Liquidez dos EUA não resultou em aumento dos investimentos privados

Sugerido por Assis Ribeiro

Da Carta Capital

A economia engasgada

A liquidez abundante nos EUA não fez crescer o investimento das empresas privadas
 
por Luiz Gonzaga Belluzzo
 
Olhem ao redor: de há muito e cada vez mais os cidadãos têm suas vidas atormentadas por um séquito de desenganos. A esperança escorre pelo ralo. Exagero? Os fiéis executores das partituras dos mercados prosseguem em sua funérea cantilena de celebração da austeridade.
 
Vejam os republicanos que vociferam às margens do Potomac. São gênios expelidos da lâmpada esfregada pelos mercados financeiros. Os bacanas de Wall Street abastecem esses serviçais com grana abundante nas eleições. Até o mundo mineral, diria Mino Carta, sabe que um caudal de dinheiro corre para o bolso dos congressistas para patrocinar desatinos e malfeitos.
 
A finança e seus súditos loquazes falam banalidades para explicar as crises que suscitam, enquanto executam a sua lógica profunda, transformando, sem dó ou piedade, os sabichões de ontem nos nefelibatas de hoje. Seus cúmplices e vítimas de alto escalão executam banalidades, enquanto atormentam cidadãos com a falta de lógica de suas falas.

 
Ao capitular diante das exigências absurdas de novas rodadas de insanidade fiscal, desfechadas sobre uma economia capenga, os republicanos e seus eleitores comprovam a força das fantasmagorias do mundo imaginado, que bloqueiam qualquer contato com as realidades da vida concreta dos indivíduos.
 
Nascidos dos escombros da crise financeira de 2008, os programas de facilitação quantitativa, desamparados de uma ação fiscal mais incisiva, não conseguiram tirar a economia do crescimento modorrento. As autoridades monetárias, representando o interesse coletivo, não podem deixar que prosperem e se aprofundem o processo de contágio, a deflação de ativos e a contração do crédito. É necessário que os bancos centrais estejam dispostos, nestas circunstâncias, a prover abundante liquidez para os mercados em crise.
 
A euforia recente turbinou, porém, os preços nos mercados de ativos (ações, títulos de dívida e moedas dos emergentes), mas não “vazou” para o financiamento do gasto das famílias, ainda em processo de (des)endividamento. A liquidez abundante tampouco impulsionou o investimento das empresas privadas, que apresenta um desempenho pífio no território americano.
 
Em seu recém-publicado livro The Road to Recovery, o economista Andrew Smithers vai mais fundo no desvendamento das engrenagens da economia financeirizada. Ele demonstra que, no período 1981-2009, o investimento das empresas privadas, calculado sobre o PIB, caiu 3%. Uma tendência de longo prazo. Segundo Smithers, o investimento deixou de apresentar o comportamento cíclico de outros tempos, quando acompanhava as flutuações da economia.
 
A experiência da crise de 2007 mostra que as injeções de liquidez destinadas a impedir o colapso dos preços e a paralisia dos mercados interbancários contiveram a derrocada dos preços dos ativos, mas não conseguiram reanimar a economia. A visão keynesiana tradicional apoia suas recomendações de política fiscal na possibilidade de a ação do governo vencer a desconfiança e o pessimismo do setor privado. Smithers defende uma tese mais ousada: as últimas décadas mostram uma tendência de apodrecimento dos animal spirits dos acionistas e executivos das empresas americanas. As estratégias financeiras valorizam os ganhos de curto prazo e, por isso, estimulam os programas de buy back de ações (compra das próprias ações com o propósito de valorizá-las e favorecer a distribuição de dividendos).
 
A relação entre os recursos destinados ao investimento e aqueles utilizados para elevar os ganhos dos acionistas e a remuneração dos administradores (stock options). Nos anos 1960, a cada 12 dólares gastos com compra de maquinas ou construção de novas fábricas, apenas 1 dólar era investido com os dividendos pagos aos acionistas.
 
Desde as reformas neoliberais dos anos 1980, as empresas ampliaram expressivamente a posse dos ativos financeiros como forma de alterar a estratégia de administração dos lucros acumulados e do endividamento. O objetivo de maximizar a geração de caixa determinou o encurtamento do horizonte empresarial.
 
