‘Sin City 2: A Dama Fatal‘ e a política externa dos EUA

 

A notícia do fracasso de  ‘Sin City 2: A Dama Fatal‘ nos cinemas, que foi amplamente divulgado pela imprensa brasileira, despertou minha curiosidade. Afinal, já vi vários filmes ruins e muito ruins que foram retratados na imprensa como inesquecíveis clássicos bem sucedidos e lucrativos. O que os jornalistas dizem sobre os filmes em cartaz geralmente não me influencia. O que eles chamam de “crítica de cinema”, sei que é apenas propaganda. No Brasil atual quase todos os especialistas em cinema são pouco mais que arautos do mercado. E o próprio mercado nunca foi capaz de julgar o que é ou não arte.

Um dos anti-heróis de ‘Sin City 2: A Dama Fatal‘ tem o mérito de simbolizar bem a política externa dos EUA nas últimas décadas. Estou a falar de Marv, personagem interpretado com bastante competência cênica por Mickey Rourke. Marv é um psicopata que está sempre no lugar errado, na hora errada fazendo a coisa errada não porque acredita estar agindo certo, mas porque não fazer nada lhe causa tédio. Ele não precisa de motivos bons para entrar numa briga, nem é capaz de sair de um conflito porque encontrou péssimos motivos para seguir brigando. Marv é exatamente como a política externa dos EUA: incoerente, brutal, impossível de ser julgado por qualquer padrão racional.

Quando age, Marv é uma força da natureza incapaz de avaliar o resultado de sua ação. Em razão de sua doença mental, agravada pelo uso irregular de medicamentos e do abuso de bebidas alcoólicas, o personagem vivido por Mickey Rourke é incapaz de ligar o passado ao futuro. Ele vive num presente continuo de violência sem se importar com as consequancias de suas ações. Como os EUA, Marv parece não ter capacidade de refletir ou poder e autocontrole para interromper sua ação. Agir e sofrer, os dois únicos fundamentos da política externa dos EUA, são as virtudes incorporadas por Marv em Sin City 2: A Dama Fatal. O personagem acaba ferido e segurando uma metralhadora Uzi que travou. Somente algo “made in Israel” será capaz de parar os EUA?

Os três outros personagens masculinos importantes no filme também representam aspectos importantes da política externa dos EUA. Um é viciado em jogo e capaz de arriscar a vida das outras pessoas para poder ganhar e perder. Outro é viciado em poder e joga apenas para ganhar sempre sem se importar com moralidade. O terceiro gostaria de ser livre, mas é apenas o escravo de seu desejo por uma mulher.

A política externa dos EUA é um jogo, o objeto de disputa é sempre o mesmo: o controle de áreas petrolíferas. Algumas vezes a Casa Branca joga conforme as regras para manter alianças com países que exportam petróleo para os EUA (caso da Arabia Saudita). Outras vezes, a Casa Branca recorre ao Pentágono para violar as regras do convívio civilizado a fim de controlar diretamente áreas petrolíferas (caso do Iraque, invadido em 2003 com base em mentiras repetidas à exaustão pela mídia norte-americana). O vício em petróleo dos EUA levou aquele país a ficar viciado em violência militar. Os três personagens ‘Sin City 2: A Dama Fatal‘ citados fazem qualquer coisa por dinheiro, poder e desejo.

A neurótica necessidade dos norte-americanos de controlarem o fluxo da matéria prima muito desejada, o poder e a riqueza que advém do seu controle e a vontade dos EUA de se impor à qualquer custo apenas para poder ter gasolina e óleo diesel baratos no país impedem a Casa Branca de refrear sua conduta por escrúpulos legais ou morais. Legalidade e moralidade também não são capazes de impedir os personagens masculinos de ‘Sin City 2: A Dama Fatal‘ de agir e sofrer.

Os jornalistas estão dizendo que a obra que comento é um fracasso.  Para mim, Sin City 2: A Dama Fatal‘ é melhor do que muitos dos filmes que foram incensados pela imprensa em 2014. Apesar de irrelevante do ponto de vista estético, Sin City 2: A Dama Fatal‘ tem uma virtude pedagógica: pode nos ensinar muito sobre a política externa dos EUA. Os personagens do filme que não morrem, acabam sendo seriamente feridos. Isto é o que ocorrerá à maioria dos norte-americanos num futuro previsível se os EUA continuar a fazer uma política externa irracional, violenta e tolamente desprovida de qualquer moralidade.

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

9 Comentários

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  1.  
    Que texto maluco!
    Sin City

     

    Que texto maluco!

    Sin City 2 foi até que bem elogiado pela  crítica. Nada de “fracasso”. Ficou na faixa das 3 estrelas. Todo o clima dos quadrinhos está perfeitamente representado no filme. Aliás, a  relevãncia toda do filme está exatamente em seu ponto de vista estético, que o autor deste post, acreditem,  achou “irrelevante”  A meu ver este aspecto foi bem melhorado em relação ao primeiro Sin City e foi a razão da maior parte dos elogios que o filme recebeu .

    A comparação do roteiro, bem parecido com o primeiro,  com a “politica externa americana”  provém unica e exclusivamente da cabeça do autor do texto.

    Curiosamente não houve nenhuma menção ao criador de Sin City, Frank Miller, que de vez em quando solta umas pérolas reaças em entrevistas. Talvez aí pudesse haver uma base melhor para se falar na politica americana, inclusive a externa….

    Falar de Sin City sem mencionar Miller é como falar da história do Santos e não lembrar do Pelé.

    1. Adoro ver a reação de
      Adoro ver a reação de brasileiros que exigem uma interpretação benéfica e unívoca dos EUA, da cultura e da politica externa daquele pais. Sem querer eles sempre se mostram mais gringos que os próprios gringos. Coisa de vira-latas do império, entendem?

  2. Frank Miller

    Frank Miller veio cultuado dos anos 80 após  seus roteiros humanizados para super heróis (Batman ,Electra ,Demolidor ,etc ), ultimamente  vem se especializando em roteiros que abordam a  “ultra violência ” (   como exemplo ,300  )alem disso tem dado declarações comparaveis ao Lobão e Roger sobre o momento politico norte americano,  talvez seja por essas coisas, que vem colecionando criticas desfavoraveis .

  3. mundo inteiro num puteiro = mais dinheiro
    Marv = política externa (diga-se imperialista) dos EEUU  = … “….  é exatamente como a política externa dos EUA: incoerente, brutal, impossível de ser julgado por qualquer padrão racional” =  “… é uma força da natureza incapaz de avaliar o resultado de sua ação” Nunca gostei de oxímoros. Eles agridem minha limitada inteligência. Querer subtrair do “homem” o que a ele lhe cabe e tentar imputar a uma “força da natureza”, incontrolável e inexorável, é forçar demais a barra para meus pobres neurônios – que, estando assim sobrecarregados, me impediram de aguentar o resto do texto.  Digo: os reduntantes EEUU são completamente cientes do estrago que causam e o fazem planejadamente há séculos. Parafraseando Cazuza em escala global: “transformam o mundo inteiro num puteiro, pois assim se ganha mais dinheiro” Por favor: poupe-nos dessas viagens cinematográficas-filosóficas de botequin.

  4. lembrei do sidney sheldon.
    o

    lembrei do sidney sheldon.

    o cara lutou na guerra e virou autor

    de grandes best-sellers.

    no enredo, sempre dinheiro,

    poder, sexo e violencia.

    seria este o espírito americano

    baseado no tal do destino manifesto?

    podem criticar o texto, mas criticá-lo por

    aderir à cultura eestadunidense é de uma

    obviedadee sacana.

    já que somos historicamente

    ligados aos eua e disso não

    poderíamos fugir mesmo que quiséssemos.

    por exemplo:

    mesmo que eu quisesse não

    poderia esquecer jamais

    quando eu era adolescente.

    na minha pequena cidade tinha um tal de cine ópera.

    cinco minutos antes de começar a sessão,

    toca a  música stars and atripes forever,

    de john philppe souza.,marcha marcial. .

    era o sinal para a correria para chegar ao cinema a tempo.

    quando ouço ainda hoje me emociono.

    como o garoto vai fugir disso?

     

     

     

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