e entregar-se à Inglaterra, inclusive casando uma filha com o rei inglês, de quem nunca deixaram nascer um herdeiro. Methuen foi a ressaca dos azares portugueses, iniciado com a inconsequencia do jovem impetuoso D. Sebastião. A sede por prata – ou ouro – de ainda regente D. Pedro, que o fez contratar o aventureiro D. Rodrigo de Castelo Branco e mandar para Itabaiana, atrás de uma lenda foi um claro desespero de se saber dominado. Methuem foi a saida para Portugal não perder de vez o Brasil e a comissão por extrair seu ouro das Gerais, então recèm descoberto. E não foram vinhos por panos; foram por barras de ouro. Os vinhos entraram para camuflar. E ainda mandaram piratas para o rio Real, a esperar as naus; e aventureiros que foram pegos às dezenas na cachoeira do Velho Chico… sem esquecer o rio Doce, triste rio Doce: desde aqueles tempos a jorrar fora as riquezas de Minas. O BRASIL É UM MILAGRE!