Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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“Tá ruço, mano”, por Rui Daher

por Rui Daher

A entrevista do Clube dos Garotos de hoje, quinta da série, texto de “fricção” patrocinado pelas Estampas Eucalol, seria com o candidato a prefeito de São Paulo, pelo Partido Republicano Brasileiro (PRB), Celso Russomano.

Como o nosso rabo não é preso com o leitor, mas com os caraminguás que alguém possa nos servir, publicamos mensagem explicativa do candidato sobre o motivo de seu não comparecimento.

“Prezados jornalistas,

Seria de alta honra estar na presença de vocês no sétimo dia do mês de agosto deste 2016. Além de advogado, político com cinco mandatos de deputado federal, também sou jornalista e capaz de entender a necessidade de prestar contas aos leitores.

Acontece que inimigos políticos, certos da derrota, acusam-me de peculato, desvio de dinheiro público, da verba da Câmara dos Deputados, para pagar os salários da gerente de minha produtora de vídeos, entre 1997 e 2001, quando ela era nada mais do que funcionária de meu gabinete.

Amigos, vocês sabem que dediquei toda a minha carreira para defender os consumidores. Como iria deixar essa moça sem receber os proventos que garantiam sua sobrevivência? Não era ela uma consumidora? Digo mais, trabalhava “Night and Day”, daí talvez a confusão com o nome da minha produtora, em Brasília.

Depois de condenado, em 2014, a dois anos e dois meses de prisão, depois convertidos em serviços comunitários e doações de cestas básicas, recorri ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde serei julgado dia 9 de agosto.

Antes disso não gostaria de me pronunciar sobre a candidatura. Feita a justiça, colocar-me-ei inteiramente à disposição desse prestigioso órgão da mídia.

Com respeito,

Celso Russomano”

Cumprido o dever deste blog, assim como o doutor Celso, aqui e agora, crê tê-lo cumprido com sua laboral auxiliar, Nestor, Pestana, passamos a conversar sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016.

– Somente hoje, final da tarde de sábado, depois de chegar dos interiores paulistas e mineiros, pude assistir algo do que se passa nas Olimpíadas.

– Tá sabendo que o nosso Peixe lidera o Brasileirão?

– Não. E o futebol olímpico?

 – As crias de Marta e Formiga ganharam. Os criados de Pelé e Gerson ignoram o que é trave e bandeirinha de escanteio.

– Como a maioria deles vive no exterior, talvez devessem colocar setas: “HERE GOAL” e “HERE CORNER”.

– Resultados, medalhas, para mim, tanto fazem. Triste é ver a festa carioca e brasileira usurpada de seu criador.

– Os de lá, regurgitam: “que bom não termos que ouvir que ‘nunca na história deste País’ tivemos um evento como esse”.

– E por acaso tivemos, ou perdi alguma coisa do passado?

– É isso aí! Caso é o seguinte e podem ir abaixando o traseiro porque vou meter ferro: As Olimpíadas só estão acontecendo aqui porque na época da escolha o Brasil era o “queridinho do planeta” e nosso presidente “o cara”.

– Concordo. Antes, os gringos nem sabiam para que servíamos. Jogar futebol? Não mais. Músicas? Passado. Amazônia? Devastávamos. Então, deixem de revanchismo histérico e reconheçam a verdade.

– Viu a abertura? Ótima. No exterior, todos elogiando.

– Muito pouco. Apenas uns lances no telão de um bar, em São José do Rio Pardo, confuso entre tantas outras brasilianas emoções: bandas de rock, jovens estonteantes, cervejas variadas e a dose de ‘Boazinha’, a R$ 5,00.

– Te avisaram que o livro “Dominó de Botequim” está sendo revisado pelo Ali e ilustrado pela Pilar, os dois da CartaCapital?

– Sim, e o Nassif prometeu o prefácio e o Márcio Alemão a contracapa.

– Boa!

– Dói-me ver a TV Globo e outros se lambuzando em reportagens meladas e ufanistas enquanto, ao mesmo tempo, maquinam um provinciano juiz de primeira instância de finos lábios e um ministro do Supremo beiçudo para massacrar o único estadista que o País teve nos últimos tempos.

– Servem-se do faturamento e da grana que recebem por fora em terceirizações macabras, como faz qualquer Zé Blindado dos PMDB e PSDB, quando antes criticavam nossa pretensão em bancar o maior evento esportivo do planeta.

– Porra, vocês leram a coluna da Laura Carvalho dizendo que vivermos um auto imperialismo de patrões que nunca entenderão ou farão seus descendentes entenderem que quanto mais pagam e distribuem mais ricos e poderosos ficam?

– No mesmo dia (04/08) e Folha, o Jânio de Freitas aniquilou a hipocrisia do golpe. Todo o brasileiro deveria ser obrigado a decorar esse texto.

