Em reunião gravada, corregedor do MPSP se defende atacando o Jornal GGN

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
[email protected]

Contrariado com reportagens de Luis Nassif, Ciochetti cita “intenção política” e defende que corregedoria é “patrimônio da instituição"

Motauri Ciochetti , corregedor-geral do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP). Foto: Reprodução – apmp.com.br

A série de reportagens do Jornal GGN sobre a atuação do promotor de Justiça alocado na região de São João da Boa Vista foi alvo de críticas de Motauri Ciochetti de Souza, corregedor do Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP). Na série, foi apontado o comportamento do corregedor, arquivando sumariamente as denúncias apresentadas.

Em reunião virtual realizada com promotores e promotoras do Estado, em clima de campanha para a lista tríplice do órgão, e visando especificamente seus críticos dentro do MPSP, Ciochetti disse – sem citar o nome do jornalista Luis Nassif – ser nítida a “intenção política” do jornalista, ressaltando que ele “tem um viés político conhecido, de denegrir [sic] a imagem da corregedoria e de denegrir a imagem de membros do MP junto com isso”.

Tal colocação teve por base a repercussão de uma série de reportagens em que se aponta a influência política do promotor Nelson O’Reilly na região, e a inação da corregedoria do MPSP.

“Semana passada, circulou em grupos de whatsapp questões afetas a um jornalista que estava lançando críticas ácidas em relação inclusive à postura da corregedoria-geral do MP e do próprio conselho nacional do MP, dizendo que a corregedoria arquiva sumariamente investigações, ou arquivou sumariamente investigações sem antes ouvir a corregedoria, sem antes ouvir os interessados, mas com base em uma visão unilateral dos fatos”, disse Ciochetti a seus pares.

“De cunho nitidamente político, é nítida a intenção política daquele jornalista que tem um viés político conhecido, de denegrir [sic] a imagem da corregedoria e de denegrir [sic] a imagem de membros do MP junto com isso”, ressaltou.

Diante disso, o corregedor-geral disse que a instituição tomou “de imediato as providências” por meio de uma nota oficial divulgada em seu site, “dizendo que a corregedoria-geral do Ministério Público não arquiva nada sumariamente, mas também não acusa sumariamente o que é inerente ao bom e responsável jornalismo, que não foi realizada por aquele profissional naquele determinado momento”.

Em resposta à nota do MPSP, o GGN publicou uma relação de denúncias que receberam arquivamento sumário do corregedor.

Campanha eleitoral em andamento

Motauri Ciochetti também deixou claro no áudio da reunião – proposta para fazer “algumas considerações ligadas, inicialmente, à questão eleitoral” – que a corregedoria-geral do Ministério Público é “um patrimônio da instituição e, como patrimônio da instituição, tem que ser defendido por todos e todas”. Em síntese, disse que a corregedoria do MPSP é uma instituição que deve ser defendida por todos os promotores. E que a corregedoria é ele. Portanto, qualquer crítica a ele significaria uma crítica à corregedoria e, por extensão, a todo o MPSP.

“E nesse sentido, eu digo que cabe a mim aqui zelar por esse patrimônio da instituição. Eu fui eleito e reeleito em ambas as eleições sem concorrência, justamente para zelar pela Corregedoria-geral do MP. E zelar por ela, sobremaneira, é zelar por sua respeitabilidade, por sua integridade, por sua grandeza contra qualquer tipo de acusação, venha essa acusação de fora, venha essa acusação de dentro da instituição”, pontuou.

E nesse sentido, Ciochetti diz não se colocar como dono da corregedoria, mas “zelador da corregedoria – e o nome da corregedoria tem que ser respeitado, tem que ser mantido e respeitado acima de qualquer questão de cunho político”.

Lembrando que as eleições para o Conselho e a Procuradoria-Geral estão se aproximando, o corregedor-geral diz que aquele que integra os quadros da Corregedoria-geral quiser manifestar preferência política ou pedir votos “eu aguardo que venha a carta pedindo o desligamento da corregedoria”.

“Falo com tranquilidade porque nunca mais serei candidato a nada dentro do MP, não preciso do voto de ninguém e por isso não preciso agradar ninguém a não ser a instituição e sobremaneira a sociedade a quem a instituição serve”, afirmou o corregedor-geral.

Segundo o corregedor-geral, todos podem ter as suas opiniões políticas, mas ter uma chapa preferida não significa que isso dá o direito a quem quer que seja de ofender os adversários.

“Se construirmos inimigos no ambiente interno de eleições dentro do MP, não tenham dúvida: o MP não vai ser explodido, nós temos força para enfrentar os inimigos externos, mas há sério risco do MP implodir, erodir por comportamentos internos de guerras e ofensas de agressões ouvidas por questões de cunho político”.

Sobre a atuação do MP, Ciochetti diz ver “equilíbrio” em sua gestão e que a corregedoria-geral tem uma posição “muito confortável” pois “a partir do momento em que, do lado de fora, há críticas dizendo que ela não age, e do lado de dentro há críticas dizendo que ela age muito. Isso significa o equilíbrio que rege a instituição e que rege a corregedoria-geral e sua gestão”.

“E assim ela irá prosseguir, ela não irá em nenhum momento alterar a sua forma de atuação, ela não irá em nenhum momento retroagir, ela não irá em nenhum momento titubear em tomar as providências que se mostrem necessárias para que haja a melhor prestação de serviço institucional (…)”, ressaltou.

Leia Também

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O desprezo que esse cidadão demonstra pela preservação do princípio constitucional da legalidade é simplesmente asqueroso. Ele transformou o corporativismo (que algumas vezes eu gosto de ironicamente chamar de porcorativismo) na única norma que deve ser observada. Isso explica não somente os abusos cometidos pelos promotores, mas a total incapacidade dos cidadãos se defenderem contra as ilegalidades cometidas por membros do MP. Também explica porque os promotores paulistas gastam tanto tempo defendendo os salários acima do teto que recebem. A inexistência de controle interno e externo do MP, por outro lado, equivale à fumaça de polvora no cano da pistola do PM quando ele mata um miserável na quebrada da favela. Em São Paulo a letalidade policial é apenas a outra fase da letargia programática institucional do MP/SP. O porcorativismo dos promotores é lucrativo e mortal. Nós sabemos quem está lucrando e os promotores sabem apenas que não precisam se interessar pela preservação das vidas matáveis.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador