Ciclotron Irajá desvela a Afrociberdelia

 

Por Antonio Nelson* 

 

Estar desperto para a percepção afrodisíaca, cibernética e psicodélica da Natureza. Afrociberdelia! A sedução do perfume das flores, a exuberância da fauna e a flora… Arte e ciência comunicam-se no caos urbano. Com formação em psicologia, Ciclotron Irajá – o ciclope urbano -, a partir da filosofia e da esquizoanálise mostra como Chico Science enxergou os “caboclos de lança” como criaturas vindas das estrelas com seus aparatos tecnológicos e psicodélicos, fundindo ritmos da cultura popular com o rock elétrico e a música eletrônica numa verdadeira Afrociberdelia, com os “ritmos populares” a exalar afrodisia, o “rock elétrico” que produz cibernética e a “música eletrônica” na distribuição psicodélica, afirma Ciclotron.
 

Ciclotron já esposara seu trabalho fotográfico – Afrociberdelia Simétrica – na Galeria Tereza Costa Rêgo do Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Olinda, Pernambuco (PE). A duplicação de imagens simétricas no Corel Draw, com uma singela câmera Cyber-shot, ele convida para aguçarmos os sentidos. Veja a exposição abaixo. De Olinda para o cibermundo, confira a entrevista exclusiva para este veículo e o blog Textos ao Vento, do jornalista baiano, mestre em História Social, pesquisador de História da mídia Zeca Peixoto!

 

Antonio Nelson – Qual o conceito de Afrociberdelia e em que se fundamenta?

Ciclotron Irajá Afrociberdelia é a percepção afrodisíaca, cibernética e psicodélica da Natureza. Tal percepção aproxima Natureza de Cultura uma vez que ambas são máquinas a produzir desejo. O perfume das flores seduz os insetos que são como máquinas voadoras a produzirem a fauna e a flora mantendo a Natureza sempre exuberante. Os padrões geométricos das flores e sua comunicação com os insetos nos conduzem a uma percepção matemática e cibernética da Natureza enquanto máquinas que produzem um ecossistema. A psicodelia fica por conta das replicações infinitas de tais padrões geométricos em forma de flores num arbusto ou por todo o ecossistema.

Antonio Nelson – Há os que pensam que o Chico Science ficou restrito à África?

Ciclotron Irajá – Por conta dos batuques dos tambores africanos dos maracatus introduzidos numa banda de rock por Chico Science & Nação Zumbi, muitas pessoas confundiram o “afro” de “Afrociberdelia” com afro-descendência, limitando o conceito universal ao continente Africano. Quando na verdade “Afrociberdelia” significa a percepção eletrônica da Natureza. Daí a sacação de Chico ao enxergar os “caboclos de lança” como criaturas vindas das estrelas com seus aparatos tecnológicos e psicodélicos, fundindo ritmos da cultura popular com o rock elétrico e a música eletrônica numa verdadeira Afrociberdelia, com os “ritmos populares” a exalar afrodisia, o “rock elétrico” a produzir cibernética e a “música eletrônica” a distribuir psicodelia.

Antonio Nelson – Quais as contribuições que o Chico Science deixou para o mundo contemporâneo?

Ciclotron Irajá A percepção eletrônica da Natureza que rompe com a linha do tempo entre passado e futuro, conectando-nos em um presente que sempre foi tecnológico, como os “deuses astronautas” de Von Daniken, tendo na imagem dos “caboclos de lança”, dos maracatus rurais, sua melhor representação cujo símbolo máximo trás a primavera, a geometria das flores, nos dentes.

Antonio Nelson – A Filosofia é um dos caminhos para a compreensão da Afrociberdelia?

Ciclotron Irajá – A Afrociberdelia é um dos caminhos para a compreensão da filosofia. Quando se junta natureza, geometria e transcendência, você passa a entender a filosofia. Os maiores filósofos eram matemáticos.

Antonio Nelson – Mas a Filosofia precede a Afrociberdelia!

Ciclotron Irajá – A Filosofia precede o conceito “afrociberdelia”, mas não a percepção matemática e psicodélica da Natureza afrodisíaca. Esses elementos sempre estiveram aí muito antes de enxergarem e começarem a falar sobre eles.

Antonio Nelson – Você testemunhou o surgimento do Mangue Beat no Recife. Quais pontos fundamentais você destaca da época? A geração captou a Afrociberdelia? Qual tua análise contemporânea?

Ciclotron Irajá – Quem sacou na época a Afrociberdelia de Chico foi o tal do Gilberto Gil que logo o apadrinhou com sua varinha de condão. Maravilha, porque a partir daí todas as portas se abriram para a banda, mas sua morte prematura deixou um vazio tremendo no que diz respeito a originalidade musical. Toda criatividade tem uma filosofia como base. Onde está a filosofia na contemporaneidade recifense? No Candomblé? É. Viva Exu!

Não sou crítico de música, sou um filósofo que viu na Natureza sua afrodisia cibernética e psicodélica fazendo-me aproximar das ideias que Chico propagou. Filosofia essa que se encontra nas bases da religião Africana trazida pelos escravos.

 

 

 

 

 

*Antonio Nelson é jornalista, ciberativista, da liberdade na rede e do software livre.

 

Redação

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