O preço dos importados

Do Valor

Preço baixo estimula importação

Sergio Lamucci | De São Paulo
13/09/2010 

Os preços de importação em queda têm ajudado a estimular as compras externas em alguns setores da economia, num cenário em que elas já são fortemente impulsionadas pela demanda doméstica robusta e pelo dólar barato. De janeiro a julho, as cotações de importação de bens de capital caíram 4,5% em relação ao mesmo período de 2009, enquanto as de bens intermediários (insumos e matérias-primas para a indústria) recuaram 2,8% e as de bens duráveis, como automóveis e eletroeletrônicos, 1,8%. Os números são da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).Os preços em dólar do total importado subiram 2,1% nos primeiros sete meses de 2010, mas essa alta está muito influenciada pelo aumento de 39,5% de combustíveis. O volume total de importações cresceu 42,1% nos primeiros sete meses do ano, alcançando o nível mais elevado da história. 

O caso mais exemplar é o de bens de capital, cujas importações aumentam com força, dada a forte recuperação do investimento no Brasil. O economista-chefe da Funcex, Fernando Ribeiro, observa que os fabricantes estrangeiros desses produtos têm elevada ociosidade, o que tende a levá-los a conceder descontos. Nos sete primeiros meses do ano, o volume importado de bens de capital cresceu 31,3%, também alcançando o patamar mais alto da história.

OassO assessor da presidência da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mario Bernardini, diz que o aumento da participação das máquinas chinesas no mercado brasileiro também tende a jogar para baixo o preço médio de importação de bens de capital, por serem muito baratas. Segundo ele, os chineses caminham para se tornar neste ano o segundo maior exportador de máquinas para o país, atrás apenas dos EUA. “Há cinco anos, eles nem apareciam na lista dos principais fornecedores.” 

Bernardini afirma que é difícil comparar preços de máquinas “em função de diferentes especificações e periféricos que podem ser ou não incluídos”, mas estima que, “em máquinas seriadas e de baixa tecnologia, o preço chinês pode representar um terço do nacional e chegar à metade do preço brasileiro para máquinas um pouco mais sofisticadas”.

Os preços de importação de bens intermediários também seguem bastante atraentes, acumulando baixa de 2,8% de janeiro a julho deste ano. As cotações dos produtos químicos recuam 7,5% no ano, enquanto as de metalurgia básica sobem apenas 0,8%. Ribeiro nota, ainda, que o Brasil importa muitos intermediários que são insumos industriais, como partes, peças e componentes para a indústria automobilística, elétrica e eletrônica, produtos não ligados a commodities, cujas cotações estão mais pressionadas. São itens que aparecem em setores como os de outros equipamentos de transporte, cujos preços de importação caíram 1,8% nos sete primeiros meses do ano, ou de máquinas e materiais elétricos, que subiram 0,4%.

Os preços de importação de bens duráveis, por sua vez, acumularam de janeiro a julho baixa de 1,8% em relação ao mesmo período do ano passado, mas têm subido um pouco nos últimos meses. A média de três meses até julho (que inclui maio e junho) ficou 6,4% acima da de dezembro de 2009. Ribeiro não acha, porém, que essa alta vai desestimular importações de duráveis, até porque os preços subiram em relação à segunda metade do ano passado, mas voltaram para patamares do fim de 2008 e no começo de 2009, que não eram exagerados. Além disso, a pauta de importação de bens duráveis é muito concentrada num número relativamente pequeno de itens, como automóveis e eletroeletrônicos de consumo, diz ele. Com isso, a alta do conjunto de preços de duráveis pode ser influenciada pela oscilação de poucos produtos.

O economista André Sacconato, da Tendências Consultoria, também acha que a alta dos preços de importação de duráveis não inibirá as compras. “O aumento se deu a partir de um nível baixo de preços”, diz ele, acrescentando que o câmbio têm se valorizado ultimamente, o que ameniza eventuais elevações dos preços em dólar – que não foram das mais fortes. 

Luis Nassif

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