A liberdade póstuma de Monteiro Lobato

Por Eduardo Waack

O nome de Lobato (1882/1948) tornou-se sinônimo de luta pela vitória de um povo. Ele gastou a vida, e tudo o que ganhou, a bater-se por um desenvolvimento cultural, objeto de progresso econômico… Acreditou num Brasil altivo, saudável, independente e produtivo. Encantou adultos e crianças. Pois agora, em clima de Copa do Mundo, e até falando de futebol, Lobato poderá ser citado de forma irrestrita a partir de 05/07/2018. Decorridos 70 anos após a morte do consagrado autor, sua obra entrará em domínio público.

Um dos primeiros lançamentos no Brasil já com a obra de Lobato dentro do domínio público será a coleção em quatro volumes “Lobato Letrador”, de Zöler Zöler, professoras que há mais de dez anos pesquisam a obra de Lobato com foco no Letramento. As autoras voltam a chamar a atenção à figura de Monteiro Lobato que nos últimos anos foi reduzido, de forma deturpada, apenas à literatura infantil. O lançamento será dia 5 de julho para comemorar a possibilidade de acesso e estudo (no Brasil) desta grande personalidade brasileira que, como ninguém, trouxe uma brasilidade imensa em suas letras.

Nessa coleção, as autoras Zöler Zöler defendem a pluralidade empresarial de Monteiro Lobato, desmistificam as acusações de racismo, antissemitismo e tantas outras tolices, e enaltecem o escritor nacionalista que defende a pátria lutando para que todos dominem a língua como forma de resistência e ascensão social. “Lobato Letrador” é uma rede de cruzamento de informações sobre Monteiro Lobato. Uma vasta bibliografia foi pesquisada durante essa década de trabalho e o livro comprova a cada Passo Letrador um Lobato desconhecido até pelos mais estudiosos.

 

Data: 5 de julho de 2018 (quinta-feira)

Local: Restaurante Carpe Diem, 104 Sul — Brasília (DF)

Horário: a partir das 18h00

Valor da coleção: R$ 200,00

Contato: [email protected]

Redação

13 Comentários

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  1. Uma lágrima por Lobato, por Nilson Lage

    Nilson Lage

    7 h ·  

    Uma lágrima por Lobato

    O pastiche parnasiano da cultura francesa que as elites veneravam no Brasil do início do Século XX incomodava Monteiro Lobato. O jovem promotor, depois fazendeiro em Taubaté, preferia a novidade americana: o estilo enxuto, as palavras comuns, o pragmaticismo de Peirce, o ins­trumentismo pedagógico de Dewey (que inspirou a ‘escola nova’ de Anísio Teixeira e os cieps de Darcy Ribeiro), o espírito empreendedor. Chegou a escrever que Henry Ford materializava abstra­ções de Rousseau e Marx: não imaginava em que monstruosa coisa de transformariam os Estados Unidos algumas décadas depois. 
    A missão da vida de Lobato foi investigar as causas da apatia do matuto materializada no persona­gem Jeca Tatu, de ‘Urupês’. Homem de seu tempo, partiu da suposição de causalidade étnica: a superioridade dos brancos euro­peus era ‘verdade científica’ que ninguém ousava contestar. Logo iria superá-la: em grandes cam­panhas, atribuiria essa ‘preguiça’ à doença e à ignorância. O Jeca tornou-se símbolo do subdesen­volvimento brasileiro. 
    Disposto a mudar essa realidade, fundou editoras, traduziu do inglês dezenas de livros, estimulou outros tradutores e autores. Denunciou o impedimento escandaloso de o Brasil explorar petróleo e ferro. Dirigiu extensa obra às crianças, tratando-as com respeito e levando-as, pela trilha da fantasia, até a ciência que faltava nas escolas.
    Cidadão de país patriarcal em que alguns dos mais notáveis pensadores eram negros ou mestiços, impressionou a Lobato a onda das suffragettes e a rigidez da segregação racial nos Estados Unidos. Isso o levou a escrever, em 1926, uma novela premunitória de ficção científica; nela, um invento tecnológico do Professor Benson, desenvolvido em um sítio de Nova Friburgo, na serra fluminense, permite ver o futuro em tela de televisão. 
    No 2028 imaginado por Lobato (faltam só dez anos!), o Brasil partiu-se em dois e o Sul fundiu-se com outras nações do Prata.
    O conflito politico norte-americano trava-se em torno de etnias e sexos. As mulheres defendem a tese – bem pós-moderna – de que não são companheiras do homem, mas seres de outra espécie que ele teria capturado em eras ancestrais. 
    Na eleição para a presidência, mantido o tradicional sistema bipartidário, a candidata Evelyne Astor opõe-se ao presidente que pretende a ree­leição, Kerlog, ambos brancos; um candidato negro, Jim Roy, lança-se à véspera do pleito como postulante avulso e termi­na sendo eleito em voto via Internet. Para impedir sua posse – e, preservar a ordem racial instituída – os brancos, homens e mulheres, unem-se e e conspiram para a solução final: em campanha de mídia apoiada pelo iludido Roy, a população negra é convencida a tomar um remédio novo que a tornaria branca mas que, de fato, a faz infértil, condenando-a ao desaparecimento.
    Li esse livro no começo da década de 1960. A elite dos Estados Unidos discutia a possibilidade de o crescente movimento de libertação dos negros – de Martin Lurther King aos Panteras Negras – rea­lizar a profecia de Lobato: gerar uma tormenta política incorporando as demandas de outros excluí­dos étnicos, como os latinos e os remanescentes indígenas. A partir desse temor – a quase certeza de que aconteceria – forjou-se a estratégia das ações afirmativas: integração nas escolas, quotas ra­ciais, estimulo à formação e crescimento de uma classe média negra etc. Menos mal.
    Lobato, porém, seguiu remoldando sempre seu Jeca Tatu. Em 1948, no último livro (morreu em julho), chama-o de Zé Brasil, sem-terra explorado por latifundiários: concluíra que é social a matriz do pro­blema.
    Ultimamente, vêm insultando a memória de homem de vida tão rica com a pecha de racismo, tal­vez por terem entendido tudo errado . Quem abrir um livro de contos publicado em 1923, ‘Negri­nha’, notará, porém, que., por causa disso, uma lágrima a mais brotou nos olhos daquela menina “fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados”.

