O fracasso da industrialização do Espírito Santo – 2, por Luis Nassif

Qualquer plano consistente de industrialização trataria de enfrentar os problemas e mudar o perfil industrial do estado

BuzzFeed

Santo Agostinho passeava pela praia quando viu um menino pegando água do mar com um balde e colocando em um buraco.

  • O que você quer fazer?, indagou o santo.
  • Colocar o mar aqui, respondeu o menino.
  • Nem se você levar a vida toda não vai conseguir.
  • E nem se o senhor levar a vida toda vai entender o mistério da Santíssima Trindade.

Tenho a impressão de que passo por um dilema semelhante para entender a industrialização do Espírito Santo.

No segundo artigo tentando explicar o fracasso da industrialização do estado, Pablo Lira relaciona três fatores, todos externos ao Estado – e como fosse papel dos governantes aceitar passivamente a mudança de conjuntura:

  1. Redução da capacidade produtiva de petróleo e gás, culpa da nova lei do petróleo.
  2. Rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, afetando o setor siderúrgico.
  3. Impactos da economia global, pela maior exposição do estado aos humores externos.

Qualquer plano consistente de industrialização trataria de enfrentar tais problemas e mudar o perfil industrial do estado, visando torná-lo mais resistente aos fatores externos.

Depois dessas explicações, conclui ele que “mesmo com gigantescas tragédias que desafiam o setor secundário da economia na última década, o ES observou uma maior sofisticação e resiliência em sua indústria (…) com atração de empreendimentos que contribuem para aumentar a diversificação da base produtiva”.

O estado criou uma fábrica de distribuição de subsídios fiscais e chegou ao requinte da criação de um Fundo Soberano, destinado a alavancar investimentos produtivos.

Seria interessante que Vellozo Lucas e Lira explicassem os resultado da política de subsídios e do fundo soberano.

Pelo material que me enviam, fico sabendo que o tal Fundo Soberano aplicou R$ 11 milhões em uma startup de um filho do ex-senador Ricardo Ferraço, vice-governador do estado.

Luis Nassif

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Nassif, vamos comparar ES com SC. E vou falar um pouco da indústria têxtil, onde trabalho há 42 anos, 27 dos quais aqui pelo Vale do Rio Itajaí. Temos um estado com economia bem diversificada: serviços e turismo na Capital, agro no meio oeste e oeste com criação consorciada de frangos e porcos, metalmecânica no norte (Weg em Jaraguá, Tigre em Joinville), têxtil aqui no Vale (fortíssima em Brusque, terra do Hang) e também empresas grandes de T.I. em Blumenau (Sênior, por exemplo). Em Porto Belo, litoral, cerâmica. Pescados em Itajaí, com um porto respeitável, cristais e madeira na região da serra, São Bento do Sul. Turismo forte no litoral, notadamente em Balneário Camboriú (verão BR 101 vira um freje por lá), Pomerode, aqui vizinho, e mais Treze Tílias, e nas aguas termais de Piratuba, somente para citar alguns. Enfim, um estado diversificado de ponta a ponta. Pois bem, voltando à nossa “vaca fria” (têxtil)…nos anos 80 os asiáticos entraram com tudo, notadamente em SP, que produzia bastante tecido sintético (aqui éramos os patinhos feios, só trabalhando com algodão). Resultado foi a derrocada desse segmento poraí… Campinas e arredores (Nova Odessa, Americana, etc). Poracá passamos a produzir também sintéticos e a coisa só cresceu, a China N nos engoliu. Obviamente o estado precisou importar muita mão de obra, primeiro os paranaenses (excedente da mecanização do agro, lá) e depois baianos, pernambucanos, sergipanos, haitianos e mais recentemente paraenses e venezuelanos. (Aqui falamos q se os marajoaras voltarem os supermercados fecharão por falta de caixas e repositores.) O ponto: quantos crises tivemos, tal qual o Espírito Santo, e a Bela e nada Santa Catarina continua pujante e empregando? O modelo dos donos parece ser, primeiro ter o parque fabril com equipamentos de ponta, olho firme na produtividade, foco no processo hora/máquina. Depois a compra do helicóptero e do jatinho. Ufa … Abraços

  2. Em 1863 o Imperador D. Pedro II viu na escassez de algodão confederado e o corte ianque de fornecimento aos cotonifícios europeus, particularmente aos ingleses uma chance de ouro de tonificar a agricultura nordestina, com a vantagem de uso dos terras no semiárido, sem interferir nos velhos canaviais.
    A total não intervenção da banca inglesa levou os arrogantes escravistas confederados depois que perderam Saint Louis a quebradeira, e perda da guerra; mas a festa no Nordeste do Brasil logo se revelaria um balão estourado. Pior: a superpopulação migrante em prol da cultura, sem a devida estrutura para enfrentar as secas, em dez anos estariam morrendo às centenas de milhares, de fome e sede, especialmente no Ceará; mas também até em meu Sergipe, um estado pequeno e por isso quase marítimo.
    AÍ VEIO A INDÚSTRIA DE TECIDOS. Mais uma tentativa.
    Fase dois da pós-industrialização, a Inglaterra saiu desovando sua tralha antiga de máquinas, de baixa produtividade, terceirizando o trabalho duro. Entrando em campo com menor intensidade, também os alemães. A maior vítima seria Propriá. Que logo estagnou e fechou sua última unidade na década de 1960. E, a ajuda negativa dos demais cidades levou Sergipe a uma das piores colocações, mesmo entre o empobrecido Nordeste. Toda industrialização bem sucedida está de fato ligada à velha boa gestão; e principalmente a presença de mercado consumidor… que, na minha opinião, não pode prescindir de vigoroso mercado consumidor doméstico.
    Só a política consegue ser mais imprevisível que a economia.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador