Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Bank Of America anuncia probabilidade de estarmos vivendo na Matrix, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Vivemos em uma gigantesca simulação semelhante à Matrix e nesse momento bilionários estão financiando cientistas que pensam em uma saída. Essa afirmação não foi feita por algum escritor de ficção científica, teórico da conspiração ou filósofo. Ao contrário, foi anunciado como uma variável em cenários futuros de investimentos em uma nota informativa distribuída para clientes do Bank of America Merryl Lynch, uma das maiores instituições financeiras dos EUA. Como assim? Profissionais supostamente realistas e pragmáticos do mundo dos negócios levando à sério hipóteses de filósofos como Nick Bostrom ou de físicos teóricos? Quais os efeitos dessa variável em um cenário futuro de negócios em games, computadores, Realidade Virtual e Realidade Aumentada? Alívio cômico em uma sisuda nota informativa? Sintoma de um espírito de época? Ou além dos cientistas, os próprios operadores financeiros esbarraram em alguma anomalia nos algoritmos que pilotam operações em milissegundos?

Se a teoria de que o Universo inteiro é, na verdade, uma simulação computacional partisse apenas de filósofos, físicos teóricos ou místicos, até poderíamos retrucar dizendo que tudo não passa de diletantismo de gente que não tem mais o que pensar. Pensaríamos até indicar esses cientistas ao famigerado Prêmio IgNobel – prêmio dado àquelas pesquisas científicas mais estranhas do ano que “fazem rir, e depois pensar”.

Mas quando essa mesma teoria é apoiada por profissionais do mundo pragmático dos mercados financeiros, aquela pulga atrás da orelha começa a incomodar. E, o que causa mais perplexidade, essa teoria torna-se uma das variáveis dos futuros cenários de investimentos.

De acordo com o Bank of America Merrill Lynch (BAML), uma das maiores instituições financeiras dos EUA, o plot que os irmãos Wachowski criaram para a trilogia Matrix está muito próximo da realidade.

Segundo a versão online do Daily Mail (clique aqui) e do Business Insider (clique aqui), nota informativa enviada aos investidores do BAML em seis de setembro diz que há entre 20% e 50% de chance de todos nós estarmos vivendo em uma Matrix – o que significa que todos nós, nossas vidas pessoais e financeiras, estão imersas em uma simulação.

O BAML chega a citar as  teses de Elon Musk, Neil deGrassi e do filósofo de Oxford Nick Bostrom – cujas ideias já foram discutidas nesse Cinegnose – clique aqui.

A nota descreve que no início desse ano, pesquisadores se reuniram no Museu Americano de História Natural para debater essa hipótese e diz:

Muitos cientistas, filósofos e líderes empresariais acreditam que há entre 20% a 50% de probabilidade que os humanos vivem em no interior de uma simulação computacional. Em abril de 2016, pesquisadores fizeram um encontro no Museu Americano de História Natural para debater a questão. O argumento é que estamos muito próximos de simulações foto-realistas em 3D nas quais milhões de pessoas poderão simultaneamente participar. É concebível que com os avanços atuais em inteligência artificial, realidade virtual e capacidade computacional, membros de uma civilização futura tenham decidido ‘rodar’ uma simulação da realidade para seus antepassados [ou seja, todos nós].

Infográfico da nota informativa do BAML mostrando cenários futuros, inclusive a possibilidade de estarmos vivendo em um mundo simulado

Cenários prováveis

Também a nota informativa do BAML destaca três cenários futuros prováveis que Nick Bostrom cria para a espécie humana: (a) extinção antes de chegar a fase “pós-humana”; (b) atingir a fase pós-humana, mas sem conseguir simular a história evolutiva; (c) já estamos na Matrix.

Ao mesmo tempo em que o BAML soltava essa nota informativa, a Business Insider especula, a partir de um artigo da revista New Yorker, que algumas das pessoas mais ricas e poderosas do planeta estão financiando cientistas para ajuda-los a sairmos dessa simulação.

Entre eles estão Elon Musk – fundador da Tesla Motors e da SpaceX – empresa que pretende enviar para Marte o primeiro voo espacial tripulado privado; além disso é sócio com Sam Altman da Open AI, empresa que estuda Inteligência Artificial. Inclusive, Sam Altman afirmou: “Ou nós escravizamos a IA, ou ela nos escraviza”.

Tad Friend, jornalista da revista New Yorker, afirma: “muitas pessoas no Vale do Silício estão obcecadas com a hipótese da simulação, o argumento que aquilo que experimentamos como realidade é de fato fabricado num computador. Dois bilionários da tecnologia chegaram a secretamente engajar com cientistas para trabalhar em livrar-nos da simulação” – leia “Sam Altman’s Manifest Destiny”, New Yorker.

