Meu último texto em 2023
por Rui Daher
Este texto inicia um período sabático, curto ou longo, dependendo de minhas paixão e resiliência que começam a fraquejar. Escrever. Afinal, de que me valeram esses 20 anos de criações semanais militantes? Mesmo a família e amigos mais próximos disfarçam um sorriso quando em novas rodas, menos íntimas, me perguntam o que faço. Evito citar administrador e pequeno empresário. Antes, relato escrever para os GGN e CartaCapital. Essa a minha questão. Escrevo, mas não tenho muito claro o que pensam deste trabalho os leitores e minhas editoras Lourdes Nassif e Thaís Reis Oliveira, respectivamente. A primeira, talvez pelo livro “Dominó de Botequim” (2016), além de outras atividades, qualifica-me “escritor”; a segunda, como “colaborador”. Na verdade, Thaís está correta. Há 78 anos, o que faço se não colaborar com o bem de humanidade e natureza? Se lhes parecer cabotino, tenham certeza, o é, ué!
O mar
Feito o preâmbulo, no momento que escrevo, estou numa ilha do estado de São Paulo “cercada de mar por todos os lados”, como definiam ilha os livros escolares de geografia de meus tempos.
Com minha mulher e militante antialcoólica, Cléo, meus filhotes Mariana, Júlia e Gabriel, eu tenho uma longa, prazerosa e fascinante história com a Ilhabela.
O texto é dedicado ao mar e a todas as cidades brasileiras que por ele são banhadas.
Nasci paulistano e até hoje invejo quem nasceu no litoral brasileiro. Fosse qual fosse. Do Oiapoque ao Chuí, invertidos ou não, partindo de cima para baixo, ou no inverso, de baixo para cima, de Torres (RS) a Itacoatiara (AM). Já estive em ambos e sei deles. No primeiro, com a família de minha mãe,
a pelotense, Yolanda, e no segundo, com meu amigo sojicultor, Blairo Maggi.
Tudo era mar e suas finalidades. Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, menina de 17 anos, caminhava da Rua Montenegro, em Ipanema, em direção à praia de Ipanema. Passava pelo bar-café Veloso, onde era observada com volúpia por Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Ficcional e galhofa:
– Tom, já pensou uma transa com uma gata assim?
– Vinícius, difícil. Não dá para nós. Até pedofilia poderiam alegar.
– Mais um uísque, talvez? Pra tomar coragem?
– Manda! Mas ela já está no mar.
– Vamos compor uma música para ela. Isso pode.
– Um samba?
– Sambinha. Adenilson, mais dois duplos.
– Vini, mas fica só nosso. Não vamos dar para ninguém cantar. Só nossa, afinal nós descobrimos a gata, sua pele morenice, seu traseiro arrebitado, pernas e coxas de contornos perfeitos, peitinhos duros e biquinhos levemente pronunciados,
– Veja a espuma do mar querendo embranquecer sua pele morena.
– Porra, Tom. Cê já fez a letra. O que me sobrou?
– Caralho, Vinícius, tem muto mais a dizer. Você saberá. Pelo amor de Deus, só não a mostre pro baiano.
– Qual?
– O João Gilberto. É capaz de mostrar até para a Astrud.
– Nada! Vamos apenas chamá-la de “Garota de Ipanema”, e escrever.
– Matita-Perê,vulgo Adenilson, roda mais dois. Concentremo-nos.
E assim a música segredo conquistou o mundo.
Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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