Izaias Almada
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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Refrescando a memória, por Izaías Almada

Passados mais de seis meses, eu gostaria de responder à pergunta com uma resposta afirmativa: não, a corrupção não salvará o capitalismo!

Refrescando a memória

por Izaías Almada

Há alguns meses escrevi aqui para o Jornal GGN uma crônica a que dei o título de “A Corrupção salvará o Capitalismo?”      

Passados mais de seis meses, eu gostaria de responder à pergunta com uma resposta afirmativa: não, a corrupção não salvará o capitalismo! E não salvará pela simples razão de que capitalismo e corrupção são palavras sinônimas.

O neoliberalismo econômico precisa cada vez mais do fascismo (a Argentina de Milei que o diga), da violência política e da corrupção na economia para aumentar por algum tempo a sua sobrevivência.

Quem não vê o que está a acontecer no mundo no inicio do vigésimo quarto ano do século XXI ou tem um alto grau de alienação do que se passa à sua volta ou é dos que vão conseguindo “se ajeitar” aqui e ali, corrompendo ou sendo corrompidos,

Infelizmente a corrupção faz parte do DNA brasileiro desde as bugigangas cabralinas e da instituição das capitanias hereditárias.

Quem se preocupa em conhecer o seu país nos diversos ramos de atividade e do saber, bem como de suas instituições nos poderes executivo, legislativo e judiciário, é capaz também de avaliar como estamos nos formando como nação.

É inegável, entretanto, no atual momento político em que vive o país, ressaltar a coragem, a força e a determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em encontrar soluções para os desastres do neoliberalismo caboclo, da irresponsabilidade do governo bolsonarista, dos desarranjos institucionais e da violência e do ódio provocados por inúmeros exemplos nos anos de 2016 a 2022 e pelo nosso fascismo caipira.

O presidente Lula nos faz lembrar, com todas as viagens e encontros com autoridades dos mais diversos países pelo mundo, o imortal personagem de Miguel de Cervantes: Dom Quixote de La Mancha.

Contudo, não há aqui inimigos imaginários que possam ser confundidos com moinhos de vento ou coisa semelhante. Os inimigos estão aí à solta e é possível identificá-los sempre que necessário.

Os processos judiciais abertos para investigar a tentativa de golpe em 08 de janeiro vão mostrando claramente quem e o que estava por trás da invasão da Praça dos Três Poderes. E que essa data seja lembrada com um dia em defesa da democracia e da justiça social.

É preciso que se diga a verdade e que todos nós, cidadãos brasileiros, tenhamos consciência de que vivemos num dos países mais corruptos do mundo.

E não adianta tapar o sol com a peneira.

No sistema capitalista o poder se exerce com a força do dinheiro. Quem tem dinheiro manda, quem não tem obedece ou então procura por ele. De uma maneira ou de outra. Terreno fértil para a disseminação de formas de enriquecimento ilícito.

A democracia representativa deixa de existir quando os donos do dinheiro em excesso desconfiam que outros seres humanos precisam também do dinheiro que lhes sobra, sobretudo na saúde, na educação e na garantia de trabalho, na casa para morar.

Para muita gente a corrupção passou a ser a tábua de salvação, seja para fugir da miséria ou pela necessidade idiota de mostrar alguma riqueza e algum poder aos patrões ou aos outros idiotas que moram na casa ao lado. Que o diga a classe média do país.

“Você viu o carrão que o vizinho do sexto andar comprou? Onde é que ele arranja tanto dinheiro? Trabalhando como gerente numa loja de departamentos é que não pode ser”.

E assim os anos passam e vamos vivendo, convencidos de que somos um país de sadia formação democrática e cristã quando, na verdade, vamos refinando o jogo da dissimulação e da corrupção.

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Izaias Almada

Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.

3 Comentários

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  1. A corrupção faz parte do DNA, por favor, sem o genitivo. É essa maldita mania de julgarmos que apenas o brasileiro é corrupto, ou cultor do “jeitinho” brasileiro, que faz de nós um povo vira-latas. Nossos pais – os europeus – e nossos padrastos – os americanos – são corruptos até à medula. Sempre foram, Sua prosperidade está fundada na mentira, na cobiça, na força; em outras palavras, na corrupção. O Colonialismo e o Imperialismo são frutos da corrupção inata do homem europeu que se lançou aos mares nos séculos XV e XVI, e do homem americano que o sucedeu na primeira metade do século passado. Ponto. A visão de corrupção que temos é a da propina, da bolada, dos 30 mil que caíram do céu, enquanto a dos europeus e americanos é a da invasão, da exploração e escravização do ser humano, da rapina das riquezas naturais de terras distantes. Isso não é corrupção? É progresso, desenvolvimento? E tudo isso, lembremos, em nome de Deus, da Justiça e da Democracia. Não do enriquecimento próprio. Porra, isso não é corrupção? A corrupção é o próprio DNA do Capitalismo, como pode ser a sua cura? O Capitalismo, filho dileto da Revolução Industrial, não é aquele sistema que explora a força de trabalho até a exaustão física e mental do ser humano? Isso não é corrupção? O Capítulo 8 da Seção III de “O Capital” deveria ser leitura obrigatória. A exploração apenas ficou menos feia e explícita, mas permanece inalterada em sua essência e finalidade. É um compêndio da corrupção do ser humano em sua faceta moderna, industrial. Essa é a verdadeira corrupção, e não a do jeitinho. As bugigangas e as capitanias mudam de nome e forma, mas são as mesmas em toda parte, e praticadas por todos povos e nações onde, algum dia, seres humanos se julgaram e se declararam donos e proprietários de algo ou alguém. Nós apenas reproduzimos esses padrões, que moldaram o Novo Mundo (Terceiro Mundo, eu diria) e nos transformaram em magris, severinos, bolsonaros, etc. O Brasil não é, nem de longe, o país mais corrupto do mundo. Essa “glória” cabe aos países prósperos, ricos, que tanto tentamos emular. E a menos que alguém consiga me apontar, no planeta Terra, alguma nação que tenha conseguido prosperar com base na moral e nos bons costumes, ou no respeito aos direitos de terceiros, observando as leis e convenções internacionais, ou, simplesmente, sem invadir, roubar, explorar, massacrar, e corromper, não mudarei de ideia. A Corrupção é a carranca de proa da humanidade. E não fala português.

  2. Caro Antonio, grato por você ter ampliado o significado daquilo que pretendi escrever sobre o Brasil atual, que finge ser um país civilizado. É evidente que a corrupção veio de fora para dentro, nenhuma dúvida sobre isso. Penso que deixei claro também que capitalismo e corrupção são palavras sinônimas, seja ao sul do Equador ou ao norte, onde os exemplos são inúmeros. Os nossos colonizadores foram os primeiros a dar o exemplo. Agora: ouça a Sonata ao Luar de Beethoven e pense numa figura como Bolsonaro. Alguma coisa ou alguém está fora do lugar. Um abraço.

  3. Prezado Izaias, o único reparo(se é que pode ser assim chamado) que fiz ao seu artigo, foi o de ter atribuído uma nacionalidade ao suposto DNA da corrupção. A corrupção faz parte do DNA humano, e como o brasileiro faz parte da espécie humana, etc. A história da corrupção humana não é um fato moral, mas cronológico, afinal, o corruptor jamais se apresenta como tal, deixando a pecha e a fama de miserável e desgraçado ao corrupto. O que está fora do lugar é essa maldita mania do brasileiro médio de julgar que nós somos o país mais corrupto do mundo, ou o único em que esta praga ocorre. E ainda tem gente que acredita que nós a inventamos. Não é o bastante deixar de dar trela a essa estupidez, é preciso revertê-la. De fato, Bolsonaro e Beethoven não tem nada a ver. Da mesma forma que Corrupção e Terceiro Mundo. Corrupção é coisa de Primeiro Mundo. O que fazemos aqui é ninharia perto do que eles fazem – e fizeram – quando resolveram sair pelo mundo.

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