Se é legítimo para Gilmar Mendes…

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Sugerido por Pedro Penido dos Anjos
 
Gilmar Mendes se sente confortável em expor seu rancor não apenas com os apenados, mas também com os que se atrevem mostrar solidariedade tácita.
 
Por Daniel Quoist
 
De Carta Maior
 
Não bastassem suas usuais provocações ao PT, ao governo do PT, aos líderes do PT, aos petistas presos no suspeitíssimo julgamento da AP-470, ainda acha por bem tripudiar sobre as centenas de pessoas que voluntariamente fizeram doações para ajudar no pagamento de multas judiciais devidas por José Genoíno e Delúbio Soares.

E até ao senador Eduardo Suplicy, que lhe enviara carta aberta cobrando explicações por suas descabidas declarações, não se faz de rogado e lhe responde com o veneno da ironia mal digerida pelo fígado: “Tenho certeza, senador, que o senhor seria dos primeiros a apoiar uma vaquinha para levantar os R$ 100 milhões de prejuízos causados pelo mensalão”.

Coloca sob suspeição todos os doadores, considera um escárnio que exista pessoas doando para os “mensaleiros”, facilitando assim que estes não sejam punidos com os rigores próprios a quem “pratica malfeitos” e por aí segue sua estranha cantilena, uma mistura de ressentimento político, militância antigoverno e antiPT e frustração com um julgamento que parte da população considera ter viés claramente político e não jurídico.

Se Gilmar Mendes se sente confortável em expor seu rancor não apenas com os apenados, mas também com os que se atrevem mostrar solidariedade tácita, verbal e financeira com esses mesmos apenados, como seria sua reação – e a reação de alguns dos seus pares que como ele pensam e também a reação dos meios de comunicação que usualmente potencializam a ira do ministro do STF?

Se é legítimo que Gilmar Mendes assim proceda, renegando o perfil de sobriedade  e discrição que tanto se espera de um magistrado de Corte Suprema, não seria legítimo que outros ministros da mesma instituição se sentissem à vontade para lhe fazer o contraponto – defendendo o direito dos mensaleiros a terem uma execução da pena de maneira justa, a receberem a solidariedade de seus amigos, militantes de partido, simpatizantes de suas ideias políticas, seja em comentários nas redes sociais da Web, seja em artigos publicados em jornais e revistas impressos, seja contribuindo financeiramente para o pagamento das multas que lhe foram impostas?

Se é legítimo que Gilmar Mendes conclua que, pela rapidez com que os valores das multas foram arrecadados por José Genoíno e Delúblio Soares, tais valores foram levantados de maneira espúria, não seria também legítimo que algum outro colega seu na Suprema Corte chegue à conclusão que tais contribuições financeiras estão absolutamente dentro do arcabouço jurídico e legal e mais, se sintam mesmo à vontade para… terem também ajudado com sua própria doação, assim como o fez (e divulgou) o antigo presidente do STF Nelson Jobim?

Se o modo Gilmar Mendes de proceder vira ‘modismo’ dentre os magistrados brasileiros, será que tais declarações, acintosas em sua essência e objetivos, não poderiam ter como contraponto declarações de outros magistrados em direção diametralmente opostas?

Ante o silêncio obsequioso dos meios de comunicação tradicionais, aqueles que pertencem majoritariamente a não mais que meia dúzia de famílias, o que poderia se esperar caso o mesmo Gilmar Mendes mudasse radicalmente de opinião e fizesse questão de defender os “mensaleiros”, se inssurgisse contra qualquer de seus pares que ousasse desqualificar apenados da AP-470 como José Genoíno, Delúbio Soares, João Paulo Cunha, José Dirceu?

Estamos testemunhando uma época difícil para o funcionamento regular do STF, e os sinais disso poderiam facilmente ser escrutinados com o comportamento de seu atual presidente Joaquim Barbosa:

1 – desqualifica seus pares em diversas oportunidades em que estes tenham posição jurídica divergente da sua;

2 – manda que jornalista que deseja lhe entrevistar “vá chafurdar no lixo”;

3 – compra apartamento em Miami (EUA) usando artimanhas contábeis para não pagar impostos, criando empresa para alcançar tal fim e oferecendo para esta empresa seu próprio endereço residencial, algo vetado na Lei da Magistratura do Brasil;

4- transforma a prisão de apenados da AP-470 em raro show midiático, transportando-os em voos das cidades em que residem para Brasília e somente depois, aos poucos, para as cidades onde deverão cumprir penas;

5 – revoga de maneira monocrática decisões de presidente do STF em exercício (Ricardo Lewandowski), sem ao menos submeter tais ações ao plenário da Corte, como aliás estabelece o artigo 317 do regimento do STF;

6 – viaja de férias sem assinar documento hábil para a prisão de um dos apenados (João Paulo Cunha);

7 – deixa de mandar prender outro dos apenados (Roberto Jefferson);

8 – vaza a um de seus pares (Marco Aurélio Mello) a intenção de se candidatar à presidência da República em outubro de 2014, em coroamento de um processo (AP-470) que ostenta todas as tintas do verniz partidário, onde atuou como perseguidor implacável dos réus e fustigou exatamente aqueles com quem pretende disputar o Palácio do Planalto.  

Acima apenas vislumbres da crônica recente envolvendo o presidente do STF, mas crônicas não menos auspiciosas e nem airosas podem ser rapidamente elencadas tendo como protagonistas os ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Luiz Fux.