– Na semana, madrugada do interior café-com-leite, senti-me um covarde pela incapacidade de impedir o maior ato de desonestidade, hipocrisia e mentira entre todos os havidos para golpear a democracia, no Brasil.

– Assim se sentem os dignos.

– Sabe que só  de pensar em tanto descaramento tive inesperada diarreia noturna. Não evito a escatologia: olhei para os detritos no vaso sanitário – muitos têm esse hábito -, e veio-me a imagem de que ao dar a descarga eles iriam todos para o Senado votar o impeachment.

– É tá ruço, mano.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

7 Comentários

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  1. Como sempre ótimo, mas política não é escatologia, mas evolução

    Rui Daher,

    Muito bom. Algumas tiradas suas são impagáveis. A seguinte não pode deixar de ser reproduzida:

    “E por acaso tivemos, ou perdi alguma coisa do passado?”

    Não tivemos, mas, o que talvez seja ainda pior, tenhamos perdido o passado inteiro, e nos sobrará dizer: “isso não nos pertence mais”.

    Faço, entretanto, um senão. Para quem como eu tem admiração pela política e a política que admiro é a política democrática e a política democrática que admiro é a política democrática representativa e a política democrática representativa que admiro é aquela onde há o conflito de interesses e esse é dirimido via um processo fisiológico de toma-lá-dá-cá, não é razoável tratar a política como um dejeto. Ainda mais que a imagem para se fazer a analogia prescinde de modéstia ao se colocar de cima para ver as coisas cá embaixo.

    E o meu desgosto não guarda relação com o caráter escatológico do fechamento do seu texto, ainda que se trate de um caráter de que em geral eu não gosto, mas há casos em que ele é admissível, embora na nossa realidade a percepção que temos é que aqui embaixo da linha do equador somos todos papas e lá em cima alguns tornam realidade a expressão “me cago na cabeça do papa”. E mesmo depois da operação bariátrica não quero ter a sensação de que você se encontre entre os lá de cima.

    É preciso ver a política como um processo em evolução que acompanhará o grau de civilização da sociedade humana e que, portanto, não se trata de algo perfeito, ou que possa alcançar a perfeição. Sendo assim, não devemos, principalmente, quando das nossas derrotas, desqualificar a política, mas sim tentar descobrir as medidas que a possam aperfeiçoar. No caso brasileiro sem dúvida, a melhoria na distribuição de renda, na saúde, na educação e no sistema sanitário são condições precípuas para esse desenvolvimento.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 07/08/2016

    1. Com respeito prezado Clever,

      Com respeito prezado Clever, vou discordar num ponto. Entendo que o Rui não trata a política como merda, mas os políticos que vão votar o impeachment. E subentendo que exclui os que votarão contra. Estarei errado? Mas concordo inteiramente consigo e vejo que o Rui não foi feliz ao comparar o senadores impeachadores com dejetos. A merda, mesmo a humana, se for sanitarizada, pode ter grande serventia como adubo de fácil aquisição e custo praticamente zero. Pode também ser usada na produção de energia em biodigestores. Portanto, a infeliz comparação do Rui despreza o valor intrínsico da merda.

    2. Cléver,

      vivo, faço e respiro política desde os 16 anos, quando membro da UPES, União Paulista de Estudantes Secundários. Daí em diante, até me formar, nunca deixei o movimento estudantil nas mais variadas formas, barras leves e pesadas.

      Se eu pensasse política conforme você me interpreta seria a favor de ditaduras, o que não é o caso. Agora para certos políticos olharei sempre como os do hemisfério norte se referem ao papa. São uns bostas. Abraços

  2. Tá ruço, é pouco

    Esse é mesmo o país da piada pronta. Quando eu li o Daher usando o “tá ruço, mano” minha memória deu um pulo de quarenta anos e me vi de volta aos 70´s. O diabo é que esse salto fez um link com o nome da produtora do Russomano. Além de lembrar de Ella Fitzgerand e Sinatra, pela canção, levou-me a outras memórias. Naquela época, em certo momento, um dos nomes mais dados aos points que chamávamos (assim estava escrito nos luminosos) de “boîte” e onde gastávamos boa parte da mesada era, justamente, Night and Day. Com certeza, São Paulo, Rio e  Florianópolis tinham cada uma a sua. Mas, naquele tempo acho que o ambiente era mais familiar.

    1. “Chapa”,

      para não usar o teu nick e me sentir constrangido, te dou outro link de 40 anos atrás. Se o ambiente naquela época não era mais familiar, tenha certeza que muitos casais que lá se conheceram formaram famílias. Abraço.

    2. “Chapa”,

      para não usar o teu nick e me sentir constrangido, te dou outro link de 40 anos atrás. Se o ambiente naquela época não era mais familiar, tenha certeza que muitos casais que lá se conheceram formaram famílias. Abraço.

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