Embora ainda não esteja claro quais as implicações que a confirmação da hipótese da simulação poderia trazer para o mundo dos negócios, fica a indagação: por que profissionais supostamente racionais e pragmáticos, em um mercado onde o cálculo realista das relações custo/benefício antecedem quaisquer curiosidades filosóficas ou metafísicas, repentinamente passam a se interessar por algo da filosofia, física e astrofísica? E mais, por uma teoria com evidente motivação gnóstica?

 Tal como fizeram o Daily Mail e a New Yorker, vamos fazer um exercício especulativo e formular algumas hipóteses.

(a) Senso de humor

No sisudo mundo dos negócios envolvendo games, computadores, Realidade Virtual (VR) e Realidade Aumentada (AR), o BAML quis fazer um pequeno alívio cômico: inserir uma variável absurda em cenários futuros em um infográfico. Ao lado do crescimento dos serviços baseado em AR e VR, games, gadgets e marketing, a insólita possibilidade de todos nós estarmos em um mundo tão simulado quanto os negócios.

Piada interna auto-referencial?

(b) Algo está acontecendo ou já aconteceu

Sabemos que o mercado financeiro global é uma verdadeira metafísica econômica. Se no passado a economia era uma questão de exploração do espaço (escravidão, renda da terra no Feudalismo, guerras colonialistas, imperialismo etc.), hoje o sistema financeiro explora o tempo

Tantos os juros como a velocidades das decisões de compra e venda é uma questão de tempo: juros tem a ver com a relação risco/tempo e atualmente grande parte das negociações no mercado financeiro estão nas mãos de sistemas de algoritmos de alta frequência – (Negociações de Alta Frequência – NAF) emitem automaticamente ordens de compras e vendas de ações em frações de segundos. Exploram as pequenas oscilações de um ou vários ativos, às vezes em milisegundos.  O computador executa e toma decisões de uma maneira mais rápida do que uma pessoa faria.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

13 Comentários

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  1. É óbvio!

    É obvio que vivemos numa Matrix!

    Afinal de contas, o mundo acabou no ano 1.000.

    E tudo o que vai acontecer amanhã é que uma borboleta vai acordar achando que hoje era um monge.

    Ou será então uma barata?…

  2. De fato…

    …vivemos em Matrix. Só que fora dos circuitos bancários damos a isso o nome de Realidade – algo que seguindo o exemplo dos equivalentes nacionais lhes escapa completamente.

  3. Bem, no Brasil a realidade

    Bem, no Brasil a realidade virtual há muito sobrepujou qualquer concrecute porventura existente. Aliás, ontem a camarilha de deputados arquivou mais um pouco da realidade do povo em geral. E os de curitiba estão deletando toda uma trajetória de direitos humanos (mínimos). Já o dito stf (apequenadíssimo, diga-se, com seu apêndice – para que serve? – cnj) também faz tempo que deixou a realidade de lado e se “afogou” em convicções e literaturas permissivas de condenações. Nossa dita mídia é homogênea comprovação de que a realidade só existe quando ela quer (ou seus donos querem), no mais, bias e amarceladas parcelas da vitória da inexistência contra qualquer defesa desenvolmentista. 

  4. Matrix te.eros
    Vivemos na matrix e o Temer e os deputados são vírus infiltrados para viabilizar o programa de exploração pelos próximos 20 anos! Ta na hora de passar o antivírus!

  5. Projeções psíquicas de uma dominação real

    Caro Wilson,

    Tanto Matrix, quanto estas divagações de especialistas do mercado são projeções num outro e/ou no futuro da submissão que já vivemos.

    E não se trata da submissão às máquinas ou à alguma inteligência artificial, mas à forma social “valor” (capital), como esclarecem bem os teóricos da crítica do valor.

    Matrix, especulações sobre mundos simulados de físicos, matemáticos e economistas neoliberais, os filmes e séries sobre zumbis, os borgs de Jornadas nas Estrelas, são todos projeções do controle real que o “valor” exerce sobre nós: do fato de que vivemos para o valor/capital, ao contrário do dinheiro servir às nossas vidas, como afirmam os (neo)liberais

    Como não podemos tomar consciência deste controle, o projetamos, de forma distorcida, em ficções e especulações científicas. E nestas projeções deslocamos o “vilão que nos controla” para um outro: as máquinas, o vírus zumbi, a coletividade borg etc.

    O mecanismo é bem conhecido dos psicólogos e acontece quando conteúdos inconscientes querem vir à tona, mas são reprimidos. Então a psique projeta o conteúdo num outro tempo e em outros atores.

    Se tomássemos consciência do problema real, teríamos que acabar com o capitalismo imediatamente, junto com o dinheiro, o estado, o mercado, o direito etc. Acabar com todo um modo de vida e valores, acabar, em suma, com o que nos sustenta psiquicamente e fazer uma revolução, não só econômica e política, mas antropológica.

