Os erros dos economistas com a curva do Covid-19, por Luis Nassif

Abriram-se os shoppings e o público não compareceu. Reforça a tese de que a recuperação da economia só terá início depois da vitória final contra o Covid-19.

A explosão da Covid-19 veio acompanhada, pela primeira vez, de abundância de dados estatísticos globais. Estatísticas mundiais, nacionais, regionais espocaram por todas as partes dentro do modelo de dados abertos, permitindo seu uso de maneira disseminada.

Esse quadro estimulou economistas a tratar os dados. Montaram planilhas, desenvolveram gráficos, fizeram combinações – como, aliás, o GGN tem feito diariamente. Mas não basta conhecer planilhas e cruzar números. Há um conhecimento especializado que tem que ser assimilado, através das análises de infectologistas.

Esse foi o erro central de muitas consultorias. Como se trata de um fenômeno novo, pela abrangência, ponto relevante seria a capacidade de analisar a realidade, o comportamento social frente à pandemia, e não apenas se prender à análise das estatísticas sem maior conhecimento de causa. Muitos deles ignoraram as análises dos verdadeiros especialistas, os infectologistas.

No início da pandemia, o Ministro da Economia Paulo Guedes invocou os altos trabalhos estatísticos do Banco Central, com conclusões temerárias. Segundo os estudos, o rebaixamento da curva do Covid, para dar tempo para estados e cidades se prepararem, estenderia o prazo de recuperação da economia. Ou seja, quanto mais rápido se atingisse o pico do Covid, mais rápida seria a recuperação.

Na época, epidemiologistas, com base na análise do que havia ocorrido com os primeiros países afetados, especialmente França e Itália, advertiram: a flexibilização apressada do isolamento produziria uma explosão de casos e óbitos, levando a própria população a exigir um tratamento ainda mais rígido para o enfrentamento da doença.

Dias desses, o economista Affonso Celso Pastore foi conferir, na prática, esses princípios. E constatou que, em áreas mais afetadas, a abertura da economia resultou em menos público no comércio e nos shoppings.

Os resultados do comércio na cidade de São Paulo atestam o acerto dessa conclusão. Abriram-se os shoppings e o público não compareceu. Reforça a tese de que a recuperação da economia só terá início depois da vitória final contra o Covid-19.

 

Luis Nassif

8 Comentários

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  1. Depois, esses facínoras ficam berrando o besteirol ideológico deles dizendo que o “comunismo” “anula” o individuo, a liberdade (e sua dimensão “espiritual”) sob a sociedade, o coletivo, etc, etc.

    Mais uma da série acusar nos outros o que fazem, pois ELES é que so pensam nas finanças e no “mercado”, não dao bola nem pra VIDA, tampouco para a PAZ, e vêm projetar isso nos outros…

    Perversos.

      1. O mercado sempre usou de esperteza quando faz suas estatísticas da economia. Quando os governantes eram da ala progressista, sempre que a economia dava passos à frente, eles colocavam um “MAS”, principalmente a URUBÓLOGA. Hoje a economia está de cabeça pra baixo e eles sustentam que a economia está bombando. Me engana que eu “não” gosto.

  2. Enquanto o Covid-19 for considerado apenas como um inimigo do comércio, da indústria, do lazer, da economia e das finanças, e não como um perigosíssimo e letal inimigo da saúde pública, no Brasil, as estatísticas fúnebres se manterão altamente ativas em função do grande erro em se desviarem de foco de combate principal, imediato e que exige, com urgência, o uso de toda a intensidade de combate possível, seja a que custo for; que exige uma veemente sacudida na lerdeza e na pasmaceira em que se encontra o executivo e o ministério da saúde, enquanto o vírus avança em busca de novas vitimas; que exige menas ganância e mesquinharia na liberação de recursos para assistências emergenciais e um investimento muito maior em material humano, em pesquisas científicas e também em uma logística eficiente, rápida e que ofereça bastante disponibilidade de vagas. Parece que somos hoje o país mais perdido, mais desinformado e mais a deriva no conhecimento sobre o quanto é o nível real de gravidade, que o Covid-19 ainda poderá nos surpreender? Quanto tempo estamos perdendo e quanto covardes ainda continuaremos sendo, se continuarmos permitindo essa briga política insana, em que foi transformada a pandemia? A guerra de opiniões e de querer ser o dono da verdade, só desinformou, só desorientou e só fez confundir mais ainda as ações e soluções que já poderiam ter controlado a evolução da pandemia e salvo milhares de vidas, que foram perdidas de forma estúpida, vulgar e incompreensivel.

  3. Nassif, seja tolerante com os economistas. Se há médicos (e também não médicos que se julgam ser) receitando cloroquina “a granel” e ninguém nem instituições se incomodam, o que é perto disso economistas fazerem uma interpretação “plana” de estatística ? O economista é uma coisa tal, que a estatística sem o qual, é tal qual.

  4. Quem tem dificuldade em interpretar o passado, em entender o presente, irá desembocar em narrativas errôneas sobre o futuro. Geralmente estes enganos são alimentados pela falta de entendimento de que dados e informações podem levar ao conhecimento, mas conhecimento não é sinônimo direto de dados e/ou informação. Isto é facilmente explicado pela percepção de que inteligentes, são muitos. Sábios, muitos poucos.

  5. Com a peste ou sem a peste do século 21, se o povo não tiver poder aquisitivo, não vai consumir. Estão detonando salários e benefícios trabalhistas para que tudo volte a ser como era antes da revolução de 1930. O que usarão como desculpa para o desastre da economia quando a peste do século 21 estiver sob contrôle?

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