Horror do Hamas foi preço pago pelo populismo israelense, diz escritor

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Em artigo, Yuval Noah Harari recrimina ataques extremistas, mas lembra da postura israelense em relação à Palestina

Yuval Noah Harari, historiador, filósofo e professor universitário. Foto: Reprodução – ynharari.com

O povo de Israel está tentando entender o que lhes atingiu e, após as comparações iniciais do ataque realizado pelo Hamas com a Guerra do Yom Kippur (1973), o cenário traçado pelos judeus se mostra muito mais sombrio.

“Crescemos com histórias sobre judeus indefesos que se escondiam dos nazistas em armários e porões, sem que ninguém viesse ajudá-los. O estado de Israel foi fundado para garantir que isto nunca mais aconteceria”, disse Yuval Noah Harari, escritor, historiador e professor universitário, em artigo publicado no jornal The Washington Post.

Segundo o articulista, as redes sociais, os jornais e familiares chegam a comparar o ataque cometido pelos extremistas com alguns dos momentos mais sombrios vividos pelo povo judeu no Holocausto e durante a existência do Império Russo.

Para o articulista, o ataque do Hamas foi uma combinação de fatores – a começar pelos “anos de arrogância” em que governos e cidadãos comuns sentiam que eram mais fortes que os palestinos a ponto de ignorá-los.

“Há muito que se criticar sobre a forma como Israel abandonou as tentativas de fazer a paz com os palestinos, e manteve milhões de palestinos sob ocupação durante décadas”, lembra o escritor, ressaltando que “isso não justifica as atrocidades cometidas pelo Hamas” e que o mais sensato seria impor sanções e exigir a libertação de reféns e o desarmamento desse braço armado.

Harari lembra ainda que “a história não é um conto de moralidade”, e que a verdadeira explicação para a disfunção israelense é o populismo “e não qualquer moralidade”.

Segundo o autor, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu “é um gênio das relações públicas, mas um primeiro-ministro incompetente”, que preferiu priorizar seus interesses pessoais ao interesse nacional “e construiu sua carreira dividindo a nação contra si mesma”.

O pior momento foi justamente a coligação para as eleições de 2022 – na visão de Harari, a aliança que levou Netanyahu ao poder “é uma aliança de fanáticos messiânicos e oportunistas desavergonhados, que ignoraram os muitos problemas de Israel – incluindo a deterioração da situação de segurança – e concentraram-se, em vez disso, em apoderar-se de poder ilimitado”.

As próprias forças de segurança israelenses alertaram o governo sobre o perigo em meio ao avanço das ameaças externas, mas Netanyahu se recusou a ouvir – tanto que chegou a demitir o ministro da Defesa, Yoav Gallant, após novos alertas, e reconduziu Gallant ao cargo após pressão popular.

“Não importa o que se pense de Israel e do conflito Israel-Palestina, a forma como o populismo corroeu o Estado israelita deveria servir de aviso a outras democracias em todo o mundo”, pontua Yuval Noah Harari.

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Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

1 Comentário

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  1. Há muito tempo as relações Israelx Palestina fugiram totalmente à um mínimo de racionalidade,e este ataque não deveria surpreende-los.plFoi “a morte anunciada”.

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