Delegado afastado continua a dizer que primeiro vídeo não caracteriza estupro

Jornal GGN – Depois de ser afastado do cargo de delegado pela forma que conduziu a investigação do caso de estupro coletivo da adolescente do Rio de Janeiro, Alessandro Thiers, concedeu entrevista ao Estadão.

Ele dirigia a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática e afirmou que o vídeo em que a jovem aparece nua, desacordada, enquanto homens mexem em seu corpo, não caracteriza estupro.

“Se você conversar com qualquer especialista em Direito, da área penal, vai ouvir que não houve estupro ali, tecnicamente falando. O dolo ali não foi de satisfazer lascívia sexual. Não estou falando que eles não possam ter estuprado antes ou depois. Apenas que entendo que a análise daquele vídeo isoladamente mostra que ocorre o crime de difamação, não de estupro”, afirmou.

Sobre a acusação de constranger a criminalizar a vítima, Thiers disse que tem experiência e já trabalhou na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. “As perguntas feitas à adolescente foram porque a mãe comentou que ela tinha amizade com os traficantes. Não teve constrangimento nenhum. Eu era o maior interessado em achar os culpados”, disse.

Do Estadão

Delegado afastado vê elo entre jovem violentada e tráfico

Por Roberta Pennafort

Fora do caso e agora da Delegacia de Repressão a Crimes de Informática, Thiers afirma que 1º vídeo não mostra estupro

RIO – O delegado Alessandro Thiers, o primeiro a investigar o estupro coletivo de uma adolescente de 16 anos no Rio, afirmou ontem que o primeiro vídeo divulgado sobre o caso, em que a jovem aparece nua, desacordada, ao lado de homens que mexem em sua genitália, não caracteriza estupro. Afastado do inquérito sob a acusação de ter constrangido a vítima ao tomar seu depoimento, ele disse que o envolvimento da jovem com o tráfico deve ser apurado pela polícia, pois ela afirmou ser amiga dos traficantes do Morro da Barão, zona oeste, e de ter participado do preparo de drogas para venda. 

Thiers, de 41 anos, dirigia a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), da qual foi afastado anteontem. A coordenação da investigação já havia passado para a delegacia da Criança e Adolescente Vítima na semana passada. 

Como o senhor avalia o resultado das investigações até aqui? 

O que posso falar é que esse vídeo que foi divulgado, onde o Raphael Bello (um dos acusados presos) aparece com a língua para fora, se você conversar com qualquer especialista em Direito, da área penal, vai ouvir que não houve estupro ali, tecnicamente falando. O dolo ali não foi de satisfazer lascívia sexual. Não estou falando que eles não possam ter estuprado antes ou depois. Apenas que entendo que a análise daquele vídeo isoladamente mostra que ocorre o crime de difamação, não de estupro. O “mais de 30 engravidou” (dito por um dos homens) é adaptação do funk Mais de 20 engravidou. Ele tentou denegrir a honra da garota. Do outro vídeo (em que a jovem é violentada e reclama de dor, divulgado posteriormente) eu não tenho conhecimento. 

Acha que a vítima inventou que foi estuprada?

É só vocês raciocinarem: ela já mudou de versão diversas vezes em programas de televisão. Os fatos têm de ser mais bem investigados, para ver se havia realmente 33 pessoas armadas naquela casa e quem seriam elas. Se você olhar melhor o vídeo, você acha que estava tendo conotação sexual? Como mulher, você acha que a pessoa ali teve algum tipo de satisfação sexual ou de achincalhar a garota? A intenção dele era de se autovangloriar, de ser o garanhão da favela. A imagem choca, é de uma garota desacordada, com as partes sexuais avermelhadas. É isso que está sendo investigado. A imprensa colocou como se fosse verdade absoluta. Fiz meu trabalho de forma coerente e imparcial. Agora a polícia vai chegar à verdade dos fatos.

O que se passou, de acordo com as investigações iniciais conduzidas pelo senhor?

Até onde investiguei, aparentemente não ficou comprovado efetivamente o estupro. A relação que ela teve foi consensual com o Raí de Souza (preso, que mantém essa versão). A história dela tem vários pontos em aberto. Os fatos que ela relatou são graves, ainda mais alegando que foram 33 pessoas. É uma coisa covarde. O comportamento anterior da vítima não foi usado como elementar do tipo penal. Quando a mulher fala “não”, é não. Houve comoção nacional e internacional pela história. A polícia não estava duvidando, mas a gente tem de ser técnico. 

No estupro, o relato da vítima não deveria ter peso especial?

Não posso ouvir a versão de uma pessoa e sair pedindo a prisão de todo mundo. Numa outra vez, ela foi estuprada, o Da Russa (Sérgio Luiz da Silva Junior, chefe do tráfico da favela) ia matar e ela falou: “Não mata”. Ela confirmou que são amigos dela, que já participou da endolação (preparo de drogas). A mãe dela me falou, perguntei e ela confirmou. Tem outro questionamento que até hoje ninguém fez: por que ela não está sendo investigada por associação ao tráfico? Ela sofreu estupro? Pode ser que tenha sofrido. Mas o restante é esquecido? Não pode passar a mão na cabeça. 

O senhor foi acusado de constranger e criminalizar a vítima. Nega que o tenha feito?

Todos os fatos foram gravados e, em um momento oportuno, serão apresentados. Não venham me falar que não tenho experiência pra trabalhar com criança e adolescente, porque já trabalhei na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. As perguntas feitas à adolescente foram porque a mãe comentou que ela tinha amizade com os traficantes. Não teve constrangimento nenhum. Eu era o maior interessado em achar os culpados. 

Redação

9 Comentários

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  1. Pelo que ele diz na

    Pelo que ele diz na entrevista, já nos faz imaginar como deve ter sido o interrogatório e mostra estar desinformado quanto ao que caracteriza estrupo. Só faltou dizer que a culpa foi da menina.

      1. Das “pessoas” nao. De homens machistas sim

        É só o que faltava. Uma coisa é a necessidade de investigar, OK. Outra é partir da hipótese de que a vítima mente.

  2. Por

    favor corrijam a primeira frase… Ele não foi exonerado do cargo de delegado, pois se este fosse o caso, teria que deixar o serviço público, o que não foi o caso… Ele pode ter sido afastado do caso ou perdido alguma “comissão/chefia” que detinha na PCERJ. Mas continua servidor público do Estado do Rio de Janeiro.

    Fica aqui a sugestão…

  3. delegado….

    A Policia fazendo seu serviço, a mídia querendo vender noticia e o poder público querendo tirar o seu da reta. Não esperaram as investigações, laudos, exames, provas e contra provas para prenderem, julgarem e condenarem, se fosse o caso. Prenderam (por que é muito fácil prender negro e pobre. Vai reclamar para quem?  Vai ter o apoio de quem?). Constrangeram, pois os rapazes voltam ao cárcere calados (senão já viu?!) E agora já condenados que tentem desenterrar uma absolvição. 

  4. A moça não está

    A moça não está desacordada.

    Ela está claramente DOPADA, ela está zonza, como se não tivesse noção do que está a acontecendo.

    Depois o cara abre a vagina dela que mostra vermelhidão e sangramento…

    Se isso não for violência…

  5. ???

    “o primeiro vídeo divulgado sobre o caso, em que a jovem aparece nua, desacordada, ao lado de homens que mexem em sua genitália, não caracteriza estupro”

    ???

  6. Mas foi feito o exame de

    Mas foi feito o exame de corpo e delito? Não tem psicologo para conversar e prestar suporte a vitima no depoimento? O delegado tem que interrogar como se fosse crime comum?

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