    É uma ruptura grande demais que a sociedade atual está se recusando a fazer, mesmo com o capitalismo esteja nos encaminhando a uma catástrofe ecológica, social e talvez nuclear. Então projetamos nosso inferno atual em distopias futurísticas.

     

  6. Erro.

    E o programa que “roda” o Brasil, foi contaminado por um cavalo de tróia……..

    Está tudo de ponta cabeça e, tudo indica, que só tende a piorar….

    Está na hora de dar um ctrl+alt+del.

  7. Osho tinha razão

    Osho foi um filósofo da Índia e dizia que o homem fragmentou o tempo (presente, passado e futuro) para evitar o mergulho no vácuo da ininteligível existência humana, porém na consepção desse pensador indiano só existe o “hoje”, logo, não há o “amanhã”. E vai mais além: ”quem não vive , apenas, o hoje está morto”. Quanto às lembranças do passado são meras marcas holográficas no espaço-tempo, isso foi o que eu etendi. Outro dia estava assistindo ao saudoso Adoniran Barbosa, este dizia que adorava ir à R. 7 de Abril em SP, participar das cantorias nos bares de lá, na década de 1950 – hoje até eu vou -. O certo é : se há mesmo algo nessas teorias de implexas possibilidades do real, atemporalmente, têm muitas fotos para se apreciar, no momento hoje, o melhor do passado perdido. Dentro dessa perspectiva, cada um pode criar a sua matrix, e para isso realmente funcionar, o único comando sinaptico a ser dado ao cérebro é o ‘perder o medo de enxegar inconcebível’, além do mais, alta tecnologia só serve de atestado da sua própria lucidez, hoje.

  8. Dias de até 26 horas ou 22 horas

       Não, não surtei, trata-se de um fato no mercado financeiro globalizado, pois em certas partes do ano são declarados em varios paises “horarios de verão”, que podem, dependendo de onde vc. esta baseado, estender ou encurtar seu “dia de trabalho/operações.

        Os milisegundos : Tambem é outra constatação clara, pois a situação esta caminhando para ações tão robotizadas, que a locação de uma sala ( se vc. conseguir achar ), o mais próximo possivel dos servidores de uma bolsa de valores, tipo em Nova York é carissima e concorridissima, pois a proximidade dos servidores pode lhe ganhar milisegundos em uma operação financeira, e este “start ” não é comandado por uma pessoa, mas por uma maquina, que programada com variados cenários possiveis, simulados a exaustão, emitem ordens de venda/compra/recompra de papéis, de acordo com os parametros programados.

          O negócio pode ser tão automatizado, que na mesma noite/madrugada, uma posição é adquirida, vendida, recomprada e novamente vendida, no espaço de uma, duas horas.

  9. Adoro os posts metafisicos do Cinegnose! Outra viagem:

    Essa semana fiz uma viagem tb, mas primeiro fui parar “em algum lugar do passado”. Para depois estar “de volta para o futuro”:
     

    >>Homem: o “Chimpanzé do Futuro”? Ou o “Exterminador do Passado”?, por Romulus, André B & Antropólogo<<
     

     ROMULUS
     DOM, 09/10/2016 – 01:39
     ATUALIZADO EM 11/10/2016 – 06:57

    Homem: o “Chimpanzé do Futuro”? Ou o “Exterminador do Passado”?

    Por Romulus & André B, com crítica de Antropólogo

    Como já registrei em várias oportunidades, prezo M U I T O os comentários que recebo dos leitores aqui no GGN – sem paralelos na blogosfera ou em toda a internet brasileira. Como disse recentemente ao próprio Nassif:

    Esse público (…) deixa comentários no GGN ou nas redes sociais riquíssimos, que costumam originar novos posts meus – justamente a graça da web 2.0 (ou 3.0 já…).
    Como já tive a oportunidade de dizer e de registrar, inclusive em post, esse “ativo” do GGN não tem par na blogosfera: comentários do junior50, do Arkx (que convenci a se cadastrar no GGN lá atrás!), da misteriosa Hydra, do André Araújo, do André B, da Vânia e de tantos outros. Sem esquecer, é claro, do meu amigo Ciro, que eu “arrastei de volta” para o GGN neste ano.
    Gente, inclusive, com posicionamento ideológico e background totalmente diferentes do meu. As visões deles costumam ser diferentes das minhas. Isso me força a retrabalhar as teses. Ou para reafirmá-las, com maior convicção, ou para refutá-las, ou para ficar no meio do caminho, numa síntese (os 3 já aconteceram!).

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     (i) “Bonobo – nosso parente mais próximo” – e TARADO!! – Documentário da ‘Nature’; mais (ii) Trailer do filme “Elysium” (2013); e (iii) Chacrinha “vem para confundir”; porque afinal é tudo (iv) “Voyage Voyage!” (Desireless) e mais (v) “Voyage Voyage” (Kate Ryan) 

     

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