Manter direitos políticos não atenua o que me fizeram, diz Dilma

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Destituída da presidência da República na quarta-feira, 31 de agosto, Dilma Rousseff (PT) comentou nesta sexta (2), pela primeira vez, o polêmico fatiamento de seu julgamento, que terminou por cassar-lhe o mandato sem prejuízo dos direitos políticos.

Segundo Dilma, a autorização do Senado para continuar habilitada para cargos públicos não “atenua” o que fizeram: condenaram uma “inocente”, porque não havia base jurídica para sustentar crime de responsabilidade fiscal. Para ela, a cassação foi uma “pena de morte política”.

“Essa cassação é de fato a pena principal. Você tem um impeachment sem crime de responsabilidade, afasta a pessoa inocente do cargo e, além disso, tira seu direito politico por oito anos, também sem crime de responsabilidade. (…) [Manter direitos políticos] não acho que atenua o que fizeram. Eu acho que são detalhes. O fato gravíssimo é que me condenaram à pena de morte política ao me tirarem da presidência.”

Dilma também alertou que está em curso um processo de autoritarismo e repressão contra movimentos de ruas que cobram a saída de Michel Temer do poder. Desde terça-feira passada, um dia após Dilma ir ao Senado fazer sua defesa pessoal, manifestantes são reprimidos violentamente pela Policia Militar, principalmente em São Paulo, onde uma estudante perdeu a visão, vítima de estilhaços de uma bomba usada pela corporação sob autoridade do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Além de criticar essa postura contra manifestantes, ela ainda disparou contra a ordem de Michel Temer de “não levar desaforo para casa” sempre que seu governo for chamado de “golpista”. “Não é possível que não se possa falar o que se quer, por exemplo, ‘Fora Temer’. Não é possivel isso. Quando você tem medo das palavras é que inicia-se o processo opressivo.”

A presidente destituída ainda rechaçou a mudança de programa de governo que foi imposta aos brasileiros com a chegada de Temer ao poder. “Acho gravíssimo o fato de que, um programa que não é o eleito pelas urnas, seja executado nos próximos anos.

Em entrevista à imprensa internacional, Dilma explicou o Plano Safra, sobre o qual alegou que a presidência da República não tem atuação direta por força de lei, e também afastou sua participação sobre os três decretos de créditos suplementares usados para acusá-la de crime de responsabilidade fiscal.

Ela disse que o impeachment, na verdade, é um golpe parlamentar dado por forças interessadas em escapar da Lava Jato e implantar um programa de governo impopular no País.

“Está registrada na gravação de Sergio Machado com Romero Jucá, com fala do senador no sentido de ‘vamos estancar a sangria’ porque, caso contrário, nós seremos atingidos. Estou fazendo leitura livre, mas a ideia é essa: ou tira ela, ou as investigações continuam. Esse é um motor do impeachment. O outro motor é que eu fui eleita com 54 milhões de votos. O projeto que estão aplicando no Brasil não teve votos necessários para que fosse aplicado. Que processo é esse que antes mesmo da presidente sair começam a aplicar um programa de governo sem respaldo das urnas?”

Dilma defendeu alteração na lei de impeachment, para evitar que outros presidentes sejam derrubados por crises políticas, sem fundamentos jurídicos.

Advogado de Dilma no impeachment, José Eduardo Cardozo disse que irá recorrer ao Supremo Tribunal Federal alegando cerceamento da defesa e alteração na acusação no meio do processo, entre outros pontos. Ele, no entanto, defendeu que os direitos políticos de Dilma tenham sido votados em separado da pena de perda de mandato.

FUTURO

Dilma disse que não tem um projeto político eleitoral elaborado para essa nova fase, longe da presidência. Mas disse que terá sempre “disposição” em colaborar para o crescimento do País.

“Não tenho projeto político no sentido eleitoral. Mas tenho projeto político no sentido de fazer oposição a este governo, independente de onde eu esteja. Eu posso ir para Porto Alegre ou para o Rio de Janeiro, onde minha mãe. Na semana que vem, vou para Porto Alegre. Pretendo fazer isso no início da semana.”

