Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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קול הרחובות. (O som das ruas), por Felipe Bueno

O que acontece quando o direito positivo, que ao mesmo tempo se apoia mas aperfeiçoa o direito natural, acaba sendo doutrinado e limitado por ele?

do Observatório de Geopolítica

קול הרחובות. (O som das ruas)

por Felipe Bueno

Se a criação do Estado de Israel teve entre seus fundamentos causas humanitárias – e não há razão para duvidar – é urgente investigar em que gaveta essa motivação foi arquivada.

Porque desde o primeiro minuto de sua fundação, em 1948, dado seu conceito, dados seus antecedentes, Israel convive obrigatoriamente com um problema auto-imposto e talvez insolúvel: é o Estado de um povo escolhido.

Ainda que haja variadas interpretações sobre o que signifique ser judeu, temos que admitir que nenhuma se define pela negociação política cotidiana ou pela administração pública.

Obviamente, quer dizer muito mais que ser um cidadão ou cidadã, ter um simples documento de identidade; transcende uma questão prática, pois trata-se de um entendimento espiritual de cada qual com sua fé.

Mas e quanto aos não escolhidos? O que fazem caso não se identifiquem misticamente num país planejado, desenhado e erguido sem levar em conta a sua opinião e os desígnios de sua alma?

Não escolhidos seriam então, obrigatoriamente excluídos?

Seriam, portanto, violentamente convidados a se retirar?

O Estado de Direito resolveria o problema; trata-se de uma convenção conceitual que pressupõe a harmonia entre os cidadãos.

Mas o que acontece quando o direito positivo, que ao mesmo tempo se apoia mas aperfeiçoa o direito natural, acaba sendo doutrinado e limitado por ele?

Faço essas perguntas no momento em que aumentam o número e a intensidade de protestos de indivíduos e grupos israelenses contra as reformas judiciais em discussão.

Manifestações progressistas, com propósitos específicos ou mais amplos, sempre houve em Israel; mas a palavra milhares chama a atenção quando falamos de um país com dez milhões de pessoas.

O que significa, para efeitos de comparação, menos da metade da população de São Paulo.

Ou, para um efeito visual mais funcional, é como se metade da população israelense tivesse ido ao centro de Buenos Aires no dia 18 de dezembro passado festejar a conquista da Copa do Mundo pela Argentina.

Estariam os questionamentos ao governo israelense ultrapassando o cômodo limiar que configura os pequenos grupos politizados e/ou identitários – duas palavras usadas pejorativamente sempre que incomodam o poder?

Se sim, por quê?

Certamente não vai trazer grandes contribuições práticas exumar o movimento sionista, ainda que estudar suas origens e compreender sua evolução sejam atitudes relevantes para entender o que se passa em Israel.

Um país novo com perguntas antigas sem respostas, que corre o risco de silenciar novas questões que começam a ganhar voz.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. A publicação do artigo dependerá de aprovação da redação GGN.

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