Assassinatos de jovens equivalem a 3,5 chacinas da Candelária por dia

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Da Agência Brasil

Por Vladimir Platonow

O Brasil registrou 10.136 assassinatos de jovens entre 11 e 19 anos em 2013, em média 28 mortos por dia, o que equivale a 3,5 chacinas da Candelária perpetradas diariamente, de acordo com o sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo Mapa da Violência e coordenador da Área de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

A chacina da Candelária ocorreu na noite de 23 de julho de 1993, deixando mortos oito jovens de 11 a 19 anos, em frente à Igreja da Candelária, no centro do Rio. Os autores foram PMs e as vítimas eram moradores de rua que freqüentavam as imediações da igreja e dormiam no local.

Waiselfisz falou na abertura da audiência pública Jovens Vítimas da Violência e Justiça Reparadora para os Familiares, realizada na sede do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio. Segundo ele, o perfil das vítimas jovens que sofrem violência é de cor negra, pobre e pouco escolarizado e os índices vêm aumentando a cada ano.

“Os índices de violência nesta faixa etária [11 a 19 anos] foram crescendo drasticamente ao longo desses anos. Entre 1993 e 2013, praticamente quadruplicaram os níveis de violência. A chacina da Candelária foi a ponta de um iceberg que já existia no Brasil”, disse o sociólogo, durante a audiência pública, com a presença do ministro Pepe Vargas, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

De acordo com os dados nacionais apresentados por Waiselfisz, o índice de jovens negros, entre 16 e 17 anos, mortos no ano de 2013, é de 66,3 por 100 mil habitantes. O de jovens brancos, na mesma faixa etária, é de 24,2 por 100 mil.

Quanto à escolaridade, 82% das vítimas de assassinatos no país tinham até sete anos de estudo, o que equivale ao nível fundamental. Na faixa etária de 16 e 17 anos, 93% dos mortos são homens.

Pepe Vargas destacou que os números são um alerta de que as chacinas não cessaram:  “A violência sobre adolescentes e jovens aumentou no Brasil nesses últimos anos. Precisamos fazer um grande pacto nacional pela redução de homicídios. O governo está discutindo, sob a coordenação do Ministério da Justiça, uma proposta para a construção deste pacto”.

Pepe Vargas prometeu “ter um foco sobre adolescentes e jovens, que têm sido mais vítimas de violência do que causadores dela. Principalmente, temos que fazer um debate intenso, não apenas em âmbito federal, mas envolvendo os governos estaduais, municipais e a sociedade como um todo”.

Os dados completos do estudo Mapa da Violência 2015 podem ser acessados no endereço www.mapadaviolencia.org.br.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. A certeza mais ampla, geral e irrestrita…

    A certeza mais ampla, geral e irrestrita que o assassino tem, independente da sua idade e condição sócio-cultural, da impunidade é a grande responsável por esse país de homicidas em que o Brasil se tornou, mercê dos seus cientistas-analistas-críticos-legisladores-juizes-promotores-policias e demais da confraria pro criminalidade desse território do cão.

  2. E quem mata os jovens?

    Os jovens são mais vítimas da violência do que causadores dela? Mas o autor só apontou dados a respeito dos jovens mortos, e nada  disse sobre quem os matou. Eles foram mortos por adultos brancos da classe média?

    É evidente que muitos jovens são vítimas da violência, mas como diz o ditado, quem está na chuva tem que se molhar. Os jovens são geralmente assassinados por outros jovens em razão das guerras entre quadrilhas. A obsessão em dar uma leitura de luta de classes ao fenômeno da criminalidade dá origem a teorias conspiratórias de que os jovens estão sendo exterminados por malvados supremacistas. Mas geralmente tanto os jovens mortos quanto aqueles que os matam estão de algum modo envolvidos com quadrilhas em guerra. Esta foi a causa provável da Chacina da Candelária e de todas as outras chacinas.

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