Esses juízes tem seus nomes e biografias relacionadas com temas espinhosos e de difícil justificação jurídica e moral: o Instituto de Direito Público (IDP), investigado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em convênios firmados com a Justiça na Bahia; os dois habeas-corpus concedidos a Daniel Dantas, o  notório dono do Banco Opportunity; a denúncia de grampos falsos (e nunca comprovados) tendo como interlocutor o ex-senador Demóstenes Torres; as relações perigosas observadas para se alcançar a nomeação para o STF. E mais, muito mais.

Aos interessados não será preciso os préstimos de Edward Snowden: tudo consta dos arquivos da imprensa, acessíveis na internet ao alcance de meia dúzia de cliques.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

14 Comentários

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  1. Já que o Gilmar acha que tem

    Já que o Gilmar acha que tem o direito de desconfiar que nós, os doadores do Genoíno, Delúblio e Dirceu, e que somos lavadores de dinheiro, também temos o direito de achar estranho a lavagem de dinheiro na sorveteria da filha Diletta do seu amigo Serra. Disso ele não fala nada, né?

    1. Não so não fala sobre isso e

      Não so não fala sobre isso e nada absolutamente nada sobre a corrupção de tucanos e demos, como diminuiu a pena dada pelo juiz de primeira instância a ex-ministros de FHC, incluindo ai esse personagem nefasto da politica que é José Serra. Espero que um dia nos livremos desse povo que quando chega ao poder, se embriga nele e pensa que todo o poder emana de si mesmo. E ao povo, a banana de sempre. 

  2. acredito que já podemos dizer que Gilmar é o Rei…

    o Rei das interpretações ofensivas sem nunca ter deixado de ser apenas o eco das injustiças do mensalão

     

    é do eco a façanha de se comunicar antes de ser compreendido

  3. Diárias da improbidade

    9- Sai de férias e dá um jeitinho de receber diáras em pleno exercício dessas férias. Qualquer servidor púplico seria obrigado a delvolver e responderia processo disciplinar com amplas possibilidades de demissão a bem so serviço público.

  4. Vergonha no stf.

    Idealizado por nossos legisladores como o local de produção de jurisprudência, este tribunal tem se especializado na produção de vergonha.

  5. O que me intriga é que outros

    O que me intriga é que outros ministros e pessoas de notório saber juridico NÃO FAZEM NADA! Apenas contemplam a execração pública como algo INEVITÁVEL! Se o Zé Dirceu fosse Tiradentes –  ele NOVAMENTE SERIA ESQUARTEJADO!

    O que teme tais figuras? Qual o poder que as inibe?

    Isso talvez seja a coisa que precisaria de uma grande investigação para saber qual é o poder sobre o poder judiciário!

    A OAB tão prestativa para cobrar coisas do governo se cala diante do que aconteceu com PIZZOLATO? Como pode não reavaliar suas provas? Nada na justiça cobra justiça contra a justiça em si mesma!

    Seria dinheiro da CIA? O famoso rabo preso? O que é então?

  6. a OAB que foi no passado tão

    a OAB que foi no passado tão brilhante, se cala de uma maneira que desepciona a ppulação, triste o caso de Pizollato e o Zé Dirceu, fui gerente de banco durante 20 anos só libera emprestimo com três assinaturs qual quer pessoa liga na aréa bancaria sabe disso se Pizollato foi condenado e os otros, ele não pode assinar só. DIrceu dominio do fato

  7. Gilmar e Barbosa desmascaram a verdadeira Justiça

    Em qualquer país civilizado, um juiz que faz artimanha para sonegar imposto seria posto pra fora da corte imediatamente. O Sr Joaquim Silvério dos Reis, digo, Joaquim barbosa sonegou imposto nos EUA e Brasil, pois existe acordo de complementariedade entre as Receitas Federais dos dois países.

    Joaquim Barbosa Incorre em crime de sonegação e deveria, conforme a Constituição, ser posto pra fora do stf, para que o stf volte a ser STF!

    Um sr que arruma emprego para o filho na globo e essa globo e demais asseclas da oligarquia midiática e financeira desferem intensa campanha inconstitucional contra os petistas, essa oligarquia escravista que domina o Brasile há mais de 500 anos e faz o que fez com apoio dessa mídia corrupta, já deveria estar fora do stf, que merece ser escrito em minúsculas devido ao seu apequenamento por alguns din-dins a mais recebidos da escolinha do sr. gilmar.

    Já esse último, os constantes contratos sem licitação, a presença do seu nome na lista de Furnas verdadeira e a defesa deseu irmão prefeito de Diamantino e os asquerosos habeas-corpus ao banqueiro DD e ataques ao Juíz Fausto de Sanctis são abasurdamente acobertados pela mídia corrompida e golpista.

    Esses dois senhores devem ser retirados do stf imediatamente, mas a pequenês do PMDB é tanta que permite esses abusos e que a corrupção campeie no judiciário.

    Pergunto ao Senador PEDRO SIMON, QUE SEMPRE ME PARECEU HONESTO: vai continuar calado quanto à corrupção no judiciário?

    1. O Sr. Pedrinho Simon é

      O Sr. Pedrinho Simon é bastante valente ao falar grosso sobre a Dilma, mas infelizmente, se acostumou a falar fino com seus amiguinhos Joaquim, Gilmau, Demostenes, Bolsonaro e o resto do clã. O problema é que quando se cria um circulo de amizades, cada um vai falando as suas malandragens, uma pior de que a outra, só para poder impressionar mais, sabendo e ciente que assim o circulo se fecha e se torno vicioso. Se você falar de mim, eu vou falar de você!!

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