O HSBC e o futuro, por Vladimir Safatle

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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da Folha

O HSBC e o futuro, por Vladimir Safatle

Quando você sai de um avião e entra no “finger” de quase todos os aeroporto do mundo, normalmente a primeira coisa que vê são frases edificantes sobre as oportunidades do futuro, a sinergia produzida pelos criativos e empreendedores, a necessidade de estar preparado para novos desafios e toda essas frases feitas vindas de manual de autoajuda de administradores de empresas à procura de uma “recolocação”. As frases são uma contribuição desinteressada das campanhas publicitárias do banco HSBC para um mundo melhor.

Bem, enquanto um dos maiores bancos do mundo gastava uma pequena fortuna para criar a imagem de uma corporação preocupada com algo mais do que seus próprios interesses, sua filial suíça ajudava toda a escória do rentismo mundial a burlar impostos, operar fraudes fiscais por meio da abertura de empresas “offshores”, lavar dinheiro de tráfico de armas e drogas e de desvios de verbas públicas feitos por ditadores, déspotas e seus asseclas, além de outras formas singelas de crimes.

Só entre 9 de novembro de 2006 e 31 de março de 2007, 180,6 bilhões de euros circularam por cem clientes de sua filial em Genebra e por 20 empresas offshore.

Desta forma, o sistema financeiro mundial mostra como é composto de corporações especializadas em destruir toda perspectiva de futuro, isto ao viabilizar crimes os mais variados possíveis e fornecer proteção mafiosa àqueles que acumulam fortunas, muitas vezes de forma criminosa.

Enquanto isso, seus países não têm mais dinheiro para subvencionar saúde decente e educação pública de qualidade para seus cidadãos.

Enquanto você paga impostos em cima de partes substantivas de sua renda sob uma fiscalização implacável, o pessoal do topo conta com o auxílio inestimável de corporações como o HSBC para defender seu dinheiro, venha ele de onde vier.

Um dos capítulos mais interessantes dessa história se passa, para variar, aqui mesmo. O Brasil aparece como o nono país em número de clientes envolvidos em tais operações. No entanto, nenhum nome de brasileiro foi divulgado.

Sabemos de nomes dos mais variados: do rei do Marrocos ao ator John Malkovich; do primo do presidente sírio Bashar Al-Assad ao dono de salões de beleza Jacques Dessange.

Porém, dos 8.667 clientes com vínculos com o Brasil, sendo 55% de nacionalidade pátria, não se sabe, por enquanto, absolutamente nada.

Como sempre, o Brasil é especialista em blindar os negócios escusos de sua classe de sonegadores e em defender seus rendimentos.

Mas as peças publicitárias do HSBC continuam sorrindo para nós em todos os grandes aeroportos do país.

VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. Ontem divulgaram o nome de

    Ontem divulgaram o nome de Tina Turner, David Bowie, do Brasil só um banqueiro que já faleceu, e uma quantia que era um troco para ele, seria importante ir atras dessa lista, será que tem alguem que posa de moralista fisgado nessa rede?

  2. Mogisenio, otário brasileiro da silva de ruas tortas portuguesas

    Olá Vladimir Safatle, bom dia, tudo bem?

    Considere -me  um otário.

    Algum dia já acreditei nestas campanhas para enganar otários. É sério. A gente acredita nas coisas dependendo da forma que(como)  é publicada.

    Em algum momento de minha vida, eu também acreditei –  de boa-fé – na tal da meritocracia e nessas BABOSEIRAS  publicadas nesses manuais de auto ajuda  que você mencionou. No fundo, são fórmulas para lhe transformar em otário. Por exemplo, campanhas para que os otários economizem água – mantendo-se construções de mineroduto  que  usam “pouca água” -, campanhas para que a gente passe a exigir  nota fiscal – mantendo-se paraísos fiscais e royalties misteriosos  -, “planejamentos tributários evasivos, etc.

    Enfim, coisas do tipo. Coisas para otários!

    Todavia, um dia a ficha caiu. Aí, percebi o quanto bebi da fórmula transformadora de boa-fé em bons otários devidamente manejados.

    E não é que tem estudo para isso também? Parece  coisa de economistas sabe? Aquelas teorias de homem natural, egoísmo, mão boba e invisível, curva que pode ser  reta e que tem “custo de oportunidade”  e que serve para enganar otários. Compreende?

    In casu, efeito do tipo HALO, teorias da comunicação ( Lasswell), da persuasão, funcionalista, até mesmo, a crítica etc, não faltaram nessa empreitada de usar e abusar  da minha BOA-FÉ juvenil num ingrediente para me transformar num bom  OTÁRIO meritocrático.

    Porém,  minha boa-fé ainda persiste. Mas, é claro, ela anda de mãos dadas com o otário que sou.

    Em suma , posso-lhe dizer que sou um otário de boa-fé. Pleonasmo não? 

    Porém,  pretendo seguir aprendendo para me transformar num otário de má-fé. Sabe como?

