Após protestos, polícia moral no Irã será extinta e obrigatoriedade do véu será reavaliado

Johnny Negreiros
Estudante de Jornalismo na ESPM. Estagiário desde abril de 2022.
[email protected]

Anúncio foi feito pelo procurador-geral persa e ocorre após protestos feitos inclusive na Copa do Mundo

Torcedora iraniana protesta contra repressão às mulheres no Irã, durante a Copa do Mundo 2022. Foto: Reprodução/Twitter

Após onda de manifestações no Irã pelos direitos das mulheres, o procurador-geral do paí, Jafar Montazari, anunciou o fim da polícia iraniana dos “bons costumes”. A decisão foi tomada após mais uma mobilização convocada para começar a partir desta segunda-feira (5).

As mesmas pessoas que criaram a polícia da moralidade a desmantelaram.

disse Hojatolislam Mohammad Jafar Montazari

A autoridade também revelou que em 15 dias as forças legislativas da nação vão reavaliar a obrigatoriedade do uso do véu islâmico pela população feminina. Contudo, Montazari não especificou o que seria modificado nas normas.

Entenda o caso

Desde a Revolução Iraniana de 1979, a nação vive sob um regime teocrático com base em interpretação radical do islamismo. Há aproximadamente três meses, a morte de uma jovem curda na região foi o estopim para revoltas contra o governo persa e que se espalharam pelo território do país persa.

Mahsa Amini apareceu sem vida após ser presa pela polícia da moralidade local, fundada em 2005. A moça foi detida por utilizar de forma inadequada o véu islâmico. O véu é obrigatório às mulheres no Irã. Assim, os protestantes pedem igualidade de direitos à população feminina.

Segundo a ONG Iran Human Rights Watch, 380 pessoas, sendo 47 crianças, já morreram na repressão aos protestos. O estopim para a revolta foi a morte de uma jovem de 22 anos. Porém, de acordo o Conselho de Segurança do Irã, esse número é menor: “mais de 200 mortes”, divulgou o órgão.

LEIA SOBRE O ASSUNTO: Em meio a crise diplomática, protestos e provocações, Estados Unidos e Irã decidem vaga

Por outro lado, segundo a imprensa internacional, desde a explosão das manifestações, cenas de mulheres andando pelas ruas sem utilizar o véu e não sendo abordadas pela polícia se tornaram comuns.

Copa também foi palco de protestos

A decisão do procurador-geral também ocorre após iranianos usarem a participação da seleção nacional na Copa do Mundo 2022, no Catar, para declararem apoio aos manifestantes.

Logo na estreia do Irã diante da Inglaterra, os jogadores e grande parte da comissão técnica persas não cantaram o hino nacional do país. Durante o ato, a TV estatal iraniana censurou a imagem dos atletas em silêncio.

Na véspera da partida, o capitão do time declarou apoio à revolta em seu país:

Estamos com eles. E os apoiamos. E nós simpatizamos com eles.

disse Ehsan Hajsafi, lateral esquerdo que joga no AEK Atenas, da Grécia

Segundo uma fonte que cuida da segurança das partidas, os atletas foram ameaçados pelas autoridades de Teerã. Após ficarem calados, eles foram convocados para reunião com Corpo da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) e foram informados que seus familiares sofreriam “violência e tortura” se continuassem com a postura. Nos dois jogos seguintes, antes da eliminação da fase de grupos, os futebolistas cantaram o hino.

João Castelo Branco é repórter brasileiro e correspondente internacional da ESPN
Foto: Reprodução/Twitter

Além disso, uma torcedora resolveu exibir camisa da seleção árabe com o nome Masha Amini. Em seguida, ela foi acuada por seguranças. Ela estava acompanhada de um rapaz que empunhava bandeira do país com a mensagem: “Liberdade para as vidas femininas”.

Durante a participação do Irã na Copa, repórteres presentes nos jogos relataram manifestações semelhantes nas arquibancadas.

Johnny Negreiros

Estudante de Jornalismo na ESPM. Estagiário desde abril de 2022.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Por que ninguém conta o que foi feito da moça? Como foi assassinada? Não há espetáculo maior nessa “copa” do que a morte de uma linda moça porque simplesmente não cobriu a cabeça em desobediência às “ordens da polícia de costumes”. Não há justificativa para uma brutalidade dessas.
    Num país em que uma mulher não pode exibir nem o rosto, é melhor não nascer. Leis dessa natureza tiram toda a nossa boa vontade e misericórdia pela população inteira.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador