A missa de 7º dia de Vinicius na Igreja dos ricos e na Igreja dos pobres, por Luis Nassif

A arrogância é a principal inimiga para a expansão da Igreja Católica dos ricos

Houve duas missas de 7º dia para Vinicius Gonzaga Fávero. Uma, da família, na Igreja São Gabriel, zona dos Jardins. Outra, na Igreja do Parque Viviani, em Itaquaquecetuba, a 34 km dos Jardins, encomendada por dona Edna, nossa funcionária.

Ambos lotaram de pessoas atrás de acolhimento.

Na Igreja de São Gabriel, o pároco aproveitou que grande parte do público ia pela primeira vez à Igreja, e despejou dardos de fogo sobre os ímpios, disse ser absurdo o sujeito se considerar católico e não defender a religião contra os ataques; que católico de verdade não faltaria às missas de domingo nem se deixaria seduzir por outras religiões. E despejou ira, soberba, cobiça como se falasse a uma multidão de ímpios prontos para a conversão.

O público ficou em silêncio. Estavam lá em solidariedade a Vinicius. Havia pessoas de todas as religiões, esperando apenas acolhimento e conforto na dor. Mas o pároco não abria espaço. Falou da Páscoa, da ressurreição de Cristo, de Maria Madalena, daqueles que não acreditaram e terminou com uma ameaça:

— Como dizia Cristo, quem não me receber hoje não será recebido no céu!

Aquela multidão de pessoas que ia pela primeira vez à Igreja entusiasmou o pároco, que não parava de falar, de cuspir raios de fogo sobre os ímpios e falar sobre a Páscoa, sobre Maria Madalena, sobre as indecisões de Pedro. Em determinado momento, deu vontade de puxar uma salva de palmas, para ver se parava.

Depois, quando o amigo Renato Braz subiu ao altar, para entoar uma canção, tudo previamente combinado, o pároco deu-lhe uma bronca e o fez mudar de lugar.

Como disse minha neta Clara:

— O que podemos tirar da cerimônia foi nossa união, estarmos todos lá com o propósito de lembrar dele e desejar o bem. O padre falhou muito, nem citou sequer uma frase de amor ao próximo ou de compaixão, mas que bom que sabemos que não precisamos de padre pra ter isso nas nossas famílias. Foi lindo com a fotinho dele lá, e o carinho de todos com ele e com vocês não foi apagado pelo padre.

A 34 km dali, vizinhos e amigos de dona Edna lotaram a Igreja do Parque Viviani, em Itaquequecetuba. O padre celebrou uma missa de 7º dia, não de Páscoa. Falou de Vinicius, em cima das informações passadas por dona Edna. No final da missa, chamou dona Edna, confortou-a. E fez apenas uma menção para os que foram à Igreja pela primeira vez: se gostaram, voltem outras vezes.

Tem certos dias em que penso em minha gente, e constato que a arrogância é a principal inimiga para a expansão da Igreja Católica dos ricos, arrogante, intolerante em relação às outras religiões. E me deu imensa saudade das freirinhas do São Domingos, e das igrejas da periferia, em uma das quais fiz um curso para ser padrinho de batismo do filho de uma funcionária.

Na Igreja dos pobres, dezenas de pessoas que só conheceram o Vini pelos relatos da Edna, cantaram emocionado a canção “amigo é coisa prá se guardar / do lado esquerdo do peito”. Na Igreja dos ricos, o cônego proibiu qualquer canção popular.

Luis Nassif

19 Comentários

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  1. Essa é a opção que anulou a Teologia da Libertação e entregou o povo pobre aos neopentecostais dede João Paulo II: Igreja para poucos e bons.

  2. Nassif, leitor voraz que é, sugiro que leia a Bíblia porquê ela lhe dará essa resposta (agora eis o dilema, todo seu preparo intelectual e cultural de nada adianta, porque só se entende pelo Espírito). Na realidade o padre fez uma mistureba por um motivo simples, ele não tem condições de passar o que ele não tem, pasme! Que é o conhecimento DA BÍBLIA! O real problema da igreja católica e de várias denominações evangélicas é que se desviaram do real sentido da palavra de Deus. Perceba que, se um pregador for verdadeiramente guiado pelo Espírito Santo, dirá as coisas concernentes a eternidade, e não fará acepção de pessoas.

