Educação para o trabalho – Cadê?

 

Quando era criança, lembro muito bem dos meus pais e dos outros pais da época, educando os filhos para estudarem para terem emprego. E era o que muitos faziam. Estudavam, sem se importar com o ganho de conhecimento ou com uma capacitação especial; apenas se preocupavam com as notas que os fariam passar de ano e ao final do curso tirar um diploma que os encaminhassem a um ‘emprego pra vida toda’. O tempo passou, mas, infelizmente, os bancos das faculdades estão lotados de gente que pensa assim. Pior: pensa que só diploma vai fazer milagre. Isso mesmo, milagre.

Não é de hoje que ouvimos e vemos inúmeras reportagens nos dando conta da falta de mão de obra qualificada em diversos segmentos. Para um país que amargou anos de crise com desemprego, poderíamos estar comemorando tal fato, mas ele nos leva a outra constatação: a educação no país não acompanha as reais necessidades do mercado de trabalho. Não basta um diploma de Arquiteto. É preciso ser arquiteto, urbanista, planejador, conhecedor das artes, da cidade, do meio ambiente, da legislação, ter a mínima noção do que é espaço, desenhar (não só no CAD), calcular, e o principal, saber que a arquitetura vai muito além de projetar uma casa para um cliente. E ler, ler muito. Não estou exagerando: falo do básico. Pense em qualquer outra profissão e force a mente para enumerar as habilidades que deve ter para estar, mesmo, preparado para disputar uma vaga de principiante em qualquer empresa.

Empregadores querem profissionais preparados para algo mais do que era valorizado antigamente: o funcionário exemplar, que bate o ponto na hora certa todos os dias, nunca falta ao serviço, entra quieto, sai calado, faz sua parte, bem quadradinha e vai embora. Não estuda, não se aprimora, não se especializa, fica a vida inteira fazendo a mesma coisa. Já foi tempo. Este aí, pode apostar, de exemplar não tem mais nada.

E nossa educação não tem olhos pra isso; se tem, ainda não despertou para a solução objetiva do problema. Desde o ensino fundamental, o que se vê nas escolas é aquela batalha árdua para que o aluno some os pontos necessários para ser aprovado. Aprendeu alguma coisa? Vai se saber… Hoje em dia até que houve certo avanço, por exemplo, nas questões de prova, que são contextualizadas e evitam a decoreba. Mas ainda assim, é a nota o que importa. Indo mais além, nossas crianças e jovens são treinados, como robôs, para passarem no vestibular. Até passam. Mas dá pena de ver o que são estas pessoas que chegam às salas de aula dos cursos superiores: não interpretam um texto, não leem, não escrevem, não debatem, não têm opinião, não discernem, não sabem fazer um projeto, um trabalho que precise pesquisar, categorizar, formular, descrever, defender. São aprovadas no aperto das notas esticadas, recebem o diploma de graduação e… Muitos passam a fazer parte da lista de desempregados, embora as empresas estejam gritando por profissionais.

Segundo levantamento divulgado em abril pela Confederação Nacional da Indústria – CNI, 69% das indústrias brasileiras sofrem escassez de mão de obra qualificada e 52% dos empresários consultados disseram que a má qualidade da educação básica é um dos principais entraves na qualificação dos funcionários. 94% das empresas registram maiores dificuldades para encontrar operadores, 82% para contratar técnicos, 71% para funcionários qualificados em vendas e marketing, 66% para a área administrativa, 62% para gerentes e profissionais de pesquisa e desenvolvimento, e 61% para engenheiros. Os setores mais afetados são os de vestuário (84%), equipamentos de transporte (83%), limpeza e perfumaria (82%) e móveis (80%).

Falar sobre o tema já está virando ladainha na grande imprensa , mas poucos se referem a mudanças mais que drásticas na educação para que a cultura da notinha da prova e do diploma seja extinta de vez das nossas instituições de ensino. É preciso mais. Talvez nem saibamos que mais seja este. Mas é urgente pensarmos a respeito e colocar as ideias pra fora.

E o problema agora se estende também ao comércio. Manchete recente do Portal iG trazia: “Ninguém quer trabalhar”, diz lojista. O desabafo levado ao título da matéria é de uma gerente de loja de São Paulo, que já fez de tudo para encontrar funcionários, sem sucesso. Até há alguns meses, ainda pedia pelo menos uma passagem rápida por algum comércio ou conclusão do segundo grau. Agora, pra conquistar a vaga e ter a carteira assinada, basta saber ler e escrever, ser maior de 18 anos e ter disposição para pegar no pesado. E segundo apurou a reportagem, o cartaz anunciando as vagas permanece lá há meses, amarelado pelo tempo.

Redação

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