Vlado

Vladimir Herzog

Poderosos e dominados estão perplexos e hesitantes, impotentes e angustiados. Contendo justos gestos de ódio e revolta, taticamente recuando diante de forças transitoriamente invencíveis. Um dia os tempos serão outros. Diante de um homem morto, todos precisam se definir. Ninguém pode permanecer indiferente. A morte de um amigo é a de todos nós. Sobre tudo quando é o Velho que assassina o Novo.” Gianfrancesco Guarnieri, sobre o assassinato de Vladimir Herzog.

35 anos depois de sua morte pelos organismos de repressão da ditadura e a uma semana das eleições que decidirão entre um avanço ou um retrocesso de nossa jovem e frágil democracia, gostaria de fazer um relato histórico pessoal.

Nessa época eu recém começava meu curso de química na Universidade Federal de São Carlos.

Até então nunca tinha me interessado por política, mal sabia o que se passava nos porões do regime, mas a efervescência do movimento estudantil na universidade me fez “cair a ficha” e entrar de cabeça na luta.

Lembro-me bem do ato ecumênico realizado na Catedral da Sé, justo no dia 31 de outubro.

Eu e meu companheiro de república, Luis Carlos Prates (o Mancha, que foi candidato a Governador de São Paulo pelo PSTU nestas eleições), estávamos lá.

Chegamos tarde e tivemos que ficar na praça, que estava tomada por manifestantes. Um clima tenso, de medo, de olhar para o lado e reconhecer, pelo indefectível traje tipo “safari” os agentes infiltrados, alguns com câmeras fotográficas e com as também manjadíssimas “pochetes”.

Saímos de lá e fomos até a sede do Teatro União e Olho Vivo, que nessa época ficava numa travessa da Teodoro Sampaio. Nossa missão era retornar a São Carlos levando os jornais (não me lembro se era o Opinião ou Movimento) que nos entregariam lá no galpão do teatro. Quem nos passou a pacoteira foi o sorridente Laerte Morrone. O medo era tanto que nem eu nem o Mancha ensaiamos nenhuma palavra além do necessário para receber a encomenda. Saímos de lá e fomos à casa de meus pais. Dona Nely, assustadíssima com a situação e com aquele pacote comprometedor, nos recomendou o máximo cuidado. Era só o que ela podia fazer, coitada.

O ato ecumênico em protesto pelo assassinato de Herzog foi um marco na luta contra a ditadura.

No meu caso, uma espécie de “batismo” no ativismo político-estudantil.

Depois disso muita coisa aconteceu. Mas aí já é assunto pra outros posts, que pretendo escrever com a ajuda da Dona Nely e sua boa memória.

Fica então este pequeno relato.

Seria interessante que outros comentaristas deste blog fizessem o mesmo, contar como a morte de Herzog os tocaram.

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