  3. Olá Luis Nassif!

    Reenvio essas “impressões” abaixo, enviadas quando soube do lamentável falecimento do Vinícius, por complicações de dengue, porque só agora assisti o vídeo entrevista com o Paulo A Lotufo e soube que vocês fazem um grupo sobre saúde pública.

    Ainda continuo em hidratação, para ingestão de soro, uma vez que ainda estou contaminada, com dengue. Ainda estou com náuseas e a cabeça confusa.
    Não tenho qualquer prova, mas farei umas observações a seguir.

    Meu conhecimento científico é zero e apenas queria, como vítima, assistir uma reportagem isenta, para eu entender um pouco mais e, como sonhar não custa nada, queria que a empresa OXITEC DO BRASIL encerrasse suas atividades no Brasil.

    Essa empresa de biotecnologia denominada OXITEC DO BRASIL, localizada na Av. John Dalton, 92, Condomínio e Techno Park, Campinas- SP, fabrica, manipula, modifica e VENDE – inclusive em caixas variadas, via INTERNET, para qualquer pessoa física e para diversas prefeituras municipais Brasil afora – o mosquito Aedes aegypti.
    Alega que é para combater referido mosquito.

    Antigamente, o Aedes aegypti transmitia apenas febre amarela e incidia apenas na região norte.

    Entretanto, foi depois que essa empresa foi autorizada (?) a fabricar e comercializar no Brasil, o mosquito passou a transmitir dengue, chikungunya, zika vírus e neste ano de 2024 a bactéria Wolbachia, ocorrendo uma “inovação” e lançamento de novo modelo de mosquito e respectiva doença a cada ano, parecendo que diminuiu a produção durante os anos da pandemia de covid-19.

    Em campanha permanente de marketing referida empresa alega que originou-se de estudos realizados pelos alunos da renomada Universidade britânica de Oxford e sei lá mais o que. Só sei que a Rede Globo “dá a maior força”, com ampla divulgação, apresentando todas atividades da empresa como a coisa mais natural do mundo e ao mesmo tempo altamente científica, ou seja, sem qualquer crítica, ou menção a possível perigo de dano a vida humana.
    (https://www.oxitec.com/br/oxitec-do-brasil)

    Por outro lado, as autoridades brasileiras, além de gastarem bilhões de reais comprando os mosquitos infectados desta empresa, gastam outros tantos bilhões em campanhas publicitárias para “culpar” o povo por falta de higiene, na época do verão e das chuvas e recentemente com campanha de vacinação.

    Por fim, no “achometro”, sem nenhuma certeza, penso que esta empresa foi autorizada a funcionar no Brasil durante o governo da querida Presidente Dilma. Será que teve “envolvimento” de alguém do PT? 😮
    Tomara que não.😮

    Essa OXITEC muda de nome, faz fusão, parcerias, etc… com outras como a MOSCAMED e Biobasa(?não sei o nome).

    Vejam o site http://www.oxitec.com

    Queria tanto saber o que o MST pensa desta empresa e assunto.

    Eu penso que se essas empresas fossem “incineradas” já resolveria este problema.

    Grande abraço a todos vocês.

    1. Pesquisei rapidinho o assunto e vi que essa Oxitec comercializa versões biologicamente modificadas do Aedes, o que serviria como instrumento para controle de vetores.
      A CNTBio, entidade vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, aprovou a comercialização do produto. Segue parecer técnico.

      http://ctnbio.mctic.gov.br/publicacoes?p_p_state=normal&_110_INSTANCE_cwksGAQxt1lp_struts_action=%2Fdocument_library_display%2Fview_file_entry&p_p_lifecycle=0&p_p_id=110_INSTANCE_cwksGAQxt1lp&p_p_col_count=1&_110_INSTANCE_cwksGAQxt1lp_fileEntryId=1701215&p_p_col_id=column-2&p_p_mode=view

      Seguem link da Fiocruz sobre o tema:
      https://www.canalsaude.fiocruz.br/noticias/noticiaAberta/aedes-do-bem-auxilia-no-combate-ao-mosquito-da-dengue-2016-01-22

      Enfim, não vou me alongar, mas confesso não ter entendido sua pinimba com a empresa. Parece uma daquelas correntes de pânico que infestam os grupos de Whatsapp da extrema direita. Menos, bem menos, por favor.

