Em Goiás, Cármen Lúcia cria cadastro e mutirão, mas cancela visita a presídio

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Goiânia – A presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, ministra Cármen Lúcia, durante reunião para tratar da crise no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

da Agência Brasil

Em Goiás, Cármen Lúcia cria cadastro e mutirão, mas cancela visita a presídio

Felipe Pontes – Repórter da Agência Brasil

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Cármen Lúcia, assinou ontem (8), na sede do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), um termo de cooperação para agilizar a implantação no estado de um cadastro nacional de presos. A visita programada ao Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde ocorreram três rebeliões desde o início do ano, foi cancelada.

Não houve explicação oficial sobre o cancelamento, mas o presidente do TJ-GO, desembargador Gilberto Marques Filho, admitiu que a insegurança foi um dos fatores que pesaram na decisão. Após mais de quatro horas em três reuniões de trabalho, Cármen Lúcia deixou o tribunal sem falar com a imprensa.

“Fiz ela entender que não havia necessidade”, disse Gilberto Marques. “Não quero correr o risco de impor à nossa presidente um aborrecimento qualquer que seja”, acrescentou. “Não seria prudente expor, embora ela quisesse ir, mas eu a convenci a não ir.”

O recém-empossado diretor-geral de Administração Penitenciária de Goiás, coronel Edson Costa, reconheceu que a situação no Complexo Prisional está controlada, porém que não considera o local “nada seguro”, afirmando que “a situação é grave”.

Desde o início do ano, ocorreram três motins no Complexo Penitenciário, que conta com cinco unidades prisionais, de diferentes graus de segurança. Na primeira rebelião, em 1o de janeiro, na Colônia Agroindustrial do Regime Semiaberto, nove presos foram mortos, dois deles decapitados, e outros 14 ficaram feridos.

Além de agilizar a implantação do cadastro nacional de presos, a visita de Cármen Lúcia a Goiânia resultou na criação de mais um mutirão entre juízes, promotores e defensores públicos para tentar acelerar a análise de processos nas Varas de Execução Penais do estado, que sofrem com falta de pessoal.

No caso do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, apenas uma juíza é responsável pela análise de mais de 12 mil processos, muitos deles ainda no formato físico, em papel. Outros três juízes serão realocados para ajudá-la, anunciou o TJ-GO. A medida, entretanto, foi vista como paliativa por membros da Defensoria Pública do estado que participaram da reunião de trabalho nesta segunda-feira.

 

“Não adianta a gente falar em mutirão e depois a situação voltar ao que era antes”, disse o defensor público Élvio Lopes Pereira Júnior. “O pleito da Defensoria Pública foi nesse sentido, de que não fique só no mutirão, como foi no ano passado, mas que sejam implantadas medidas de médio e longo prazo para resolver de vez o problema da execução penal”.

Os defensores entregaram à Cármen Lúcia um abaixo-assinado, escrito à mão em folhas de caderno e subscrito por mais de mil presos da Colônia Agroindustrial, que pedem que o Judiciário adote postura mais flexível na análise da progressão de penas para um regime mais brando.

Isso teria o potencial de desafogar o sistema carcerário, uma vez que muitos presos já poderiam estar em prisão domiciliar e ter sido beneficiados por liberdade condicional. “Temos que fazer uma triagem para saber quais são os reeducandos que têm qualquer chance de receber os benefícios”, disse o desembargador Gilberto Marques.

Novos presídios

Nesta manhã, na sede do TJ-GO, Cármen Lúcia se reuniu também com o governador de Goiás, Marconi Perillo, de quem ouviu queixas relativas à presença de milhares de presos federais abrigados no sistema carcerário do estado. São criminosos que cometeram crimes considerados de jurisprudência federal, como o tráfico internacional de drogas.

“Isso é um problema de décadas. A minha opinião é de que esses presos deveriam ficar em presídios federais”, defendeu Perillo, que estimou em 5 mil o número de presos federais que, segundo ele, sobrecarregam o sistema estadual.

O governador entregou a Cármen Lúcia um dossiê no qual detalhou o investimento, segundo ele, de R$ 501 milhões no sistema prisional de Goiás em 2017. Ele evitou entrar em polêmica sobre dados do Ministério da Justiça, que em nota oficial disse que o estado deixou de aplicar R$ 39 milhões em recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) repassados pelo governo federal.

Perillo anunciou a contratação de 1.600 novos agentes penitenciários, para suprir a deficiência de pessoal nas prisões. Segundo ele, ainda neste mês será aberta uma nova prisão, em Formosa, e outra em Anápolis, bem como outros três presídios em outras cidades, totalizando 1.588 novas vagas que desafogarão o sistema carcerário goiano.

Em inspeção realizada em novembro do ano passado no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, o CNJ constatou que a superlotação é um dos principais problemas. Com capacidade para 2,1 mil detentos, as cinco unidades prisionais do local abrigavam mais de 5,8 mil internos, quase três vezes mais.

