‘Derrubada do impeachment será vitória dos que defendem democracia’, diz Jaques Wagner

A defesa da democracia é uma bandeira que transcende o governo Dilma e o PT, e isso tem que ficar bem claro na hora de definir a repactuação do governo

https://www.youtube.com/watch?v=0V2qGIYYvpg width:700

Em entrevista exclusiva para o Brasilianas.org, o ministro-chefe do gabinete pessoal da Presidente da Repúbica, Jaques Wagner falou sobre as estratégias para barrar o impeachment, a crises política e econômica e de um pacto possível para promover a reconciliação nacional. 

Seu posicinamento foi enfático: a derrubada do impeachment será uma vitória do pessoal que foi para as ruas defender a democracia; não é vitória nem do PT nem da presidente Dilma Rousseff. A defesa da democracia é uma bandeira que transcende o governo Dilma e o PT, e isso tem que ficar bem claro na hora de definir a repactuação do governo, enfatiza ele.
 
A preocupação é com o pós-impeachment, o momento em que tiver que ser definido uma repactuação. O governo não poderá mais repetir os erros anteriores, de fechar-se ao debate público.
 
Wagner não diz, mas certamente há o receio de que Dilma considere a derrota do impeachment uma vitória pessoal sua e repita o estilo voluntarista do primeiro governo.
 
Seu desafio será ouvir muito, abrir-se para os diversos setores da sociedade, para montar um plano de governo que devolva as esperanças ao país.
Wagner confia muito no papel a ser desempenhado pelo ex-presidente Lula, por seu conhecimento do Congresso e do país como um todo. Considera que há uma enorme distorção da mídia em relação a Lula. O ex-presidente sempre foi um grande conciliador e hoje é apresentado como incendiário.
 
Wagner não concorda com a possibilidade de Lula-2018 ser moeda de troca para um eventual pacto nacional. Lembra-se de uma reunião do tipo com Lula, em plena efervescência do mensalão. Na ocasião foi-lhe dito que se renunciasse à reeleição cessaria a pressão. Sua resposta foi na lata: se quiserem me enfrentar terá que ser na rua. Candidatou-se, venceu e conseguiu fazer um governo exemplar.
 
Em sua opinião, a democracia brasileira é muito recente e há diversos pontos a se aprimorar, inclusive nas ações de governo.
 
Há dificuldades, por exemplo, dos diversos poderes entenderem sua responsabilidade nas questões que envolvem interesse nacional, como a preservação de empresas e de empregos. Lembra que em muitos países, o governo e os órgãos de controle chegam a substituir toda a diretoria de uma empresa acusada, para permitir que ela sobreviva.
 
Nessa caminhada, é essencial desarmar os dois lados para se pensar em uma alternativa para o país, diz ele.
 
Em sua opinião, a crise atual começa quando Aécio Neves se recusou a admitir a derrota e insistiu no terceiro turno. Recrudesceu com as manifestações de rua que, no início, eram contra o governo de Dilma, não a favor do impeachment. E se ampliaram quando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, decidiu tocar o processo de impeachment e o vice-presidente Michel Temer tornou-se o padrinho do golpe.
 
O resultado foi uma perda de controle geral, diz ele. O PSDB foi engolido pelas ruas, perdendo mais do que o PT. E o vice-presidente Michel Temer – ao encampar o golpe – conseguiu uma taxa de impopularidade maior do que a da própria presidente, sem ter enfrentado o desgaste de ser poder.
 
Na avaliação de Wagner, o governo teria uma margem de votos razoável para impedir o impeachment. Mas tem certeza, também, que a Lava Jato e a Procuradoria Geral da República casaram a agenda de eventos com a pauta política. Levantam inúmeros casos e os deixam na prateleira, aguardando a melhor ocasião política para lançá-los, como ocorreu com a tentativa de ressuscitar as investigações sobre a morte de Celso Daniel.
 
Wagner considera que um dos maiores riscos atuais é o excessivo poder conferido às corporações públicas, como o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União. Lembra que as principais pautas-bombas versavam sobre mais privilégios às corporações. Considera que cada qual pensa exclusivamente no seu universo, nos seus interesses, deixando de lado a visão mais responsável do interesse nacional.
 
No próprio governo, não existem áreas de análise estratégica, nem sobre os rumos do país, nem sobre as mudanças globais, sob os influxos das redes sociais e da globalização, admite ele.
Redação

6 Comentários

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  1. Jaques Wagner

    Excelente esta entrevista. O Ministro respondeu a todas as perguntas de forma clara, simples e confiante.A  TV Brasil tem proporcionado entrevistas e materias que nos ajudam a refletir.

  2. Bobagem! Dilma propôs o

    Bobagem! Dilma propôs o diálogo, e reforma política logo no início do mandato. Foi justamente quando sinalizou querer ouvir “o outro lado” que recebeu de volta panelaço.