  4. Rico (com o perdão dos extravagantus) só sabe mandar; jamais comandar. Muito menos liderar. Salvo, reforço, os poucos gatos pingados “extravagantus”. Que fazem uma enorme diferença.

  5. Olha, Luis, pra quem é do ramo, não se espanta com a Igreja São Gabriel. Brinco com os meus, sobre onde vão celebrar minha morte(ou ressureição?). E é uma pena, porque o Evangelho de ontem, é dos mais caros, pra mim. Daria uma homilia belíssima! Já se deu conta que Jesus andou cercado de discípulos homens, e foi para uma mulher, e pecadora, Maria Madalena, para quem ele primeiro se mostrou, ressuscitado? Até ele desconfiava dos homens…
    Depois de uma formação religiosa revista, maravilhosa, já adulta, fui aprendendo a fechar os olhos e os ouvidos para a barbárie, e rezar.
    Nos conhecemos nos velhos, e bota velho nisso, nos tempos do Colégio Equipe. Até, já publiquei no seu belo jornal (“Dias Perfeitos”, às vezes são horríveis!) Rezei pelo Vinicius ontem, e por sua família.
    Abraço,
    Solange Peirão

  6. Infelizmente os muitos padres se adaptam às suas comunidades.
    No Jardim Paulista (já fui várias vezes a essa igreja de ricos, que tem um site impecável, tem até missa gregoriana!) o público é composto pela elite rica do Brasil: neoliberal, bolsonarista, defensora do mérito e adversária da solidariedade. Não a toa, a Faria Lima é logo alí.
    Se o padre rezasse em latim, muitos iriam questionar a pronúncia reconstituída (à romana) do padre, tamanha erudição presente no recinto. Contudo, falta solidariedade, empatia, se colocar no lugar de sofrimento do outro. Esse termo não foi e nem será dito pelo ‘cônego’ (um título nobiliárquico para lá de antiquado). Em resumo: é o indivíduo, seus méritos, e seu ‘Deus’. Basta a fé e um padre culto (com doutorado em Roma!!!), para te esclarecer. Se isso não for o bastante, tem a terapia e os psicotrópicos carérrimos, para te dar um suporte.
    Já na periferia, sozinho não se pega nem o ônibus, pois não haverá lugar, de tão lotado. Solidariedade é tudo, comunidade é vida, pois sem ela morre-se antes. Morte que é uma das dores que se cura em comum, no coletivo, e não na terapia ou no hospital (que não tem).
    Papa Francisco sacou isso, mas muitos padres e bispos ainda não. Não é a sem razão a perda do dinamismo do catolicismo na capital do cardeal e sua batina escarlate.
    Mas ainda assim a Igreja resite no povo humilde, na fraternidade, no estar com o outro e fazer comunidade.
    Importa lembrar ainda, que o termo comunidade vem do grego ‘koinonia’, que é mobilizado predominantemente no Novo Testamento (23 ocorrências), para caracterizar esse nova forma de convivência humana inaugurada com a vinda e ressurreição de Cristo. Essa ‘koinonia Christiana’, será traduzida por ‘communitas’ em latim e não por respublica, civitas, societas, urbi. Porquê é uma nova de estar no mundo, de viver uma coletividade que compartilha coisa materiais, mas, principalmente, um valor espiritual de caminhar junto para a Jerusalém Celeste, porque se vai para lá junto, com a Igreja Peregrina.

    Abraço forte a Eugênia e a todos que amam o Vini.
    (Abraço que é um dos símbolos da solidariedade).

  7. Luis, para mim, que sou do ramo, não me espanta a postura da Igreja São Gabriel. Brinco com os meus, para cuidarem da minha missa de morte (ou ressureição?).
    E ontem foi o dia de um dos meus evangelhos favoritos. Daria uma linda homilia. Já parou pra pensar que Jesus passa a vida doutrinaria cercada de discípulos homens, mas foi para uma mulher, e pecadora, Madalena, que primeiro se mostrou ressuscitado? Acho que nem ele confiava nos homens…
    Nos conhecemos nos velhos, e bota velho nisso, quando era professora de História do Colégio Equipe. Até já publiquei um textinho no seu belo jornal. “Dias Perfeitos. Às vezes são horríveis, mesmo. Rezei pelo Vinicius. Sempre estremeço, quando penso na dor da mãe e do pai, diante da morte de um filho. Rezei por vocês.
    Abraço

  8. Não é bem essa a razão. Afinal, os que vão para as evangélicas na maioria das vezes encontram coisas bem piores, especialmente se for pentecostal.
    Não sou religioso, mas ajudo em uma campanha anual em uma igreja evangélica (Batista) e frequento missas eventualmente. A diferença entre elas é brutal (pelo menos na Santa Rita do Padre Maurício).
    É triste dizer isso, mas a impressão que tenho é de que a grande maioria das pessoas que procuram as evangélicas hoje em dia o faz por interesse mundanos.

  9. Nassif, por todos os relatos que li sobre Vinícius, eu imagino a presença dele na missa, em espírito, contendo e reforçando a paciência de cada uma das pessoas presentes, como se dissesse: liga não e perdoa, o padre não sabe o que diz e nem o que está fazendo.

  10. Para não misturar os assuntos, Vinícius não merece, o GGN poderia mais adiante fazer uma matéria sobre os desvios perigosos das igrejas. Mas, este assunto é para uma outra matéria.

  11. Eu, que não sou do ramo (me permita a brincadeira Solange) vou a missas de 7o. dia, quando muito. Os católicos que me perdoem, mas a quem a missa pretende atingir? Será que sou eu com olhar crítico? Será que os que possuem devoção escutam, assimilam e sentem-se reconfortados? Facílimo compreender o crescimento de evangélicos.
    E lembrar que antes era em latim. Qualquer hora, não duvido, retornam.

  12. Nassif,
    Esses eunucos de Cristo não param de encher o saco e, depois, não entendem a razão pela qual a igreja Católica está decadente. São uns histéricos que, com certeza, teriam uma visão mais equilibrada da vida caso se permitissem frequentar a rua da luz vermelha.

  13. e num cemitério próximo, duas lápides:
    uma, gravação em mármore de Carrara: “Aqui jaz General-Marechal quinze estrelas fulano de tal”
    Ao lado, escrita na tampa de cimento a giz: “Aqui jaz parece que se chamava José”

  14. Nassif, meu jornalista número 1, que texto, que emoção, que denúncia de um pároco sem coração, frio, burocrata, maldoso. E que vitalidade lá na igrejinha dos pobres e num religioso cheio de compaixão, aquela que sua neta reparou que o primeiro não tinha. Você fez um texto com a alma na mão. Temos na PPL – Pastoral Popular Luterana uma Rede de Leitura para a qual selecionamos a cada 15 dias artigos para debate nos grupos. Suas duas crônicas sobre o Vini ou Vinão, especialmente esta, serão postadas por mim. Você faz as vezes de um teólogo prático das margens e eu sempre defendi como professor de teologia, que temos de ouvir as margens, como aliás o Ressuscitado que voltou pra Galileia dos gentios depois da Ressurreição e continua a andar pelas margens e periferias do mundo, a maIS das vezes, ANÔNIMO. Hoje chora e sofre em Gaza com as crianças mortas e o genocídio de um povo. Seu admirador e assinante
    Roberto Z ([email protected])

  15. Mesmo uma comunidade de um publico específico o sacerdote não teve a compaixão de expressar maior aporosidade a familia e aos presentes ali na solidariedade. Importante que essas informações cheguem ao Dom Odilo, o Arcebispo, uma vez que o sacerdote foi indicado sabendo onde celebrava. Linda a atitude do sacerdote em Itaquaquecetuba, certamente homem simples e vive com os simples e mostrou a importancia da celebração e acolhida ao Vinicius Favero. Igreja dos Ricos, Igreja dos Pobres. Boa sua colocação, Nassif

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