Como os lucros das empresas afetaram inflação pós-pandemia

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
[email protected]

Enquanto famílias viram rendimentos caírem, grandes corporações chegaram a aumentar seus lucros em 30% entre 2019 e 2022

Corporações de petróleo foram algumas que impulsionaram seus lucros pós-pandemia. Foto de Krzysztof Hepner na Unsplash

A retomada da economia global após a pandemia de covid-19 foi marcada por picos recordes nas taxas de inflação, que chegaram a bater seus maiores patamares desde a década de 70 por conta de diversos fatores, inclusive um que normalmente não é levado em conta: a lucratividade das grandes corporações.

Tal afirmação consta de estudo elaborado pelo think tank britânico IPPR (Institute for Public Policy Research) em parceria com a consultoria Common Wealth, que deixa claro que os lucros não foram levados em conta ao se analisar a economia global pós-pandemia.

“Muitas grandes empresas internacionais conseguiram aumentar confortavelmente os preços durante o período de inflação global, protegendo ou mesmo aumentando as suas margens de lucro, enquanto as famílias comuns viram os seus rendimentos reais definhar”, aponta o levantamento.

A partir do trabalho de Isabella Weber, professora assistente na Universidade de Massachusetts, os investigadores do IPPR e do Common Wealth realizaram a primeira análise multinacional dos lucros empresariais, analisando demonstrações financeiras de 1.350 empresas cotadas nos mercados de ações do Reino Unido, EUA, Alemanha, Brasil e África do Sul.

Concentração de mercado

Os lucros apurados por um pequeno grupo de companhias com ações negociadas na Bolsa de Londres em outros locais aumentaram 30% no quarto trimestre de 2022 ante o quarto trimestre de 2019, ultrapassando e muito os aumentos de preços.

Entre as empresas que viram seus lucros dispararem após a invasão da Ucrânia pela Rússia, estão grandes corporações de energia (como a ExxonMobil e a Shell), mineração (Glencore e Rio Tinto) e gigantes do setor alimentício e de matérias-primas, como a Kraft Heinz, a Archer-Daniels-Midland e a Bunge.

“Um aumento nos lucros nominais não implica necessariamente que as empresas tenham aumentado as suas margens de lucro, diz o relatório; para muitos, é o resultado de transferirem os seus custos mais elevados para os consumidores, mantendo o mesmo grau de rentabilidade (como percentagem das vendas nominais) – enquanto os assalariados espremidos em toda a economia sofriam perdas”, diz o estudo.

E essa escalada se deu diante de uma combinação de fatores: fixando preços mais elevados do que o nível considerado social e economicamente benéfico, gerando assim “lucros excessivos” por meio da combinação de grande poder de mercado e dinâmica de mercado global.

“Dado que os preços da energia e dos alimentos afetaram de forma tão significativa os custos em todos os setores da economia, isto exacerbou o choque inicial de preços – contribuindo para que a inflação atingisse um pico mais elevado e durasse mais tempo do que se houvesse menor poder de mercado”, ressalta a pesquisa.

Como lidar com a questão

De acordo com os pesquisadores da Common Wealth e do IPPR, os decisores políticos precisam adotar uma gama de ferramentas políticas que sejam capazes de atenuar a inflação causada por choques externos.

Além das taxas de juros estabelecidas pelos bancos centrais, as recomendações englobam:

 – Uma nova abordagem internacional para tributar lucros excessivos, que poderia gerar US$ 100 bilhões/ano em receitas fiscais globais. “Isto poderia fazer parte de reformas fiscais pró-investimento, para reduzir o comportamento ineficiente das empresas dominantes e, em vez disso, encorajar o investimento produtivo”, diz a pesquisa.

 – Um novo direcionamento para a política de concorrência, para impedir que as grandes corporações tirem vantagem das emergências e para ajudar a estabilizar os mercados;

 – Intervenções, como limites de preços e impostos sobre lucros excessivos, para ajudar a estabilizar os mercados durante emergências econômicas.

Estes e outros pontos são abordados na íntegra da pesquisa, que pode ser acessada a seguir.

1701878131_inflation-profits-and-market-power-dec-23

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador