Em meio ao debate sobre a divulgação das gravações que confirmam a existência de tortura na ditadura militar por parte dos militares, revelado pela jornalista Miriam Leitão no último final de semana, o Coordenador do Setorial Nacional de Direitos Humanos do PT, Adriano Diogo, relembra o caso de Alexandre Vannucchi Leme.
“Eu fui preso no dia 23 de março de 1973 ao meio dia. Eu cheguei na operação Bandeirante com a minha companheira, Arlete”, lembra Adriano Diogo, em entrevista à TV GGN 20 horas desta quarta-feira (20/04). “Era uma prisão em massa dos estudantes da USP, antes de haver a recepção aos calouros”.
Ao chegar à operação Bandeirante, o chefe do DOI-CODI, o major Carlos Alberto Brilhante Ustra – que utilizava o codinome ‘major Tibiriçá – tinha acabado de matar Alexandre Vannucchi Leme, que era colega de classe de Adriano Diogo.
“Ele (Ustra) estava muito nervoso, muito nervoso, estava com um revólver na mão, Magnum 45 – e ele, com aquele enorme revolver, pôs o revolver na minha cabeça e disse que ia me matar”, disse Diogo.
“E muito nervoso porque o Alexandre Vannucchi, meu colega de Sorocaba, primo do Paulinho Vannucchi, tinha acabado de ser assassinado”, diz Diogo. Vannucchi era um líder estudantil, integrava o grupo Ação Libertadora Nacional (ALN) e tinha 22 anos quando foi morto.
Diogo relata que Alexandre Vannucchi teve hemorragia interna e “vertia sangue por todos os lugares”. “O menino tinha feito uma cirurgia de apendicite e eles estouraram ele (Alexandre) na tortura durante dois dias consecutivos de tortura”.
O coordenador petista lembra ainda que Ustra “mandou enrolar o corpo do Alexandre Vannucchi em um tapete, mandou colocar em um Opala verde escuro e jogou o corpo na rua João Boemer, no Brás, e pediu para um caminhão passar em cima para caracterizar um suicídio, um atropelamento”.
Depois disso, o corpo do estudante foi enviado pelos militares para Perus, onde foi enterrado como indigente. “A família teve um trabalho enorme. Doutor Mario Simas que conseguiu liberar o cadáver de Alexandre Vannucchi”, diz Adriano Diogo.
Diogo ressalta que histórias como a de Alexandre chegavam no Superior Tribunal Militar, e que os advogados iam reconstituí-las. “E esse era o Ustra, esses eram os caras que estavam… e o doutor (Aparecido) Calandra, doutor Calandra e o (Lourival) Gaeta, também conhecido como Mangabeira, que matou o pai do Ivan Seixas e torturou a mãe e as irmãs do Ivan Seixas, nuas, no pátio da Operação Bandeirantes”.
Páscoa de muitas famílias já foi arruinada antes
Na visão do jornalista Marcelo Auler, a sucessiva defesa da tortura realizada durante a ditadura pelo presidente Jair Bolsonaro não chega a ser de tudo surpreendente ou mesmo grave.
“Lembre-se que o Bolsonaro foi um péssimo militar, foi expulso do Exército, teve que sair. Não passou de capitão”, diz o jornalista. “Grave é um general de quatro estrelas dizer que a Páscoa dele não foi atormentada por conta da reportagem da Miriam Leitão, com os áudios”.
Auler também cita o jornalista Octavio Costa, que publicou um artigo recentemente no site Ultrajano falando a respeito da Páscoa de diversas famílias, que foi manchada por não saberem até hoje onde estão os corpos de seus familiares.
“O Octavio conta a história de um primo dele, que tinha outro primo com o mesmo nome. E esse outro primo, de uma família nada envolvida na política, sumiu. Desapareceu. E depois foi-se saber que, na verdade, prenderam o primo errado. E mataram a pessoa que não tinha nem envolvimento na política”, afirma Auler.
Veja mais a respeito da ditadura militar na íntegra da TV GGN 20 horas desta quarta-feira, disponível no link a seguir
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