  3. Passada essa crise, os partidos políticos progressistas de centr

    Passada essa crise, os partidos políticos progressistas de centro esquerda deveriam iniciar uma ampla discussão em torno da fusão em um único partido. O PT, PCdoB e o PDT poderiam fundir-se e formar um grande partido de centro esquerda. Com isso, aproveitaria os anseios por renovação na política e ofereceria aos brasileiros uma alternativa unindo o que há de melhor nessas agremiações. Se isso ocorresse seria uma resposta interessante na atual conjuntura.

    O rearranjo das forças progressistas em torno da luta contra o golpe criou um ambiente propício para canalizar essas forças em torno de um projeto político de centro esquerda. Um partido político grande, capaz de contemplar esses milhões de brasileiros que estão mobilizados e a procura de uma alternativa.

  4. Post meu c/comentarios à entrevista:

    Entrevista do Min. J. Wagner. ao Nassif/Brasilianas – Comentários

    ROMULUSQUA, 13/04/2016 – 00:01ATUALIZADO EM 13/04/2016 – 22:42

    Infelizmente não deu para assistir ao programa ontem, devido a diferença de fuso. Dei uma olhada hoje pra ver se a EBC já tinha subido o vídeo, mas ainda não.

    De qualquer forma, Nassif já adiantou um resumo dos principais pontos abordados e a visão do Min. Jacques Wagner. Vejam em: “Jaques Wagner, no Brasilianas: os alertas para o pós-impeachment“.

    Destaquei algumas passagens, as quais comento a seguir:

    >> A preocupação é com o pós-impeachment, o momento em que tiver que ser definido uma repactuação. O governo não poderá mais repetir os erros anteriores, de fechar-se ao debate público.

    – É a preocupação de Wagner e de todos nós. Aceitei o desafio do “O xadrez da segunda rodada do impeachment” e tentei imaginar o panorama político no pós-impeachment e a esquerda “sem Lula” de 2018 em diante. Falhei miseravelmente. Desisti. Fiquei completamente exaurido sem conseguir que saísse nada.

    >> Wagner confia muito no papel a ser desempenhado pelo ex-presidente Lula, por seu conhecimento do Congresso e do país como um todo. Considera que há uma enorme distorção da mídia em relação a Lula. O ex-presidente sempre foi um grande conciliador e hoje é apresentado como incendiário.

    – Só mesmo quem compra a mídia familiar “at face value” (sem dar o devido desconto) embarca no “Lula incendiário”. A jararaca sabe usar o chocalho como ninguém mas sabe também quando convém ou não dar o bote – e aqui também como ninguém.

    – Sobre a diferença entre a versão que a mídia familiar tenta vender e a que acredito estar mais proximal de Lula – o animal politico por excelência – recomendo, com muita humildade, a leitura de uma parábola de minha proporia autoria (que cabotino que eu sou! Quanta pretensão…). Postei ontem aqui no GGN, como resultado da dor de cabeça que Nassif me deu tentando pensar no pós-impeachment naquele “Xadrez…”. Aqui: Parábola Multi-Sincrética de Duas Tribos em Guerra

    >>Na avaliação de Wagner, o governo teria uma margem de votos razoável para impedir o impeachment. Mas tem certeza, também, que a Lava Jato e a Procuradoria Geral da República casaram a agenda de eventos com a pauta política.

    – Não invejo a posição dos estrategistas que terão de decidir entre pagar pra ver e confiar nos votos prometidos por “aliados” no plenário ou provocar desde já o STF, para tentar evitar o peso politico de eventual derrota.

    – Mesmo não invejando quem tomara a decisão, escrevi um post sobre isso neste fim de semana com considerações para a tomada dessa decisão. Aqui: “Derrota na Comissão do Impeachment – Hora de Ingressar no STF?“. Não a toa a trilha sonora é “Nervos de Aço”. Aliás, menciono no texto tweets de J. Wagner justamente a esse respeito postados na sexta-feira passada.

    – Ministro no twitter: ótima iniciativa! Continue fazendo ligação direta entre o governo e a frente democrática na sociedade através das redes sociais!

    (Nota: tentei incorporar no post “Derrota na Comissão…” as contribuições de colegas advogados a esse respeito nos comentários feitos ao posts “Porque o Supremo precisa analisar o mérito do impeachment“, do Nassif, e “Porque o STF precisa apreciar o impeachment, por Romulus“)

    – Puxando a brasa ainda mais para a minha sardinha (estou impossível hoje!), tentei relacionar a mudança dos ventos nos últimos dias – refletida na pesquisa Datafolha? – e sua potencial influencia como elemento a informar a eventual tomada de decisão pelos Ministros do STF. Aqui: Pesquisa Datafolha: Vento da Mudança vai arejar STF?

  5. É por isso que cada um de nós faz falta

    É por isso que você faz falta

    A democracia é uma construção coletiva, ela necessita de todos. E, por isso, não perguntes a quem, estas loucas pessoas nas ruas estão defendendo? Porque és a ti que elas estão defendendo.

    E, é justamente esta a liberdade que é sonegada pelos meios de comunicação.