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

19 Comentários

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  1. Enquanto o PT e  ela

    Enquanto o PT e  ela utilizarem de eufemismos para denunciar o impeachment

    nunca ficará claro para a população, as explicações e denuncias sobre as tais pedaladas fiscais são confusas para a maioria das pessoas, que ao final podem até serem convencidas que foi um gesto justo, o que deve ser denunciado é o verdadeiro conluio midiatico jurudito rentista que querem que o país permaneça de joelhos para os interesses alienigenas, mantendo o privilegio da banca e de empresarios larapios, se não for dito com todas as letras, o PT e Dilma podem dar mil entrevistas, todas serão inuteis.

    1. Não teve eufemismo nenhum,

      Não teve eufemismo nenhum, ela usou a palavra golpe em vários momentos nessa entrevista. A explicação das pedaladas é importante para a imprensa internacional (para quem a entrevista foi dada), que nada entende desse assunto e precisa esclarecer os seus leitores. Até mesmo para que a imprensa veja que os fatos alegados não são crime e que foi realmente um golpe.

  2. Lamento presidenta, sei que a

    Lamento presidenta, sei que a senhora foi cassada injustamente, passará para a história como uma heroína, como uma grande denfensora da Democracia, mas as chances de reversão do processo de impeachment são zero.

    Em qualquer instância.

    Se lhe derem uma oportunidade, talvez em 2018 a senhora consiga voltar

    1. Talvez vc não tenha percebido

      Mas voltar a presidência, deixou de ser prioridade. 

      O que ela quer fazer é olhar na cara dos canalhas, e entre eles sabe que tem muita gente de saco cheio dessa máfia.

      Dar trabalho para esses vagabundos parasitas, que não raro, nem sabem do que estão falando, ou no mínimo são hipócritas.

      Fico com a segunda opção.

      Como foi é o caso do fatiamento  do julgameto , em Gilmarginal Mendes, declarou de forma textual e citado aos 12 minutos do video da entrevista. Confira:  

      “perda de direitos – não decorre da perda do cargo”   #foraTemer em seu livro ” Elementos do Direito Constitucional”

      ” impeachment implica em duas penas (distintas)”  – Gilmarginal Mendes em seu livro “Curso de Direito Constitucional”

       

  3. Querida e para sempre minha Presidenta !


    Desculpe-nos por não termos conseguido defendê-la dessa injusta e criminosa ação de golpistas. Com muito sofrimento bradamos e apontamos todos os golpes que um a um se apresentavam,  demonstrando uma trama diabólica! E isso desde antes mesmo das eleições de 2014. Acompanhamos tudo e aproveitávamos espaço como este, para gritar a sua inocência, sua dignidade e mostrar os feitos de seu governo, que a mídia infame não informava. Apontamos desde então os políticos corruptos que eram blindados, e ainda são, pela “INJUSTIÇA” de nosso país. Seu nome já faz parte da nossa historia, enquanto os golpistas já resvalam para a lata de lixoi dessa mesma história!  Minha guerreira e valente Presidenta, receba toda a admiração desta brasileira, que pela primeira vez viu que uma criatura honesta dirigia esse continente chamado Brasil! VIVA DILMA!  A luta continua!

  4. Ataques de amnesia…

    Tanto o Temer, quanto o Gilmar mendes seguem para SI MESMOS, a máxima de FHC!

    Esqueçam o que escrevi…

    E o Gilmar é o mais abusado!

    Alem de esquecer o que escreveu, ESCRACHA QUEM SEGUIU O QUE ELE ESCREVEU…

    Será bebedeira?

  5. Dom Pedro II, Washington Luis

    Dom Pedro II, Washington Luis e João Goulart, chefes de Estado depostos, jamais se manifestaram sobre as circunstancias historicas que cercaram sua deposição, mantiveram grande compostura na queda.

    1. Pois é, e até hoje muita

      Pois é, e até hoje muita gente acusa o Jango de covarde.

