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Jornal GGN – Embora amparado por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, compareceu à CPI da Covid no Senado, na manhã desta quarta (16), com a metralhadora ligada. Depois de acusar Jair Bolsonaro de abandonar, de propósito, os governadores e prefeitos no enfrentamento à pandemia, para depois acusá-los de destruir empregos e desviar recursos públicos, Witzel apresentou um novo ângulo à comissão: ele sustentou que Bolsonaro e o bolsonarismo penetrado nas instituições da República prejudicaram e perseguiram governadores por interesses estritamente políticos, o que também teria se refletido na gestão da pandemia.
Cassado em um processo de impeachment, Witzel alegou que sofreu “retaliação” do governo Bolsonaro durante o maior surto sanitário do século porque criticou as ações e omissões do governo federal na gestão da pandemia, porque não endossava a intervenção federal nas polícias e porque tinha pretensão de ser presidente da República.
Ele também disse que incomodou a família Bolsonaro por ter apoiado a independência e profundidade nas investigações da Polícia Civil a respeito da morte da ex-vereadora Marielle Franco, que teria sido executada por milicianos, e também das Organizações de Saúde (OSs) que constituíam uma verdadeira “máfia” no Rio de Janeiro.
Segundo Witzel, foi a partir da defesa dessa investigação que ele passou a ser acusado, “forma leviana e sem provas”, de interferir na Polícia Civil e deixou de ser recebido por Bolsonaro. “A partir daquele momento, do caso Marielle, é que eu percebi que o governo federal, o próprio presidente começou a me retaliar. Eu não fui mais recebido no Palácio do Planalto e tinha dificuldade de falar com ministros. Eu encontrei com o Paulo Guedes em um avião e ele virou a cara pra mim, saiu correndo, disse ‘não posso falar com você’. Esse não é comportamento republicado”, disparou o ex-governador. “Eu fiquei numa situação de vulnerabilidade [na pandemia]”, insistiu.
Na sequência, Witzel relatou que até o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, serviu de “menino de recado” de Bolsonaro e deixou claro que o então governador não era atendido por rivalidade política.
“Eu estive com o ministro Moro, na época, e fui pedir a ele que não pedisse de volta os delegados que estavam comigo. Eu tinha cinco delegados trabalhando comigo, um deles, inclusive, o delegado Bernardo Barbosa, que era do Controladoria-Geral do Estado. O delegado Bernardo estava levantando uma série de crimes praticados em governos anteriores, inclusive o caso das OSs. Ele descobriu mais de 1 bilhão de reais de desvios das OSs. E eu sou chamado, convidado por Moro, para conversar. Quando eu cheguei, ele não quis tirar foto comigo, não quis anunciar meu nome e disse que não poderia estar dando publicidade a minha presença no Ministério da Justiça. O ministro Moro me disse o seguinte: “Witzel, o chefe falou pra você parar de falar que quer ser presidente; e se você não parar de falar que quer ser presidente, infelizmente a gente não vai poder te atender em nada. E aí o ministro Moro falou que ia pedir de volta os delegados, porque era uma determinação do governo federal. Isso é ou não é uma intervenção indevida em um Estado da federação?”
Relator da CPI, o senador Renan Calheiros quis saber o que Witzel respondeu à “indigna colocação [de Moro] em nome do chefe.” “Eu disse que Moro estava equivocado”, respondeu. Se Moro queria chegar a ministro do Supremo, continuou Witzel, não poderia se prestar a “menino de recado”. “Não é o papel que se espera de um magistrado”.
Witzel insistiu que seu relato sobre retaliação era “importante” para que os senadores entendessem a narrativa criada por Bolsonaro na pandemia. Para ele, Bolsonaro abandonou os governadores e prefeitos “à mercê da desgraça que viria”, se recusou a conversar com desafetos políticos como João Doria, não investiu em vacinas e não fez a coordenação internacional para a compra de equipamentos e insumos. Tudo porque é negacionista, contra o isolamento social e avesso à responsabilidade por prejuízos econômicos.
O PORTEIRO DE BOLSONARO
Para criticar o papel de Moro e ilustrar como o bolsonarismo aparelhou as instituições em benefício próprio, provocando reflexos na pandemia, Witzel ainda lembrou do caso do porteiro de Bolsonaro, cujo primeiro depoimento teria exposto o elo entre os milicianos que executaram Marielle e a família presidencial. Para o ex-governador, Moro foi usado para coagir a testemunha, que ficou “apavorada”, a mudar o depoimento.
Disse à CPI: “O ministro Moro, logo após o porteiro – isso é importante porque tem a ver com a pandemia, tudo isso foi um crescente para chegar na pandemia e dar o golpe final contra mim – o porteiro, pessoa simples, prestou depoimento à Polícia Civil [dizendo que o miliciano foi ao condomínio onde vive Bolsonaro, e pediu para falar com o presidente, horas antes de sair para executar Marielle]. Logo depois, o ministro Moro, lamentavelmente, de maneira criminosa, requisita o inquérito, para investigar crime de segurança nacional. (…) O porteiro que estava como testemunha recebe intimação da Polícia Federal (…( e por requisição do Ministério da Justiça, a PGR instaura um inquérito para acuar. Qual a outra leitura que se faz disso? Eu sou jurista. É eminentemente uma coação da testemunha no curso do processo. Óbvio que, depois disso, o que porteiro fez? Disse que se equivocou.”
“São indícios evidentes de intervenção [de Bolsonaro] no Rio e caracterizam uma série de atos de perseguição a mim, porque não me dobro a nenhum tipo de ação ilícita. Fui juiz e não admito intervenção na policia. Eu acabei com a Secretaria de Segurança Pública para não ter intervenção na Polícia Civil nem militar, e isso desagradou muita gente”, pontuou Witzel.
Outros governadores teriam suas próprias histórias de retaliação para contar à CPI, finalizou o ex-juiz.
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