    E, é justamente esta a liberdade que é objeto de luta e pela qual milhões de pessoas morreram

    E, é justamente esta a  liberdade que é sinônimo de igualdade e clareza

    E, é justamente esta a liberdade que é a base da dignidade da pessoa humana

    E, é justamente esta a LIBERDADE que em sua forma plena  se chama DEMOCRACIA.”

    É o jogral das meninas em São Paulo. https://www.facebook.com/Lula/videos/980112365391097/

    É a música excepcional, pelos tons, pelas vozes, pela mensagem, pela liberdade, e pela luta, de construção da democracia. https://www.facebook.com/musicapelademocracia/videos/248286172184514/?pnref=story

    É a gigantesca manifestação nos Arcos no Rio de janeiro, é o Lula é o Chico Buarque, são os trabalhadores, artistas, estudantes, é todo este mar de gente, gente linda, como jamais eles verão em seus programas plastificados e falsos. http://www.tijolaco.com.br/blog/multidao-que-nao-sai-no-jornal-mas-existe-e-se-levanta-como-uma-onda/

    E, isso, realmente é algo grandioso.

    Mas, não nos resta muito tempo, e a luta é para ontem.

    Não há mais lugar para hesitações, é chegada a hora, de todos, sem exceção, sairmos de nossa zona de conforto.

    A sorte já foi lançada,  e muitos de nós ainda estão arrumando as roupas para a viagem.

    Portanto, não percamos  tempo, a democracia não passa na Globo News, nem é comentada pela Cristiana Lobo ou o Camaroti, estes são seus carcereiros, suas madrastas más, e cínicas, que enchem os bolsos e espalham um riso frio de cemitérios abandonados.

    Não se envolvam nesta teia cruel e mentirosa da grande mídia, que cerceia a liberdade e tenta ferir de morte a democracia.

    Nem ouçam o canto destas sereias querendo leva-los à perdição, a crise não é de mercado, porque ai, seria oportunidade, a crise é humana, e ai pode virar tragédia, isso, se não usarmos de todas as nossas forças para impedi-la.

    E isso é essencial, é urgente, precisa ser feito agora.

    Porque depois, não tem como dizer, desenterrem os mortos,  continuem a luta, pois nada nem ninguém volta e restará apenas silêncio e choro.

    É esta a urgência que precisa ser sentida.

    Esta mesma urgência que vi clara no dia 18.03.2016, mas que agora  precisa ser multiplicada para que o riso prevaleça, a diversidade seja plena, e o amor possa vicejar como fruto da solidariedade e da luta por dignidade e compaixão.

    Lembrem-se, nestes tempos de construção de oportunidades,  desaprendemos a ver uma antiga realidade, muito dura,  que pode voltar a qualquer momento, e bater a nossa porta.

    Saibam todos, que, se nós não sairmos agora,  ela vai nos encontrar sós e sem proteção, apenas com belos propósitos nas mãos, mas desarmados de tudo.

    Mobilizem-se, coletivos e fóruns, são feitos para lutar, e muito, mas isso concretamente,  não para encontros de chás e de conspirações benignas, entre amigos, isto é para os tempos e paz.

    E agora vivemos a grande Guerra pela Liberdade, a Guerra para mantermos a Democracia e nossos direitos duramente conquistados.

    Não podemos ficar em casa, com nosso cotidiano intocado.

    Precisamos discutir e defender a democracia como algo real e palpável.

    A democracia é uma construção coletiva.

    Ela não prescinde de pessoas que a queiram construir, a queiram defender, queiram lutar , queiram morrer por ela.

    E, é por isso que cada um de nós faz falta.

    E, é por isso que você faz falta.

    A nossa voz precisa da sua para ser forte, para ser ouvida.

    A nossa participação, precisa da tua mão, do teu braço, do teu abraço, do teu suor e do teu esforço, do esforço de cada um, para ser vitoriosa e legítima.

     A democracia não é tão somente um sistema politico, é uma forma de organização, uma forma de solidariedade, uma forma de convivência, fraterna.

    A democracia é de todos nós, e só existe enquanto participação e construção coletiva, de cada um, para cada um, e envolvendo a todos.

    Ela é nossa, de todos que saem de suas casas, de seus locais de lazer, de seus trabalhos e assumem o ônus da participarem, em uma espécie de mutirão, do prazer de, aos poucos,  construí-la.

    E, sem exceção, lutamos pelo êxito de nossos esforços comuns, em busca de um futuro de igualdade de oportunidades, ou ao menos, um presente de igualdade de opinião.

    A democracia é uma construção coletiva, ela necessita de todos. E, por isso, não perguntes a quem, estas loucas pessoas nas ruas estão defendendo? Porque és a ti que elas estão defendendo.

    E por isso, neste momento fundamental, nas manifestações, nos fóruns, na internet, nos comitês, nos bairros, nos coletivos, eu, você, todos nós fazemos falta, cada um e todos.

     

     

     

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