      Tu esqueceste do Getúlio com o tiro no peito.

      Talvez seja o que queiras, mas não vais levar.

  6. Pelos comentarios parece que

    Pelos comentarios parece que Dilma foi deposta exclusivamente pela maldade dos congressistas sendo ela uma governante perfeita cuidando de um Pais que estava em otimo momento, realmente foi incompreensivel.

    1. coerencia senhor

      Eu nao posso acusar alguem de um crime so porque eu acredito que a pessoa e uma ma governante.  Se fosse assim eu poderia te chamar de ladrao apenas porque nao concordo com suas opiniões. Nao seja cinico. Como monarquista que sou nao posso apoiar um golpe porque teria que calar minha boca depois de 15 de novembro de 1889.

    2. Aguardarei ansiosamente tuas

      Aguardarei ansiosamente tuas explicações para esse ato tão violento contra os 54 milhões de votos que colocamos nas urnas em 2014. Eu pelo menos não retirei meu voto.

      Meu cunhado participou ativamente do golpe de 1964 e está exultante novamente, usando os mesmos argumentos que tu usa.

    3. Parece?

      André Araujo, colunista: especialista na retórica híbrida de bar pé sujo com púlpito de igreja neo-pentecostal do hinterland paulista (tomei essa frase emprestado e adaptei-a).

      Parece, não, Dilma realmente foi deposta pela maldade de canalhas e delinquentes fantasiados de congressistas. Dilma não se autodeclarou inocente, Dilma REBATEU a sua inocência. Em nenhum momento ela se colocou na condição de governante perfeita. Não era segredo pra ninguém (até as baratas e os milhares de cupins da grande biblioteca da sua casa sabiam) que o momento economico não é otimo, faz tempo.

      Mesmo uma governante perfeita não pode governar por decretos e Dilma não é governante perfeita. A coalizão de partidos anti-Dilma, como o PMDB de Temer, e os grupos das igrejas evangélicas – com certeza teleguiados por Washington, na bronca com um Brasil coluna fundamental do grupo BRICS – criaram tantas e tantas dificuldades, que a presidenta foi forçada a governar praticamente por decretos, durante a maior parte de seu segundo mandato. Isso não pode ser esquecido.

      ”A felicidade de milhões não pode ser subjugada pela ganância de uma minoria.
      Quero o meu voto de volta”.      — Nicolelis

  7. O Fatiamento, foi uma espécie de presentes dos gregos.

    O fatiamento da sanção imposta pelo crime de responsabilidade fiscal, da perda do mandato, e da

    perda dos direitos políticos. Deu a Dilma, a absolvição. Só cego não vê.

    O rito da sessão, tornou-se  viciado de nulidades.

  8. Pedalar agora é lei . Senado canalha

    Àqueles que dizem que Dilma reclama demais do Congresso . A culpa da crise não é dela exclusivamente . Houve vários culpados e ela teve participação. Tomou decisões erradas . Sabemos disso . MAs o país continua uma porcaria econômica .
    E as medidas que Temer sugere não melhorarão as coisas . Piorarão. Será que vão derrubá-lo também ? Duvido muito.
    O contexto da crise inclue muita gente : Sergio Moro e sua justiça “terra arrasada”  que liquidou a industria de construção civil , fez meio mundo recuar nos investimentos e colocou entre 150 e 300 mil na rua ,a  Globo e seu negativismo diário , as pautas negativas e deliberadamente  bombásticas da oposição, a campanha de linchamento e ódio que perdurou de outubro de 2014 até metade de 2015 coma Lava Jato .
    Só uma pessoa com muita maldade no coração para botar toda a culpa da crise na Dilma.
    E há sim um elemento de maldade nas ações dos Congressistas.Tanto isso é verdade , que dois dias após o Golpe final , votaram uma lei que inocentaria Dilma e que libera Temer para fazer o que quiser com o ajuste fiscal .Liberaram as pedaladas .
    Isso é a maior demonstração de canalhismo possível que se pode atribuir a este Congresso.

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