     

    1. Adiantamento Lobateano

      Desculpa-me. Lobato não “preferia a novidade americana”. Ele era, eu sou e tu és AMERICANOS. Lobato preferiu a novidade estadunidense NAQUELA ÉPOCA anterior à 2ª guerra!!! Outra: não existe nenhum “O conflito politico norte-americano” Existe o conflito político ESTADUNIDENSE” ou Yankee, como apotam na England!

      Fora os detalhes, eu parabenizo o senhor::: seu conhecimento do Nosso Amigo Lobato é muito bom! Bom mesmo!!! Ótima a ligação a Luther King!

      Gostaria de conversar contigo no [email protected]

      Todo esse questionamento da mulher apresenta mais uma face do adiantamento de Lobato: feminista muito à frente do XXI d.C.!!!

      Para esse adiantamento lobateano, proponho leias a crônica LobatoZo editei no  https://zolerzoler.wordpress.com/ Depende de NÓS soerguer Lobato agora (após 05.-07.18) quando ele se faz livre da “netinha” com redes Globos!. Vamos em frente! Escreve-me!!!

      1. Sobre feminismo em Lobato

        Vc já pensou que a Emília é a versao do “super-homem” nietzscheneano de Lobato? Leia a introduçao da Chave do Tamanho tendo isso em vista… Ela evoluiu (Lobato tinha uma relaçao tensa com o evolucionismo, tanto acreditava nele como via problemas) de boneca de pano a gentinha e a alguém além do bem e do mal… Um super homem feminino, e feminista!

  2. Para mim, Lobato foi o inspirador da geraçao de 68

    Que foi a geraçao dos “filhos de Lobato”, a dos jovens que o leram quando criança. E a grande obsessao de Lobato foi a de preparar as crianças para corrigir os problemas que ele via no Brasil de entao. Crianças com amor ao conhecimento – a única característica de “bom comportamento” que ele atribuía sempre às crianças do sítio – e muito nacionalistas, mas nao no sentido “patrioteiro” do nacionalismo, e sim no de amor e preocupaçao pelas coisas do país. Para mim, foi meu pai intelectual, eu nao seria quem sou sem a influência dele. Viva Lobato!

    1. Monteiro Lobato livre e acessível

      Antes, elogio o rótulo que deste a ti mesma: “anarquista”. Cá entre nós: o “lúcida” adicionado ao anarquistra nem é necessário. Se alguém se diz anarquista, CONHECE o significado. A indiferença a pegarem ou não, creio faça parte do anarquismo… Não?