A expectativa de variação dos preços dos ativos financeiros passou a exercer um papel muito relevante nas decisões das empresas. Os lucros financeiros superaram com folga os lucros operacionais. A gestão empresarial foi assim submetida aos ditames dos ganhos patrimoniais de curto prazo e a acumulação financeira impôs suas razões às decisões de investimento, aquelas geradoras de emprego e renda para a patuleia.
Redação

4 Comentários

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  1. Por isso venho dizendo há

    Por isso venho dizendo há alguns anos e demonstrando que:

    “o mundo grita chega de crescer”

    Como nos post:

    Re: 2013 será de desemprego e recessão para a zona do euro

    sex, 22/02/2013 – 18:43 — Assis Ribeiro

    O modelo faliu.

    Apertem os cintos que no mundo globalizado as vasos se intercomunicam.

    O Brasil em 2014 terá muitas inaugurações de obras do PAC, Dilma vencerá as eleições.

    O comércio no mundo desaba, os PIBs contraem.

    Os BRICS continuarão na ponta, mas com crescimento cada vez menor.

    Os chamados desenvolvidos conseguiram crescer roubando a riqueza de outros.

    A crise é cíclica, dirão alguns. Foi cíclica enquanto aguardavam surgir os novos espoliados.

    O mundo não é mais bobo.

    Desesperados os grandes partem para cima da África, a disputa pelo butim não será fácil.

    Empresas privadas não investem mais no mundo, governos assumem o prejuízo da banca.

    O mundo privado não pode quebrar, dirão os mesmos, então que se quebrem os governos.

    O dinheiro dos governos cada vez mais escasso.

    No Brasil, concessões, em cima de concessões, desoneração, queda de juros, diminuição de impostos, redução dos preços de energia, contratos renegociados com ampla vantagem para as privadas, empréstimos vantajosos com prazos enormes e juros abaixo do mercado, e nada, não aparece o investidor.

    E não se muda o modelo, e continuam com os motes de gestão, eficiência, enxugar a máquina, reforma, ajustamento estrutural, austeridade, como se os principais players da crise já não tivessem incorporado essas “funções” neoliberais há tempos, como se essa retórica fosse mudar algo.

    Ainda não quiseram perceber que a crise tem sua origem na distribuição da riqueza e não na produção ou consumo propriamente dito (não há novos compradores), então como as indústrias vão continuar produzindo, para quem? Não há falta de produtos, há estoques parados.

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/2013-sera-de-desemprego-e-recessao-para-a-zona-do-euro

     

     

    Comentário ao post “O segundo tempo do jogo econômico

    Sem dúvida o governo terá que dar uma sacudidela, mas não vejo que seja em função para o retorno da credibilidade. 

    O travamento de investimentos são se dá pela falta de credibilidade em relação à cumprimento de contratos, insegurança jurídica, e outros termos criados pelo “mainstream” para sugar o máximo possível do governo.

    O travamento dos investimentos ocorre em todo o mundo, exceto nos países que têm se utilizado do dinheiro público.

    Os mais confiáveis como os EUA e os países centrais da UE o investimento privado morreu, e mesmo com a política de juros negativos os empresários preferem manter o seus dinheiro em aplicações diferentes da área de produção.

    O governo atual chegou a repetir o lema “plante que o governo garante”, agora na área da indústria e infraestrutura.

    Isenções, maior parte do financiamento através de bancos públicos com juros abaixo do mercado, carência para inicio de pagamento, prazo longuíssimo para amortização, e até mesmo garantia de lucros.

    O que se quer mais?

    Precisamos encarar que o mundo grita:

    “Chega de crescer”.

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/precisamos-encarar-que-o-mundo-grita-chega-de-crescer

    1. Grande Assis.
      Uma coisa certa

      Grande Assis.

      Uma coisa certa que os marxistas falam “O estado e o comitê executivo da classe dominante”.

      Esta elite dominante não é formada apenas por “capitalistas” entre aspas pq odeiam o livre mercado, são também todos os que se lucupletam com o sistema da forma como esta, desde o funcionário publico que recebe muito mais que a sua produtividade ao pensionista que se aposentou com 45 anos.

      O que se vê  atualmente e a consolidação de uma sociedade corporativista, estatista ou seja fascista onde uma reedição das corporações de oficio é tão clara na vida do cidadão. 

      Dificilmente vão largar o osso de forma voluntária.

       

      1. livre mercado, um delírio

        Aliança, esta “entidade” , livre mercado, que como um moto perpétuo criaria infinitamente preço baixo e produto de qualidade é uma impossíbildade humana e natural. O que existe é o palco da sobrevivência mediado por um agente civilizador , o Estado.

        Caí na real e entra na luta por um Estado eficiente. 

  2. ….. mas tirando a

    ….. mas tirando a pataquada, uma coisa eh certa:  muitos enriqueceram com a aplicação do dinheiro, principalmente nos emergentes.

    o mundo eh dos espertos  !!!!!!!!!!!

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