 

Edição: Fernando Fraga

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

9 Comentários

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  1. Carmem Lúcia tem horror à

    Carmem Lúcia tem horror à pobre e presidiário?

    Nenhuma novidade.

    O “golpe com o STF” com tudo foi dado para garantir que os juízes pudessem continuar roubando dinheiro público legalmente (salários acima do teto, auxílio moradia, etc…) e não para melhorar as condições dos presídios brasileiros.

  2. duvidei que visitasse…

    ninguém gosta de se culpar e perder o sono ante o horror dos presídios de um estado governado por tucano

    se fosse um petista, talvez visitasse só para aparecer na Globo

  3. Nassif, isto é uma piada ?

    Então a Justiça manda gente para as prisões e não sabe mais quem mandou ?

    Tem que rir ! (Ou não?)

    No mínimo, nenhum de seus integrantes consegue arrumar emprego de almoxarife em uma construtora.

    Agora, o que será que provoca este esquecimento ?

    Serão que aqueles 60 dias de férias ao ano ?

    Será que é a questão financeira dos “sem teto” ?

     

    Afinal, de que planeta estes da toga vieram ?

  4. O tambor faz muito barulho

    O tambor faz muito barulho mas é vazio por dentro.

    Barão de Itararé

    A presidenta que bradava frases feitas contra o PT e que se agigantou para defender a independencia entre os poderes da república para proteger o Aécio Neves ficou pianinha quando teve que enfrentar o Brasil real. Nenhuma novidade.

    Ah! Copiei a frase do site do assessor da ministra. De justiça eles não entendem, ele e a  presidenta. mas frase tem pra todo gosto.

  5. Pena que o delegado Hitler

    Pena que o delegado Hitler Mussolini, famosíssimo entre os presos do sistema carcerário goiano, não possa ciceronear a presidento do supreminho.

    Trecho de uma entrevista com o falecido delegado goiano, ex chefe do sistema carcerário de Goiás :

    [video:https://youtu.be/G_ZuetUzxFI%5D

    1. Surreal
       

      Mas, Antonio Carlos,

      não era proibido registrar filho com nomes de criminosos de guerra?

      É de se acreditar em reencarnação mesmo.(he!he!)

  6. ISSO É LÁ COISA PRA SER

    ISSO É LÁ COISA PRA SER PRODUZIDA POR MARKETEIRO? DESPACHA OS DOIS. O ASSESSOR MARKETEIRO, E A MINISTRA DONA CARMEM LÚCIA PRA MIAMI.

    Meu Deus!!!!! Até eu que não acredito nessas coisas que a vista não logra alcançar. Fiquei em estado de choque, ao ver isso em rede nacional.  Que vergonha! Ainda estou pasmo, com tamanha pantomima em que enfiaram a dona Carmecita de la Lucía. Ufa! Teria sido uma sarfanagem dos Marinho?

    Que portentoso, o desempenho da presidenta do acovardado supremo da pouca vergonha do ex-judiciário Nacional. Isso, é que se pode chamar de um PAPELÃO!!! …Rapaz!….Não se deve fazer uma esculhambação dessas com as instituições do País. O que vamos dizer às criancinhas quando chegarem da Escola? Hem???…

    Isso está até me cheirando a algo parecido com um ensaio dirigido pelo “pessoal” do Eugênio Ionesco, um dos criadores do teatro do absurdo…se for isso, menos mal. Mas, deveriam ao menos avisar, né não?

    Orlando

  7. Sinceramente?

    A visita dela não serviria pra nada, a não ser pra aparentar que estão tomando alguma providência. Seria uma visita engana-trouxa, feita sobre medida pra mídia jurar que “agora vai!” e continuar escondendo o verdadeiro culpado da situação, o Marconi Perillo (que agora já quer até se candidatar ao governo do DF…).

    Mais efetivo seria o Ministério Público de Goiás, meses atrás, tivesse enfiado umas duas ou três ações de improbidade na costa do Perillo, pra obrigá-lo a trabalhar (glo.bo/2ErqkvA) e parar de querer botar a culpa da inação dele no governo federal.

    O discurso estilo “tirando o corpo fora” do Perillo é o mesmo do Garotinho quando era governador e foi cobrado sobre a violência e o tráfico no Rio de Janeiro (“drogas e armas entram pela fronteira, controle de fronteira não é da minha alçada!”), é o mesmo discurso do Alckmin sobre o escândalo tucano do Metrô quando diz que “o estado é vítima”. E é esse discurso “não é problema meu!” que a mídia vem engolindo sem questionar – às vezes endossando, como o Ronaldo Lemos (bit.ly/2mjITLJ), da Globonews – e que a visita da Cármem Lúcia só serviria pra adicionar mais fumaça na cortina…

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