Caravana da anistia realiza sessão pública no 11º Congresso da UEE, em Ibiúna

Jornal GGN-Termina neste domingo (16), o 11 º Congresso da União dos Estudantes Estaduais (UEE). Após 45 anos, este é o primeiro congresso estudantil a ser sediado na cidade de Ibiúna (a 69 Km de SP), cidade do interior do Estado. Em 1968, durante a ditadura militar, 700 estudantes que participavam do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) foram presos. Entre eles, o ex-deputado José Dirceu.

Neste sábado (15), durante o Congresso, a Caravana da Anistia, vinculada à Comissão de Anistia e ao Ministério da Justiça, promoveu sessão pública de homenagem a todos os anistiados oficiais e a todos os participantes do Congresso de 1968. Também foram julgados, a pedido da UEE, dois casos de militantes, detidos naquela época, que entraram com pedido de reparação oficial. Os processos de naistia de Etelvino José Bechara e de Gonzalo Pastor Barreda.

Etelvino Bechara é professor titular do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP). Ele havia sido preso e levado para a penitenciária Tiradentes, enquanto participava do congresso como representante do curso de química da USP. Em 1970, foi retirado à força da sala de aula onde trabalhava e levado para o 2º Exército, no Ibirapuera. Ele continuou a ser monitorado até 1984.

Gonzalo Barreda militava na política estudantil da USP, colaborando para o Jornal Aurk –publicação dos alunos do Conjunto Residencial da USP–, principalmente com fotografias. Em 1968, por ajudar na organização do 30º Congresso da UNE, foi detido e transferido para o presídio Tiradentes, onde ficou por um mês. No fim do mesmo ano, foi preso novamente. Ao ser libertado, foi obrigado a abandonar o curso de engenharia da Escola Politécnica da USP.

Segundo Paulo Abrão, presidente da Comissão de Anistia e secretário nacional de Justiça, “Nós estamos, em primeiro lugar, resgatando a história do protagonismo da juventude, da resistência à ditadura militar”.

Desde o início de sua atuação, a Comissão de Anistia já julgou cerca de 180 processos de estudantes presos durante o Congresso de Ibiúna. As caravanas da Anistia contam com sessões públicas itinerantes de apreciação dos pedidos de reparação por perseguição política.

Passado e presente

A intenção durante o congresso da União Estadual dos Estudantes (UEE) é debater temas do presente e render homenagem ao passado. Para o presidente da UEE, Alexandre Cherno, o resgate da geração de 1968 é necessário para compreender a juventude atual.

“Ibiúna foi um marco na luta pela democracia no Brasil. Foi aquela geração que deu o caráter combativo e de enfrentamento às injustiças para a nossa geração. Devemos muito da nossa identidade a eles.”

O 30º Congresso da UNE, organizado na clandestinidade, ficou marcado como um dos capítulos-chave da história de resistência ao regime. Os estudantes chamaram a atenção pela grande movimentação em uma cidade pequena, o que acabou levando os militares a descobrir o local de realização do evento, que terminou marcado pela prisão de 700 estudantes por agentes da ditadura (1964-1985), entre eles os ex-ministros José Dirceu e Franklin Martins.

Para a historiadora e ex-militante da UNE Ângela Maria Mendes, presente ao congresso de 1968, tratou-se de uma afirmação de que os estudantes estavam organizados. “A polícia chegou ao amanhecer. O congresso da UNE marca o momento em que as coisas começam a se modificar. Havia prisões e tortura, mas nada que se compara com o que vai acontecer em 1968, com o Ato Institucional 5″, disse Ângela em entrevista à TVT.

O AI-5 foi o ato que deu poderes extraordinários ao presidente da República e suspendia várias garantias constitucionais, como o direito de votar e a realização de atividades/manifestações sobre assuntos políticos.

Paulo Abrão considerou que “o fato de estarmos relembrando o congresso de Ibiúna 45 anos depois é uma forma de assentarmos que a resistência contra a ditadura ocorreu por distintas modalidades. Houve um protagonismo juvenil que precisa nesse instante ser reconhecido até para que a juventude de hoje possa se espalhar nesse espírito de luta.”

Ele também afirmou que esta união do passado com o presente “invoca o resultado do que temos implementado [por meio da comissão de anistia], que são ações educativas para que nossa juventude tenha cada vez mais conhecimento da nossa história e também milite no front da luta contra o esquecimento”.

Um dos homenageados durante a sessão pública foi Renato Hermann Fraenkel. Em 1966, durante o Congresso da UEE em São Bernardo do Campo, ele foi preso pela primeira vez. Dois anos mais tarde, durante o encontro de Ibiúna, foi novamente detido, e deixou o país no ano seguinte na companhia da esposa, Denise Fraenkel Kose, já anistiada.

1968
O ano de 1968 foi um marco para a história do país. A morte do estudante Edson Luís, no Rio de Janeiro, mobiliza os estudantes em todo o país, seguido da Passeata dos 100 Mil, manifestação contra a ditadura ocorrida no Rio de Janeiro, organizada pelo movimento estudantil e que contou com a participação de vários setores da sociedade brasileira.

“Mesmo pacífica, a passeata teve uma força muito grande. Foi aí que os estudantes fizeram história mesmo”, diz a historiadora Maria Aparecida de Aquino, da USP, em entrevista à TVT. “O movimento é muito forte no Brasil. Não é só a presença da juventude, mas é uma maneira de apontar para o futuro.”

Comissões da verdade

Outro tema a ser discutido durante o congresso deste fim de semana é a criação de comissões da verdade em universidades paulistas, como ocorreu na PUC de São Paulo. A USP chegou a criar um colegiado, mas os nomes não foram indicados pela comunidade acadêmica, o que provocou mal-estar.

Comissões da verdade
Segundo Cherno, a UEE também criou a sua própria comissão da verdade, que vai contar a história da entidade e investigar quantos estudantes foram perseguidos, presos e torturados pela ditadura: “O Congresso de 1968 é o primeiro ponto: já fizemos um levantamento da história e dos participantes na época. No ato de anistia que vamos fazer no Congresso, vamos desdobrar e apresentar os trabalhos da nossa comissão.”

Para o presidente da UEE, a criação dessas comissões é fundamental para a garantia do direito à memória. “Este será o Congresso mais importante e simbólico da UEE, porque levanta o debate da memória e do direito de contarmos nossa própria história. É um tema que pauta o Brasil hoje.”

Outros temas
O 11º Congresso da UEE realizará também debates sobre a democratização dos meios de comunicação no Brasil, o programa de cotas do governo de São Paulo, as políticas públicas na cultura e a entrada de capital estrangeiro em universidades brasileiras.

“A ideia é fazer um apanhado das discussões e avaliar o período de dez anos de transformação no Brasil, iniciadas no governo Lula e continuadas pela Dilma”, diz Cherno.

O encontro contará com a presença de militantes da geração de 1968, como o ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins, o ex-líder estudantil Leopoldo Paulino, o ex-ministro da Casa Civil e ex-presidente da UEE José Dirceu, e o ator José de Abreu. Mais informações da programação do congresso e das inscrições estão disponíveis no site da UEE.

Redação

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