      Tratando do que elogiaste em Lobato, friso concordar e ter NESSA bandeira o motivo por AMAR o magistério!!! Verás a biohgrafia de Minha Mãe: 86 anos dando aula = construindo um povo. Quando as pessoas conscientes se entregarem ao exercício conscientizador, as coisas mudam! Se quem vota não muda, votados não mudarão nunca!

           Vais pegar no Lobato Letrador que a AÇÃO letradora dele DEVE ser continuada por nós: foi seguida por sua vida toda!!!!!!!!!!!

      1. O sentido do “Lúcida” no meu nick nao é um auto-elogio

        Havia um outro anarquista nos sites do Nassif quando comecei, de modo que eu precisava de um diferencial no nick. E eu ficava meio chateada das pessoas me cobrarem posicionamentos que segundo elas nao seriam próprios do anarquismo (como votar, por ex) na situaçao brasileira de hoje. Entao pus o adjetivo para deixar claro que para mim o anarquismo é uma utopia, é como a “cenoura” que faz o cavalo andar, mas sei que nao se aplica no momento. Sou anarquista (na verdade mais neo-anarquista do que anarquista) mas de pés no chao, ligada à realidade brasileira, e nao só aos sonhos (que sao indispensáveis, sonhar é preciso, mas enganam se nao soubermos que sao sonhos). 

    2. Em homenagem aos 70 Anos do falecimento de Monteiro Lobato

      Em homenagem aos 70 Anos do falecimento de Monteiro Lobato, reproduzo o texto publicado no livro “68, a geração que queria mudar o mundo: relatos”, editado em Brasília pelo Ministério da Justiça, Projeto Marcas da Memória – ISBN 978-85-85820-06-0, http://www.justica.gov.br/…/ani…/anexos/livro_68-relatos.pdf )
       

      A Culpa Foi de Monteiro Lobato

      Alfredo Lopes Ferreira Filho

      (texto publicado no livro 68 a geração que queria mudar o mundo: relatos, editado em Brasília pelo Ministério da Justiça, Projeto Marcas da Memória, ISBN 978-85-85820-06-0, http://www.justica.gov.br/central-de-conteudo/anistia/anexos/livro_68-relatos.pdf)

      Embora já com 54 anos de vida em 2007, tenho apenas dois filhos muito jovens e indefesos ainda: Diogo com 17 anos e Fabio com 16. Lembrando meus tempos de adolescente, fico a refletir como era possível conceber que tal juventude pudesse representar, naqueles anos do final da década de 60, há 40 anos, tanta ameaça para os donos do poder, a ponto de serem reprimidos e perseguidos como nos casos que passo a relatar.

      E que não se diga que aquilo foi obra apenas da cabeça de militares. Não, a repressão que se abateu, especialmente voltada contra a juventude, foi obra também de civis, no caso até de juristas e educadores. São casos verdadeiramente inacreditáveis, se vistos sob a ótica desses novos tempos de Estatuto da Criança e do Adolescente, mas que servem para descrever o ambiente carregado que se vivia já desde antes do ano de 1968. Uma situação insólita que fatalmente não poderia deixar de levar a uma radicalização das lideranças estudantis com a adesão, nos anos seguintes, à tese de que só mesmo a luta armada derrubaria a ditadura.

      Vamos aos fatos. No final do ano de 1967, próximo a completar meus 15 anos, talvez por conta de já haver trocado a coleção infantil de Monteiro Lobato pela leitura de sua obra para adultos intitulada O Escândalo do Petróleo e do Ferro, eu deixei meus pais de cabelo em pé quando meu nome apareceu em uma relação nominal de 47 “alunos prejudiciais” ao Colégio Estadual de Pernambuco, o antigo Ginásio Pernambucano da Rua da Aurora.

      Lá, olhando para o Capibaribe, estudavam-se os cursos ginasial (1º grau maior), clássico e científico (2º grau). Quem quisesse aprender as lições alegres do gramático ranzinza Adauto Pontes, fosse para o CEP, o colégio de ensino público mais tradicional da capital pernambucana. Aprendia-se português sorvendo a brisa do rio que inspirara João Cabral. Os rapazes, ali, – não havia moças – viveram o maior foco do movimento estudantil de secundaristas. Secundaristas… Ofendiam-se quando eram chamados de secundários. Da agitação promovida pelas lideranças das correntes Opinião (dos rapazes do PCBR) e Vanguarda (apoiada pela AP) eu tomava parte apenas como massa, conforme o jargão de então.

      Gritávamos contra o menor arranhão sofrido pelos estudantes. Manifestação de rua já resultara, no início do ano, nas primeiras prisões dos estudantes secundaristas Fernando Santa Cruz e Ramirez Maranhão do Vale, ambos, mais tarde, assassinados pela ditadura no Rio de Janeiro. Um dos líderes do colégio, José Eudes de Freitas, tornou-se tão conhecido da polícia que teve que fugir para o Rio de Janeiro. Na década de 80, virou deputado federal, um dos três expulsos do PT por ter votado em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral de 1985.

      Após juntar declarações de alguns professores catedráticos atestando minha boa conduta e bom desempenho escolar, inclusive do vice-diretor, o conceituado professor Manoel Heleno, meu pai protocolou carta ao Secretário de Educação questionando os motivos da recusa à renovação da minha matrícula. Mas tive, mesmo, que estudar em outro colégio.

      Em 1969, quando cursava o 2º ano científico no Colégio Estadual Historiador Pereira da Costa, colégio fundado por pressão do movimento estudantil devido à falta de vagas no Colégio Oliveira Lima, a história se repetiu de forma ainda mais grave. Logo no primeiro semestre, em 26 de maio, ocorrera o assassinato, pelos órgãos de repressão, do Padre Antônio Henrique Pereira Neto, responsável pelo trabalho pastoral da Igreja com estudantes e diretamente ligado ao arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara. Grupos de estudantes secundaristas, organizados na ARES (Associação Recifense dos Estudantes Secundaristas) e na UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) participavam ativamente da denúncia do assassinato e da mobilização para a passeata de protesto, a ocorrer no funeral.

      Íamos de sala em sala, com licença dos professores, fazer a denúncia e chamar os estudantes para o cortejo fúnebre que acabou se tornando um grande ato de protesto contra a ditadura militar. Diante da fúria da repressão, a solução era a organização de comícios-relâmpagos, como o realizado no centro da cidade por ocasião da visita ao Recife da diretora da UNE, Doralina Rodrigues. Lembro da minha participação naquele dia. Curiosamente, me puseram de segurança, com a missão de, apenas com os atributos de um magricela de parcos 53 quilos, acompanhá-la e evitar a qualquer custo sua prisão. Boa tática essa, vejo agora. Repressão nenhuma acreditaria que uma pessoa importante se acompanhasse de um segurança como eu.

      O fato é que certo senhor Gentil Tiago de Moura, diretor do colégio onde eu estudava, explicou a meus pais, perplexos, que em razão do meu subversivo voluntarismo, agravado pela agitação que eu e companheiros fizéramos em sala de aula também ao denunciar o atentado em 28 de abril contra o então presidente da UEP (União dos Estudantes de Pernambuco), estudante de engenharia Cândido Pinto de Melo, que o deixara paraplégico aos 21 anos, que eu, em razão desses gravíssimos atos, estava sendo expulso do colégio, com apenas 16 anos, juntamente com outros sete colegas, na metade do ano letivo.

      O ódio a tais jovens era tamanho que, para impedir nossa transferência para outro estabelecimento de ensino, o então Diretor de Ensino Médio, Edson Rodrigues de Lima, sigilosamente, enviou a toda a rede estadual de ensino médio, textualmente, a mando do então secretário de Educação, Roberto Magalhães (posteriormente governador de Pernambuco), o ofício-circular 20/69, de 22 de julho. Esse ofício proibia nova matrícula dos oito alunos: Ramires Maranhão do Valle, Alfredo Lopes Ferreira Filho, Genezil Aguiar Coelho Moura, Geraldo Sobreira Liberalquino, José Sebastião Lins, Judas Tadeu de Lira Gabriel, Lília Maria Pinto Gondim e Paulo Fernando Magalhães Santos. Este último, ainda mais jovem que eu, com apenas 14 anos. Até hoje, Paulo Fernando não conseguiu concluir o ensino médio. Uma matéria de memória política do Jornal do Commercio ilustra os fatos com este título – 477: É proibido estudar – JC 13/05/01 – http://www2.uol.com.br/JC/_2001/1305/po1305_6.htm.

      Estávamos, sem direito a defesa, até por desconhecermos o secreto ato oficial, a mando de um jurista, cassados por um expediente ilegal, mesmo sob a ótica das leis de exceção vigentes. O decreto 477, que cassava com rito sumário estudantes, professores e funcionários, era geralmente aplicado apenas aos universitários. Fora criado em fevereiro de 1969. Quase o inauguramos…

      Não foi à toa que a escolha de Roberto Magalhães (que apoiara tão ativamente a repressão do regime de 64) como vice na chapa de Mario Covas para a Presidência da República, em 1989, não foi bem recebida pelos correligionários do próprio PSDB pernambucano. Na ocasião, a deputada Cristina Tavares (PSDB-PE) chegou a renunciar à vice-liderança na Câmara Federal e manifestou apoio ao candidato Leonel Brizola, junto com outros peessedebistas dissidentes. Magalhães acabou tendo que renunciar à sua candidatura.

      Aquele decreto 477 que inspirou a punição aos oito jovens secundaristas, nesse ponto, era maquiavélico. Ao proibir as lideranças estudantis de continuar os estudos, os militares, ao tempo em que diminuíam a mobilização contra a ditadura nas escolas, propositalmente empurravam os líderes para a radicalização da luta armada, para depois caçá-los e assassiná-los nos porões do regime ou nas florestas do Araguaia. A título de exercício de combate ao comunismo, era preciso fabricar inimigos com o intuito de pôr em prática o que eles haviam aprendido nas escolas militares americanas.

      Para Ramires Maranhão do Valle, o afastamento da escola levou à radicalização de sua participação na luta contra a ditadura. Considerado um dos líderes da agitação que havia tomado conta do colégio e orador de um comício-relâmpago que a UBES organizou na ocasião, Ramirez foi também denunciado à polícia. Caçado, passou aos 18 anos para a clandestinidade. Mais tarde, em 1973, recebemos a notícia chocante do seu “desaparecimento”.

      Além de Fernando e Ramirez, outros líderes secundaristas pernambucanos também tombaram na luta contra a ditadura, como Almir Custódio de Lima (da Escola Técnica Federal de Pernambuco) e Lourdes Maria Wanderley Pontes, esposa do líder estudantil no Pernambucano, Paulo Pontes. A vida na clandestinidade, quase sempre fora de seu estado natal, elevava muito o risco de esses estudantes serem mortos de forma cruel pela repressão, uma vez que se encontravam longe da presença da família e dos colegas de escola. Roberto Franca Filho, secundarista preso em 69 aos 18 anos, posteriormente Secretário de Justiça durante o governo Arraes, avaliando um período quando a tortura nas prisões ainda não havia se disseminado totalmente, chegou a afirmar em depoimento:

      – Minha prisão em 69 me salvou da clandestinidade. Porque muitos assumiram essa condição, por imposição do sistema. O sistema não dava mais retorno, como nos caso de Ramirez, Paulo Pontes e outros. Pessoas que não podiam mais ter uma vida normal, porque a ditadura não permitia isso. A alternativa era a clandestinidade e a luta armada. O sistema impôs essa ida sem retorno e precisava dos “subversivos” para se justificar.

      Ele, Eridan Moreira Guimarães e minha colega expulsa do Pereira da Costa, Lília Maria Pinto Gondim, haviam sido presos em julho de 69 com outras duas secundaristas, as menores Inês e Carol, em uma ação de pichamento de ônibus nas ruas do Recife contra a vinda de Rockfeller ao Brasil. Todos eram tão jovens que quando apareceu um policial, na fuga, as garotas não desgrudaram do rapaz. Correram e entraram em um ônibus. O policial entrou e gritou para o motorista não abrir a porta. O motorista desobedeceu. Os cinco desceram correndo, seguidos pelo policial. Entraram em uma casa, saíram, entraram em outra, depois, sempre juntos, apanharam um táxi, o policial tomou outro táxi e continuou a perseguição. Quando, obedecendo a um sinal de trânsito, o táxi parou, o único policial prendeu os cinco. Os maiores foram julgados e condenados a um ano sob a ridícula acusação de “agressão a uma nação amiga”. Depois de 10 meses de prisão, foram absolvidos como resultado da apelação ao Supremo. Hoje essa história é motivo de riso. Seus filhos e sobrinhos não imaginam como alguém podia ser enquadrado na Lei de Segurança Nacional simplesmente por pichar.