    Aquele que “respeita” as leis mais busca as suas “brechas”.  Por exemplo, aquele que ao ler  um texto legal, percebe que o predicado se refere a um sujeito  com a clareza maior do que a do  sol na terra no verão,  mas , mesmo assim, usa o seu poder hermenêutico para “interpretar ( a lei) para ser “o esperto” e dizer que o predicado é para outro sujeito oculto com  “interesses” camuflados. Tratam-se dos criadores( financiadores e cia) que  criam  mais “otários”, como eu.

    E se a interpretação falhar, você recorre à “política” , com o auxílio dos “economistas” para criar, convencer e cooptar mais otários, como eu.

    Enfim, coisas para otários como eu. 

    São as  “regras do jogo” que enganam e convencem otários já devidamente criados. O Bobbio fez um bom manual para explicar como um  otário  “compra” a ideia com o seu “poder” de voto.

    Resumindo,  “políticos”, “economistas” e “hermenêutas”  etc vão nos dizer que haverá  mobilidade social com mertitocracia  “no longo prazo” , isto é, antes que você vá para a  cova pequena que te cabe nesse latifúndio –   desde que haja um  crescimento de 7 ou 8 % ao ano do “pib”(Publicação idiota para bobos). Mas para isso precisamos seguir as “metas da inflação”  com a selic remunerando devidamente os “meritocráticos”.

    E um banco globalizado tem o seu papel nesse cenário “meritocrático”, não é mesmo?

    Ah! antes que eu me esqueça, é claro, Piketty , evidentemente, está errado!

    Por fim, desejo-lhe um bom dia.

    Mogisenio Otário da Silva Brasileiro

    Otários de todo o Brasil, uni-vos!

  3. Alívio

    Segundo o texto “toda” a escória do mundo usa a filial Suiça do HSBC. Que bom! Quer dizer que todos os outros bancos estão limpos. Então basta fechar o HSBC e tudo fica bem.

  4. O Presente e a

    O Presente e a Plutocracia.

    Depois da sonegação da Globo, do Bradesco e do Itaú, agora é a vez do HSBC. No mundo, várias gigantes de diversos setores – sem muito alarde na mídia nacional e internacional – vem fazendo acordos para se livrarem de crimes cometidos: HSBC e UBS, por exemplo nos EUA. Siemens, na Alemanha, Suíça. CBF na Suíça. Apenas para ficar em alguns exemplos mais recentes.

    A  nossa mídia – incasável no combate seletivo à corrupção – não vai fazer uma campnha pela cabeça do presidente nacional do HSBC por ter gerenciado voluntariamente através das agências o esquema de sonegação dos afortunados brasileiros. Muitos dos quais desejosos de mudar para Miami diante da epidemia de corrupção que foi ‘inaugurada’ pelo atual governo.

    Pior: o clamor anticorrupção não será seguido pelas hordas que abundam nas redes sociais para repetir matérias da mesma velha mídia. Nem veremos ‘artistas’ de luto em fotos ridículas ou juízes para condenar os formadores de verdadeira quadrilha que vem assaltando os cofres brasileiros, cujos recursos poderias ser investidos em serviços públicos.

    Não. Não veremos nada disso, pois os jovens que acordaram em junho de 2013 tinham um repertório já desbotado que habita a nossa velha imprensa, escola da maioria dos que foram às ruas contra a seletiva corrupção.

    Mais uma vez, a realidade nos assalta para lembrar que o papel escreveram que vivemos numa democracia. Porém, é a plutocracia que se evidencia quando poucos estão acima das leis que impedem – para o bem de todos – a maioria de cometer crimes como a sonegação e ficaram a salvos da Polícia, Receita Federal, da Justiça, da ‘sociedade civil’ e da mídia.

     

  5. Vladimir deixou de citar que

    Vladimir deixou de citar que seria interessante que o jornalismo brasileiro fizesse o mesmo que o francês e fosse atrás dos nomes dos brasieliros que estão na lista. Por que a Folha, por exemplo, não faz isso? Por que o articulista não faz essa cobrança? Quer continuar sendo o bom moço de esquerda aos olhos da grande mídia?

  6. Nos vivemos num mundo onde o presidente da comissão europeia foi

    durante vinte anos, primeiro ministro e, simultaneamente, ministro das finanças de outro paraíso fiscal, Luxemburgo. A esposa do primeiro ministro inglês trabalha numa empresa que também usa um paraíso fiscal como sede para fugir dos impostos. O Bradesco, de onde veio nosso ministro da fazenda, deu um mega calote fiscal no brasil com a ajuda de paraísos fiscais sem, ate agora, ter sofrido nenhuma consequência, e o Levy, ate onde eu sei, desde de que assumiu não  falou nem uma frase sobre isso. Muito dinheiro do trafico de drogas e terrorismo circula através de paraísos fiscais. Ou seja, tem muito gente poderosa se esbaldando nessa festa, mas a conta continua sendo nossa.

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