      Como disse no começo, olho hoje para meus dois filhos e não consigo imaginá-los tão perigosos, tão terroristas, como disseram de mim quando eu tinha a idade deles. Uma possível explicação é que era muito perigoso, em 1967, ler Monteiro Lobato. Hoje, assistindo ao emocionante filme Zuzu Angel, fico relembrando o esforço que a minha mãe também teve que fazer, até me escoltando na fuga, para tentar evitar que eu, seu filho, caísse na arapuca e tivesse o mesmo triste fim do filho da Zuzu, Stuart.

       

  3. MONTEIRO LOBATO. PAULISTA. BRASILEIRO. GIGANTE

    Antes de Fascistas e seus Lacaios já fomos Vanguarda do Mundo. Republica Liberal formada pelo Povo e Elite Intelectual projetada sobre as Catedras da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Elite  Negra, Mulata, Branca. Elite Intelectual Brasileira. O Mundo corria e desesperava-se por ter uma parcela desta Cidadania. Nunca mais. Nunca mais MONTEIRO LOBATO. Nuca mais Castro Alves. Nunca mais Olavo Bilac. Nunca mais Rui Barbosa. Nunca mais Machado de Assis. Nunca mais Luiz Gama. Nunca mais Cruz e Souza. Ter um Presidente Negro era naturalmente lógico. Igual entre Iguais. Sem estardalhaços ou vitimizações. Nunca mais Nilo Peçanha. Esta Obra deve mostrar o que se perde quando no lugar do Magnifico, do Extraordinário, da Ordem e do Progresso se contrapõe a latrina, o fanatismo ideológico, a ditadura, o atraso, a barbarie. Deve explicar estes 88 anos que nos restaram. Da Genialidade só poderia vir tamanha Obra, dentre elas a Brasileira Petrobrás. 

    1. GENIALIDADE TROCADA POR FANATISMO IDEOLOGICO E OUTRAS IMBECILIDA

      ” O Presidente Negro / 1926″. Um Homem a frente do seu tempo. Ou talvez um Homem que percebeu o abismo entre seu país que já possuia Presidente e Elites Negros, frente à barbarie racial exercida nos EUA ( e alguns fanáticos ainda usam tal país como exemplo. Também seu modelo de Cotas. 88 anos de mediocridades. Brasil de fácil explicação)

    2. brasil
      Por favor, se me receberes, responde para [email protected] Haveria muito a comentar. Oberas esclarecedoras existem também no Brasil desde Pedro.II.
      Acontece um detalhe mórbido nesse povo: fala e escreve muito e não CONSTRÓI nada!!!
      AMO o ilustrador das capas de Lobato Letrador (deslumbrar-te-ão) por ter as ideias dele bem contrárias às minhas DEFENDIDAS com força, COM AÇÃO!!!!!!!!!!!

  4. Viva Lobato!

    Ótima notícia.

    O Lobato “apenas” escritor para crianças é uma redução. Caso semelhante ocorreu e ocorre com Mark Twain nos Estdaos Unidos.

    Restam duas perguntas:

    1. Será que na divulgação do Lobato integral sobrou espaço para o incentivador de Lima Barrteo, quando tudo parecia perdido para o maior rebelde da literatura do Brasil?

    2. O preço de 200 reais é muito caro. Não haverá algo mais acessivel para o bolso dos professores brasileiros?

    1. Lobato e Twain

      Agradou-me seu nome. Parabéns!

      Fui verificar a presença de Twain:

      Lobato traduziu As Aventuras de Huck de Mark Twain;

      Lobato elogia Mark Twain no artigo telepatia  = obra rara e constante do 4º volume = anexos Lobato.28 p.79 

      O preço foi determinado por meu editor. Mas, desculpe-me: a obra merece. Foi impossível fazer por menos. O material que usamos nas mais de 1000 páginas impôs o preço. Desculpe-me: meu $ advém da maravilha do magistério. Dizem que ganham pouco. Sempre achei que sobra como pagamento pelo PRAZER de ministrar. E, realmente, haverá $ sobrando desde que estabeleçamos nossos prioridades.

      Eu distribuo Monteiro Lobato RESUMIDO. Se o senhor enviar seu endereço postal[email protected] para envio várias unidades pelo correio postal. Boa noite

  5. Precisamos de mais Lobatos neste país!

    Finalmente sua obra entrará em domínio público, por isso esta “liberdade póstuma”. Lobato é um ícone para todos nós, lutou por um Brasil melhor. Ensou ansiosa para conferir este lançamento. E viva Monteiro Lobato!

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